A Herdeira - Os Lobos de Ester



Janice Ghisleri
A herdeira


Prólogo

Irlanda, 2003.

Noah, Liam e Konan desceram a montanha em uma corrida desenfreada. Em forma de lobos, eles eram muito rápidos. Os gritos e a confusão que podiam ouvir e visualizar acontecendo na sua vila eram angustiantes.
Seus amigos e familiares corriam de um lado para o outro tentando escapar dos dardos tranquilizantes que o imenso grupo de mercenários atirava.
De um lado, os lobos atacavam e mutilavam os humanos; de outro, um por um dos lobos eram abatidos.
Tudo era um pandemônio.
Noah saltou sobre um dos mercenários, lhe rasgando a garganta e rosnou alto em fúria, então em meio aos gritos e uivos, ouviu um uivo de socorro que lhe atordoou. Ele visualizou Laila, em forma de loba, correndo para o penhasco, por isso Noah mudou sua direção e correu até ela.
Atrás dela havia quatro homens em um jipe, que atiravam com um rifle contendo dardos de tranquilizantes. Noah uivou de raiva e avançou, pois precisava ajudar sua companheira. Iria matar aqueles humanos que ousaram invadir sua vila. Como tinham descoberto sobre eles? Agora, os humanos os estavam caçando e eram muitos.
Um dos dardos tranquilizantes atingiu Laila e ela cambaleou, mas continuou correndo. Ela tentou pular as pedras, quando mais dois dardos a atingiram.
Por estar sobre pedras soltas e atordoada pelo tranquilizante, Laila escorregou sem conseguir firmar as patas e caiu no penhasco; embaixo, as pedras eram afiadas e Noah somente ouviu um choramingo e o silêncio.
Ele grunhiu ferozmente e atacou os humanos, que haviam descido do jipe para olhar o penhasco.
Noah pulou e rasgou a garganta de um deles, depois saltou sobre o outro; dois deles atiraram vários dardos, que o atingiram no corpo. Ele ainda lutou, ferindo-os quanto pôde, mas o sedativo era tão forte que era impossível continuar lutando; então dois homens chegaram com mais dardos.
Quase inconsciente, Noah rastejou na beirada do penhasco e a última coisa que viu antes de desmaiar, foi Laila caída sobre as pedras, nua e com o pescoço quebrado. O sangue saía de sua boca e estava com os olhos abertos e aterrorizados.
A alma de Noah morreu. Sua companheira e o filho que ela esperava no ventre estavam mortos.
Ele nunca amaria novamente.
Isso era o que ele pensava, até aparecer... a herdeira.
Capítulo 1
Oldemburgo, Alemanha, 2013.
Ester olhou boquiaberta para a mansão. Nunca imaginaria que, nos arredores de Oldemburgo, existia uma área tão arborizada e com uma propriedade tão rica escondida no meio dela.
A casa parecia muito com um castelo medieval, construída em pedra. Na frente havia uma gigantesca fonte redonda de pedra com uma estátua de uma mulher, que parecia uma viking, ou algo semelhante. Realmente parecia muito antiga, e ela sentiu um frio percorrer sua espinha.
Ela olhou ao redor e não viu nenhum movimento, então respirou fundo e procurou a campainha, mas não encontrou. Porém, franziu o cenho quando percebeu que teria que usar uma aldrava com a cara esculpida de um lobo.
Já sabiam que ela estava ali, pois teve que falar em um interfone que tinha uma câmera, e depois alguém abriu o enorme portão eletrônico. Ela deu de ombros e bateu com a aldrava. Aquelas pessoas não conheciam campainha?
Logo, uma senhora um pouco rechonchuda e com cabelos grisalhos abriu a porta.
— Olá, eu sou a Dra. Ester Klaus, a veterinária. Eu estou aqui porque recebi uma chamada na minha clínica de que havia um animal ferido.
— Ah sim, venha por aqui — disse a senhora movimentando a mão. — Eu me chamo Dada.
— Prazer em conhecê-la, Dada.
Ester seguiu a senhora que andava apressada e subiram umas escadas enormes.
— Você é mais bonita pessoalmente — disse e sorriu para Ester.
— Desculpe, eu não entendi.
A senhora resmungou algo que Ester não entendeu. Ia perguntar o que ela havia dito, mas, então, a senhora abriu a porta de um quarto.
— Vamos, entre. — Ester entrou no quarto e paralisou. — Veja, ele feriu a pata. Pelo que vimos, ela está quebrada.
Ester ficou boquiaberta quando olhou para uma cama de casal gigantesca com dossel, e avistou um enorme lobo negro deitado sobre ela, com a cabeça sobre o travesseiro.
Ester sentiu o medo lhe atravessar o corpo e ficou parada como uma estátua, e seus dedos doeram apertando a alça de sua maleta médica.
