Guerra Negra - Saga Cidade de Cristal


Débora Falcão
Guerra Negra - Saga Cidade de Cristal



“E saiu outro, um cavalo cor de fogo; e ao que estava sentado nele foi concedido tirar da terra a paz, para que se matassem uns aos outros; e foi-lhe dada uma grande espada.”
Apocalipse 6:4

Prólogo

Mar Morto, 1943.

Jacob estava cansado. Já havia passado da hora de voltar para casa com suas cabras, mas uma delas havia desaparecido. Precisava juntar seu rebanho o mais rápido possível, já anoitecia e o animal poderia se machucar entre as rochas pontiagudas à beira do mar.
Olhou para o lado e viu a entrada de uma caverna; provavelmente sua cabra teria entrado ali. Resoluto, dirigiu-se para lá, mas o caminho era difícil. Com muita dificuldade, jogou uma pedra para dentro da