— Meu Deus, isso é um... lobo? — Ester sussurrou.
— Sim. Não se preocupe, ele não vai atacá-la. É mansinho, não é, Luca? — a senhora disse acariciando a pelagem negra e com algumas mechas brancas. Era muito brilhante, ele
virou a cabeça e choramingou.
— Como vocês têm um lobo domesticado? Deitado numa cama? — Ester perguntou extasiada.
Ela sempre fora apaixonada por lobos, tinha diversas fotos em seu computador e gostava de ler sobre eles, sua vida selvagem, onde viviam, seus costumes e, claro, adorava ver filmes de lobisomens. Inclusive, seu animal de estimação era um Husky Siberiano por ser muito parecido a um lobo. Seu nome era Thor, um adorável e fiel companheiro, e ela o amava profundamente.
— Ele foi criado pelo Dr. Klaus desde novo, é um filhote mansinho e adorável. Ele aventurou-se pelas pedras da encosta. Mesmo sabendo que seria perigoso, ignorou todas as advertências, caiu e quebrou a pata. Luca tem muita energia e curiosidade. Gosta de brincar e, infelizmente, ele se acidentou. O Dr. Klaus cuidava pessoalmente deles quando se feriam ou algo estava errado, mas, agora que ele morreu, precisamos de uma médica, quer dizer, uma veterinária, bem ou algo do tipo... Você vai ser mais útil do que imaginamos.
Ester tentou prestar atenção em tudo o que a senhora disse, mas se fixou em algo.
— Ele é um filhote? Deste tamanho? Creio que a senhora deve estar enganada. É impossível um filhote ser deste tamanho. Ele é até maior do que um adulto deveria ser! E o que disse? O dono desta casa se chamava Dr. Klaus?
Ester olhou estranhamente para a senhora, não entendendo exatamente o que a mulher falava. Devia ser meio louca, pois não falava coisa com coisa.
A cada segundo, Ester estava mais e mais atordoada. Parecia que havia entrado em um mundo paralelo.
— Sim, senhorita, depois isso será explicado. Agora, você precisa cuidar da pata de Luca, porque ele está com muita dor.
— O lobo chama-se Luca? Que tipo de nome é este para um lobo?
— Ficaria espantada se eu lhe dissesse.
Ester se aproximou do lobo e ele choramingou novamente. Ela passou levemente a mão em sua pelagem e viu que era muito macia. Ester olhou bem para ele e ficou boquiaberta com a cor de seus olhos. Era um âmbar brilhante, cor de ouro.
— Ele é enorme, nunca imaginei que um lobo poderia ser deste tamanho.
— Todos eles são e, acredite, são bem maiores. Como eu disse, Luca é um pequeno moço.
Ester olhou para ela espantada.
— Há mais dele?
— Sim. Por favor, moça, a perna dele, quer dizer, a pata. Ele está com dor. Dei medicamento para amenizar a dor, mas ele não fez efeito, o metabolismo dele precisa de algo muito forte, e eu não sei mexer nestas coisas. Eles toleram bem a dor, mas Luca é só um menino. Quem cuidava disso era o doutor, mas agora que se foi, Erick disse que era hora de chamá-la.
— Ok... — Ela olhou para o lobo, meio perdida. — Olá, bonito. Vou cuidar de você, está bem? Fique tranquilo que não vou machucá-lo. Vou aplicar uma injeção de sedativo, que vai fazer sua dor passar rapidamente e, então, vou ver sua pata.
Ela abriu sua maleta e preparou uma seringa.
— Este é o sedativo mais rápido e eficiente para sua dor. Logo, ele ficará bem.
Após alguns minutos o lobo parou de choramingar e adormeceu.
— Eu deveria levá-lo à clínica, precisaria tirar raio-X para ver a gravidade da lesão.
— Raio-X? Acho que tem uma máquina disso lá embaixo, onde o doutor tinha sua clínica. Pedirei ao Erick que o busque. Venha comigo e lhe mostrarei.
Ester a seguiu e desceram as escadas. A senhora meteu a cabeça dentro de uma sala e falou alguma coisa para que alguém levasse Luca ao laboratório. Logo desceram uma escada para outro andar.
Ester ficou boquiaberta com o lugar, era basicamente uma clínica médica, que tinha vários aparelhos muito sofisticados.
— Veja, moça, acho que é esta máquina aqui, não? — disse mostrando um imenso aparelho sobre uma maca.
— Oh Deus, sim é esta. Quem me dera ter uma dessas na minha clínica.
— Poderá usufruir muito dela agora, quer dizer, espero que não, pois isso significaria mais patas quebradas. — A senhora riu. — Vá, vá, eu vou para a cozinha preparar um chá fresquinho para a senhorita.
Ester ia dizer que não precisava, mas a senhora saiu da sala, então foi mexer na máquina de raios-X, que para sua sorte era uma parecida com a que tinha na sua clínica, só que maior e mais sofisticada. O raio-X era automaticamente mostrado em um painel digital, dispensando as chapas e painéis luminosos. Ela estava entretida com sua análise, porém, quando ouviu um barulho vindo da porta, se virou.
Ela ficou atordoada e deu um passo atrás, batendo em uma mesinha que estava encostada na parede, quando um homem enorme, usando um rabo de cavalo e óculos escuros, entrou na sala, carregando Luca desacordado nos braços.
Ele o deitou suavemente na mesa, passou a mão em sua cabeça e ficou no canto da sala com os braços cruzados, sem dizer uma palavra, porque estava carrancudo. Ester não conseguia tirar os olhos dele, deveria medir quase dois metros de altura.
Os músculos de seus braços eram enormes, e a camiseta preta agarrava seu corpo como uma segunda pele. Ela pôde perceber que seu cabelo era loiro com mechas largas de castanho, e era comprido até o meio das costas e liso. Era um deus.
Ester engoliu em seco e forçou-se a falar:
— Olá, eu sou Ester, a veterinária — disse timidamente.
— Sei quem você é, eu sou Kirian — disse sem demonstrar sequer uma emoção na face.
— Por que vocês possuem esta clínica aqui? Estes aparelhos são muito caros.
— O doutor cuidava de todos nós aqui mesmo. Para ele tudo tinha que ser do melhor para os lobos.
— Há muitos lobos aqui?
— Alguns.
Apesar de todo seu espanto, Ester tirou o raio-X, examinou as imagens geradas no painel digital e com cuidado imobilizou a pata do lobo com uma tala.
— Pronto, está acabado. Agora ele deve descansar em sua cama... Bem, eu não sei onde ele ficará, ele tem um local para dormir?
— Ele voltará para o seu quarto.
— Para a cama de dossel? Mas vai deixá-lo ficar ali?
— É o seu quarto.
O gigante se moveu sem que ela pedisse, pegou Luca no colo novamente e ia saindo da sala quando parou.
— Vá até a biblioteca, Erick quer conversar com você — ele disse e saiu.
Todos eram meio doidos naquela casa. O que era aquele homem, um guarda-costas?
Ester suspirou e guardou suas coisas na maleta e seguiu para o andar de cima onde deveria ser a biblioteca.
Ela bateu na porta fechada e esperou até que um homem a abriu, ostentando um sorriso enorme. Ester literalmente abriu a boca de espanto. O homem era enorme e lindo. Automaticamente, ela deu um passo atrás.
— Finalmente nos conhecemos, Dra. Ester Klaus. Sou Erick, o advogado de Herbert Klaus e beta de Noah.
Ela olhou para ele com os olhos arregalados.
— Hum... Muito prazer. Bem, o que exatamente é um beta?
— O segundo no comando. Entre, por favor.
Ela engoliu em seco, entrou e olhou ao redor percebendo que se tratava de uma imensa e decorada biblioteca, lotada de livros.
— Comando de quê? E quem é Herbert Klaus? Que coincidência, meu pai se chamava Herbert Klaus.
— Sou o advogado de seu pai.
— Você é o advogado de meu pai? — Ela soltou uma gargalhada, incrédula.
— Não estou brincando, doutora. Isto é sério. Sente-se.
Ela parou de rir e sentou-se na cadeira, cruzando os braços. Bem, tudo estava louco mesmo, um pouquinho a mais nem faria diferença.
— Bom para você. Então, isso foi um engodo? Por que me procurou? Meu pai está morto há mais de oito anos.
— Bem, como você viu, Luca realmente precisava de um médico. E quanto ao seu pai, eu lamento dizer isso, mas ele morreu há duas semanas. Esta era a sua casa.
Ela literalmente abriu a boca, aturdida.
— Isso é mentira!
— Sinto muito, mas é verdade. Ele forjou sua morte e tem vivido escondido desde então. Escolheu morar aqui onde a senhorita vivia. Queria ficar por perto, mesmo sem falar com você. Mas ele usava outro nome para o mundo, usava o nome de Herman Klain. Somente nós o chamávamos por seu verdadeiro nome.
— Espere aí! — ela disse levantando-se da cadeira. — Quer dizer que meu pai morava na mesma cidade que eu e nunca me procurou? Quer dizer que a morte dele foi uma mentira? — perguntou incrédula.
— Há muitas coisas que precisa saber, senhorita Ester.
— Para começar, não me chame de senhorita, me chame de Ester.
— Tudo bem, Ester.
— Olha, isso é uma piada?
— Não. Seu pai teve motivos fortes para forjar sua morte. E a morte dele há duas semanas foi inesperada. Ele teve um ataque cardíaco fulminante durante a noite e não pudemos fazer nada para salvá-lo. Mas ele tinha um testamento e eu estava ciente de sua existência. Você está aqui porque precisa ocupar o lugar dele.
— O quê? Ocupar o lugar dele? Ele não queria saber de mim em vida e acha que vou cuidar de alguma coisa dele? Ora, não me conhece mesmo, senhor.
— Quando você ouvir tudo o que tenho a dizer, vai entender as razões de seu pai.
— Não quero saber de suas razões! Nada justifica o que passamos por causa da sua ausência. Quer dizer que ele vivia nesta mansão, tão perto de nós e nem sequer quis saber se precisávamos de alguma coisa?
— Ele deixou muito dinheiro para sua mãe.
— Dinheiro? Não estou falando de dinheiro! Minha mãe precisava dele, eu precisava dele! Era muito nova ainda quando ele nos abandonou. Forjou sua morte?! Tem alguma ideia do quanto choramos num túmulo que pensávamos que era dele? Quem eram aquelas pessoas que estavam no carro que pegou fogo?
— Ester, seu pai estava envolvido com algo muito grande e perigoso, por isso ele precisou sumir no mundo. Ele pensou que, forjando sua morte, era a maneira mais segura de proteger vocês duas. Ele pretendia se aproximar de você, sendo que já era uma mulher adulta e podia assumir a responsabilidade dele. Ele ficou muito feliz quando soube que você havia escolhido ser uma médica veterinária. Tinha orgulho de você. Não se preocupe que aqueles que estavam no carro eram do lado do mal.
— Não me interessa a responsabilidade dele! Nada no mundo pode ser mais importante do que a família! Ano passado, quando minha mãe morreu, ele nem estava lá para me consolar!
— Seu pai soube de sua mãe e, acredite, foi até o túmulo dela deixar flores e ficou de luto. Morreu de preocupações por você. Ele amava sua mãe, mas precisava ficar longe para protegê-las.
— Proteger-nos do quê?
— Por favor, sente-se, eu vou lhe explicar, mas você precisa entender que isso deve ser mantido em segredo absoluto e seria muito bom se viesse morar aqui.
— O quê? — perguntou aturdida.
— Erick?
Os dois se viraram e Ester ofegou quando avistou o homem parado na porta. Ele era muito alto, com quase dois metros de altura, estava vestido todo de negro e era muito másculo. Tinha uma tatuagem de um lobo no braço.
Era extremamente bonito e tinha os olhos verdes tão claros que pareciam translúcidos, de uma beleza que ela nunca tinha visto. Seus cabelos eram negros e compridos com uma mecha branca do lado direito. Era como uma visão.
— Sim, Konan? — Erick perguntou.
— Konan? Tipo Conan, o bárbaro? Isso é o quê, um clube de gigantes vikings?
Erick riu e ela olhou aturdida para ele. Ela tinha entrado no paraíso, pena que eram todos loucos.
— Conan, o bárbaro, esta é uma nova visão sobre você, Konan. — Erick disse, rindo ainda mais. — A propósito, Conan era sumério.
Ester bufou e podia jurar que o homem na porta rosnou. Ele olhou atentamente para Ester e ela sentiu um frio lhe percorrer a espinha. Ele exalava poder, e ela sentiu medo.
— Quem é ela? Parece-me familiar.
— Konan, esta é Ester Klaus. Veio tratar de Luca.
— A herdeira?
— Sim.
— Bem que o pai disse que ela era formosa, mas tem cabelo diferente das fotos. Pensei que a herdeira fosse loira.
Pai?
— Meu pai era seu pai? — Ester perguntou irritada.
— Konan, assim como os outros, são protegidos de seu pai. Nós o chamávamos de pai, porque sentíamos carinho por ele.
Ela ia fazer outra pergunta quando Konan desviou o olhar dela para Erick.
— Erick, temos um problema. As câmeras de segurança do bosque e da estrada principal estão desligadas, precisamos arrumar isso imediatamente. Preciso que entre com a senha nova que Harley criou para acessar os computadores de segurança, pois ele não está. E a propósito, Noah acabou de chegar.
— Certo, irei ver sobre a senha.
— Ele mandou chamá-la?
— Não, ainda tenho que comunicar Noah sobre ela estar aqui.
— Acho que ele não vai gostar disso.
Erick grunhiu assustando Ester.
— Por favor, Ester, eu peço um minuto para resolver isso e já voltarei para continuar nossa conversa.
Ao saírem, Konan a olhou atentamente e lhe sorriu. Sorrindo, o homem era deslumbrante. Ele tinha covinhas na bochecha e Ester quase suspirou, se não estivesse tão aturdida.
— Bem-vinda à sua nova casa, Ester.
Ela ficou boquiaberta quando eles saíram.
— Minha casa? Essa gente é louca? — Ela olhou para o relógio e gemeu. Precisava se apressar, tinha clientes para atender na clínica veterinária. Ela bufou e pegou sua maleta. — Esperar uma ova. Danem-se vocês, eu não quero ouvir mais nenhuma besteira. Minha casa é minha casa, foda-se!
Ela seguiu pelo corredor e, sem olhar para trás, saiu pela porta da frente e entrou em seu carro.
Soltando palavrões e amaldiçoando seu pai por ter enganado sua mãe e ela, deu meia volta no seu furgão, que usava para transporte de animais feridos até a clínica e pegou a estrada para a saída. Esta era rodeada dos dois lados por árvores e era longa. A propriedade realmente era enorme.
Estava ainda com seus pensamentos fervilhando quando, de repente, um animal apareceu no meio da estrada. Era outro lobo, e era enorme. Ela gritou e desviou o furgão para não atingi-lo. Perdendo o controle da direção, entrou no bosque e bateu num tronco.
A sorte é que Ester não estava correndo muito e o cinto a protegeu de bater contra o volante. Seu coração estava descompassado e estava atônita. Olhou pela janela para ver o lobo, mas ele não estava mais ali. Ela tentou ligar o carro para sair, mas ele não ligou.
— Droga! — disse furiosa e bateu com as mãos no volante. — Meu Deus, que dia estranho. O que mais falta acontecer? Eu vou ter que voltar para a casa e pedir um táxi, porque a burra aqui saiu apressada e não trouxe o celular. Inferno!
Ester saiu do furgão, bateu a porta furiosa e começou a andar. Ela parou com um susto quando avistou na sua frente o lobo de cor caramelo e marrom, com alguns fios prateados e brancos sobre suas orelhas. Era deslumbrante, enorme e parecia bravo. Ele rosnou para ela e mostrava os longos e afiados caninos. Ele era realmente enorme e Ester viu toda sua vida passar diante de seus olhos. Ia atacá-la.
— Calma, lobinho. Não precisa ficar bravo comigo. Se você me deixar passar, logo sairei da sua propriedade. Veja bem, não sou uma intrusa, fui convidada para cuidar de outro lobinho ferido, Luca, que deve ser seu amigo.
Ele rosnou novamente e deu um passo à frente.
— Droga!
Ester virou e começou a correr pelo meio do bosque, mas não foi muito longe. Ela ouviu um rosnar ensurdecedor e algo chocou contra suas costas. Ela caiu no chão e rolou de costas, e uma pata com garras afiadas lhe cortou a blusa. Ela pôde sentir a pele cortar e viu tudo escurecer.
Capítulo 2
Ester tentou abrir os olhos e piscou algumas vezes para recobrar a consciência. Seus braços estavam levantados por cima de sua cabeça; ela os puxou, mas percebeu que estava presa. Olhou ao redor rapidamente para se localizar e se assustou por ver que estava sentada em uma cama, escorada em vários travesseiros.
Sua blusa e o jaleco estavam abertos e rasgados, e seu peito sangrava. Havia um corte longo entre os seios e um menor ao lado, não parecia profundo, mas os fios de sangue escorreram até sua barriga. Ester sentiu o pânico correr através dela e choramingou, tentando soltar-se. Puxou fortemente as mãos e as torceu para sentir os pulsos ferirem.
Ela ouviu um rosnado e olhou assustada para o canto do quarto e viu que havia um homem acocorado, que a olhava sério. Ela abriu a boca e ofegou. Ele era a coisa mais linda que já tinha visto na vida. Apesar de ela estar apavorada por estar amarrada a uma cama e ter um estranho a espreitando, o choque de ver aquele homem fez o cérebro de Ester entrar em curto-circuito.
Ele tinha os cabelos longos e castanhos com mechas largas de cor caramelo e uns fios mais dourados, enquanto outros eram prateados, e ostentava uma barba por fazer. Ele tinha os olhos mais incríveis que já vira, de um azul muito claro. Eram até mais incríveis do que os de Konan. Sua pele era dourada como se fosse bronzeado do sol e era musculoso, muito grande. Parecia muito alto, mas não tinha certeza de sua altura, até que lentamente ele se levantou.
Ela ficou boquiaberta com sua altura, beleza e com sua masculinidade tão fora do comum. Ele tinha uma cicatriz que passava pela sobrancelha e caía sobre a maçã do rosto e aquilo o deixava ainda mais sexy.
Ao redor de seu braço direito havia uma tatuagem tribal, não sabia o significado, mas tinha um estilo celta. Ele estava descalço e a única coisa que usava era uma calça de couro preta, que só evidenciava suas coxas musculosas.
Ester não sabia o que aconteceria, mas teve a certeza de que aquele deus grego de aproximadamente dois metros de altura iria revirar seu mundo, de um jeito ou de outro.
Quando ela conseguiu sair do estupor da visão deslumbrada daquele estranho, percebeu que estava em uma grande enrascada. Finalmente ela conseguiu voltar à realidade, e essa lhe caiu como um balde de água gelada. Ela estava presa em uma cama com um estranho, e isso era muito ruim.
— Quem é você? Solte-me — Ester sussurrou.
— O que está fazendo aqui?
Ele tinha a voz muito grave e Ester assustou-se com o som dela. Foi como se um trovão retumbasse em seus ouvidos. Ela entrou em pânico. Aquele deus ia matá-la, torturá-la, estuprá-la? Ela puxou as mãos com força e olhou para cima, estava presa com uma faixa de tecido na cabeceira da cama.
Ele deu um passo à frente, agachou um pouco e saltou sobre a cama, ficou sobre as suas pernas e quase encostou o nariz no dela.
Um grito involuntário saiu da boca de Ester e ela prendeu a respiração, olhando-o com
os olhos muito arregalados.
— Shhh, não puxe suas mãos assim, vai ferir-se. O que está fazendo aqui? Responda-me.
Ester engoliu em seco e tentou encontrar sua voz.
— Eu sou veterinária. O Sr. Erick me chamou — disse rapidamente.
— Mentira, Erick não a chamaria.
— Sou médica, juro. Vim aqui cuidar de um lobo ferido, o chamam de Luca, estava com a pata quebrada. E um lobo me atacou no bosque quando eu estava indo embora. Você me salvou dele?
— Não a salvei, linda — ele disse e tocou seu rosto.
Ester se surpreendeu com a delicadeza de seu toque.
Noah estava enfeitiçado por sua beleza, tê-la ali, na sua frente, o estava deixando louco, mas ele estava tentando dominar seu ódio. Ia matar Erick por ter provocado tudo aquilo. Deveria mandá-la embora o mais rápido possível. Tinha-a prendido na cama para deixá-la imóvel, não queria que ela se assustasse mais do que já a tinha assustado e acabasse se ferindo mais, na ideia torpe de fugir.
Tinha que cuidar do ferimento que havia infligido nela, seu remorso o estava matando e ao mesmo tempo sentia vontade de beijá-la. Estava confuso com a enxurrada de sentimentos que o assolavam.
Noah percorreu lentamente seu corpo com o olhar. Ela era perfeita, seios cheios, cintura fina e quadris largos. Sua pele era branca e lisa, macia e perfumada, e o estava deixando duro como uma rocha. A única coisa que rolava pela sua cabeça era saboreá-la.
Ester se apavorou quando o viu olhá-la com tanto desejo, estava exposta, somente de sutiã, para um gigante desconhecido.
— Uma coisa que deve aprender sobre lobos. Nunca fuja de um, isso somente vai atiçar seu instinto de predador, ele vai caçá-la.
— Por favor, não me machuque. Eu vim aqui cuidar de um lobo ferido. Aqui é a propriedade de Herbert Klaus, não é? Erick me chamou. Por favor, solte-me. Herbert era meu pai!
Ele se aproximou mais, sentando sobre suas coxas e colocou o nariz em seu pescoço. Ester ficou rígida, ofegou e prendeu a respiração.
— Sei quem você é, doçura. Não vou machucar você, prendi suas mãos para deixá-la imóvel, agora vou limpar seu ferimento. Desculpe-me por isso, não reconheci você. Por que pintou e cortou seu cabelo?
Ela sentiu aquela vibração de sua voz em seu ouvido lançar um arrepio pela sua espinha que lhe excitou, e ainda mais quando ele arrastou o nariz em sua bochecha.
— Só queria mudar o visual. Resolvi pintar de castanho, o fiz esta manhã. Mas como sabe que mudei o cabelo? Você me conhece?
— Sim, doçura, eu conheço você. E aqui não era onde deveria estar.
Ele a olhou com aqueles olhos tão estranhos e lindos.
— Então, me deixe ir — ela sussurrou.
— Fique quietinha, vou fazer um curativo no seu peito.
— Deixe-me ir.
— Não posso deixá-la ir agora.
Ester estava com medo e uma lágrima caiu pelo seu rosto.
— Por quê?
— Nós teremos que colocar as coisas às claras entre nós. — Ele secou a lágrima de seu rosto, suavemente. — Não chore, não vou machucá-la.
— Noah! — Veio uma voz da porta.
Ester olhou para o lado e lá estava outra visão. Ela gemeu. Nunca em sua vida tinha visto homens tão belos e exóticos num metro quadrado. O que era esta propriedade? O Olimpo?
Noah rosnou ferozmente como se fosse um cão e de quatro virou-se na cama e rosnou novamente para o homem na porta.
Ester se assustou com o que ele podia fazer com sua voz e garganta. Liam, no entanto, não pareceu se assustar, estava sereno e nem sequer piscou.
Ele estava vestindo uma calça jeans e uma camiseta preta. Usava coturno preto e era quase da altura da porta, ombros largos, belíssimo, mas o que mais chamou a atenção de Ester foram os cabelos e os olhos. Ele tinha cabelos totalmente brancos, lisos e longos até abaixo dos ombros e seus olhos eram brancos, quase como se fossem de prata. Ela ficou boquiaberta olhando para ele. O homem parecia uma visão de outro mundo.
— Solte-a, Noah — ele disse calmamente.
— Ela é minha, Liam.
— Ela não é sua, Noah, e não pode feri-la.
— Foi um acidente, não a reconheci na hora, pois estava muito zangado. E, além disso, o cheiro da tinta de cabelo é muito forte, confundi seu cheiro. Saia, ela está comigo, vou fazer um curativo.
— Feriu-a, Noah, deixe que eu tome conta dela, precisa se acalmar.
— Sou seu alfa. Vai me desafiar, Liam?
— Preciso desafiá-lo, meu alfa?
Noah virou e olhou para ela, que estava assustada e com os olhos muito arregalados. Liam suspirou.
— Noah, sei que você está nervoso e zangado, eu entendo, juro, mas não pode deixá-la amarrada contra a sua vontade, nem ferir esta mulher. Ela é Ester Klaus, a herdeira. Sabe disso, não sabe?
— Por que, inferno, todos me chamam de “a herdeira”? — ela gritou com raiva. — Tire-me daqui!
— Tudo que era do pai agora é seu. Inclusive, nossos segredos.
— O quê?
— Noah, por favor, desamarre-a. Ela precisa se lavar e se curar. Veja, está sangrando. Vou levá-la para a mansão e lhe fazer um curativo. Confie em mim, vou cuidar dela e protegê-la com minha vida. Você não quer assustá-la mais do que já está assustando, não é?
Noah a olhou e agora Ester percebeu que ele estava totalmente aturdido e confuso. Como se tivesse saído de um transe e caído na realidade.
— Eu a feri — ele falou baixinho.
— Sim, ela está ferida e assustada, mas vai te perdoar. Você estava confuso e não queria machucá-la intencionalmente. Foi um acidente.
Ele uivou, um uivo alto e assombroso. Ester ofegou, o olhando com os olhos arregalados e, então, ele olhou para ela novamente. Ester teve vontade de chorar quando vislumbrou nos seus olhos uma dor profunda. Ele saltou da cama num salto incrível e anormal, que o levou até a porta e saiu do quarto.
O homem de cabelos brancos respirou fundo, olhou para ela e foi em direção à cama.
Ester se encolheu de medo.
— Não tema, eu não vou machucá-la. Está segura aqui.
— Jura? Não me sinto segura no momento.
Ele desamarrou seus pulsos e ela o olhou, desconfiada.
— Sou Liam. Eu sinto muito pelo que aconteceu, mas Noah, às vezes, entra em uma espécie de surto. Tem verdadeiro horror por jaleco branco. Ele acha que todos são cientistas malvados e quer sangue. Você realmente está parecida com a doutora que ele matou e tanto odiava. Esse corte novo de seu cabelo e a tinta escura o confundiu. Mas ele é uma pessoa muito boa, somente ainda não esqueceu seu passado.
— Ele matou uma mulher? — ela perguntou assustada.
— Sim. — Ele suspirou. — Mas ela mereceu, acredite. Sinto muito ter demorado, porém com as câmeras desligadas não sabia onde você estava. Não passou pelo portão e quando encontrei seu carro no bosque, logo vim aqui. Imaginei que estava com Noah.
— O que acontece com seus olhos? Você pode ver?
— Sim, melhor do que qualquer um. Meus olhos são assim desde que nasci; minha mãe era uma loba branca também.
— Uma o quê? — Ester perguntou espantada.
— Venha, Ester. Vamos voltar para a mansão. Erick precisa contar toda a verdade e eu vou fazer um curativo neste ferimento. Sinto muito, talvez em outro dia você e Noah possam conversar e apagar esta má impressão que teve dele. Ele vai ficar martirizando-se pela eternidade por ter ferido você.
Ela olhou para baixo e tentou fechar sua camisa rasgada para cobrir seus seios. Sorte que estava usando sutiã.
— Ele poderia ter me matado? — ela perguntou num sussurro.
— Poderia e muito rápido, Ester, mas graças a Deus ele percebeu quem você era antes que rasgasse sua garganta. Você estava em seu bosque, sem sua permissão, usando um jaleco de médica, e isso era uma ameaça para ele. E por estar tão perto da cabana de Jessy, aflorou seu instinto de proteção.
— Pode me chamar um táxi? Eu quero ir pra casa agora e mandarei um guincho pegar meu furgão. Quero sair deste hospício.
— Desculpe, Ester, mas você precisa entender algumas coisas.
— Entender o quê? Que vocês colocam lobos em camas? Que todos os homens aqui são gigantes halterofilistas e usam lentes de contato? Que um lobo me atacou e quase fui comida viva? Que este louco me amarrou na cama? Ele é um assassino, matou uma mulher, você mesmo disse. A polícia...
— Nada de polícia. Ninguém deve saber que vivemos aqui. É por isso que precisamos de você. Muitos de nós não podemos sair sem sermos notados. Seu pai tinha planos e precisamos seguir com eles. Isso tudo agora é seu e nós moramos aqui; você precisa entender-nos para poder cuidar de nós, caso precisemos de médico.
— Cuidar de vocês? Caso não saiba, eu sou uma veterinária e não médica de humanos.
— E quem disse que somos inteiramente humanos?
Ela abriu a boca de susto. Nem conseguiu perguntar do que, diabos, ele estava falando.
— Vocês são loucos! Loucos e gigantes.
— Shifters são maiores que os homens comuns.
— Shifters? O que, diabos, é isso? Vocês devem fumar algo para deixá-los falando tanta
porcaria.
Ele suspirou, pegou-a pelo braço e a puxou para fora da cama.
— Venha, Luca acordou e se transformou. Você vai ter que arrumar a perna dele novamente com uma nova tala. Konan foi até a cidade comprar uma daquelas botas que imobilizam, deve servir?
— Bota? Essas botas são para pessoas e não animais.
— Eu sei, mas ele se transformou.
— O que isso quer dizer? Já coloquei tala no lobo.
— Venha e veja por si mesma.
Quando eles saíram da casa, ela olhou para ver ao redor. Ela não era muito grande, mas era muito bonita, toda feita de toras e havia uma bela varanda com duas cadeiras de balanço.
— Isso é bonito.
— Há mais duas dessas casas, o pai mandou construí-las para quem quisesse ter sua própria casa e não querer ficar na mansão. Noah prefere ficar aqui, gosta de ficar sozinho. Outra casa é ocupada por Jessy, ela gosta de decorar as coisas e o pai a deixava comprar muitos mimos. Ele realmente gostava de Jessy e era louco pela pequena Lili, fazia de tudo para mimá-las. Sua casa é cheia de flores e rendas. Coisas de mulheres.
— Jessy? Quem é Jessy? Por que meu pai mantinha vocês aqui?
— Vivemos escondidos. Raramente algum de nós vai à cidade. Konan é um dos mais andarilhos. Ele gosta de andar na cidade. Erick usa lentes de contato e mantém os cabelos cortados, assim pode se misturar sem chamar muito a atenção, mas isso irrita os olhos, por isso nenhum de nós gosta de usar. Jessy nunca saiu da propriedade depois que nos mudamos para cá. Ela tem medo dos humanos.
— Quando você diz humano, parece que você é um extraterrestre. É o que vocês são?
— Acha que pareço um extraterrestre? — perguntou rindo.
— Você parece com os Wraiths, do Stargate Atlantis, só que bonito.
— Não somos extraterrestres, somos lobos. — Ele riu novamente.
Ela ficou olhando para ele, séria, e então soltou uma gargalhada.
— Sim, claro, e eu sou o Coelhinho da Páscoa. Meu pai era louco por dar guarida para outros loucos e psicopatas. Bravo! Foi para isso que ele nos abandonou. Ainda bem que minha mãe já está morta, porque morreria de desgosto ao saber de toda esta porcaria. Espero que aquele lobo enraivecido não tope comigo novamente.
— Nenhum lobo a atacará novamente. Como eu disse, Noah a confundiu e Erick não o avisou que teríamos visita. Ele fica estressado às vezes. Ninguém tira a razão de Noah quando quer cortar a garganta de algum cientista ou médico.
— Estou falando do lobo que me atacou antes e não do Noah. Foi ele que me salvou do lobo, não?
— Noah é o lobo que a atacou.
— Cara, você realmente acredita em histórias de lobisomens? Vai me dizer que vira um monstro horroroso com caninos de dez centímetros?
— Não somos horrorosos como mostram nos filmes, somos lobos normais, na realidade, maiores que os lobos normais e mais bonitos.
— Sei. Olha, lobinho, eu realmente preciso ir embora, entendeu? Tenho compromissos, tenho animais para cuidar.
— Acredite, não vão faltar animais para você cuidar.
— Preciso ter uma conversa muito séria com este advogado do meu pai. Vou chutar sua bunda se me fizer perder mais tempo aqui neste hospício.
— Suba no jipe, Erick vai ter que consertar esta bagunça.
Ela subiu no jipe e seguiu muda enquanto ele dirigia para a mansão.
Ester não tinha muita opção, se corresse ele a alcançaria. Se gritasse, seria somente para irritar a garganta. Estava presa ali com aquele bando de homens que pareciam deuses da mitologia.
Ela deveria estar sonhando. Talvez tivesse tomado alguma droga no café antes de sair da clínica. E o pior de tudo, a imagem de Noah não saía de sua cabeça.


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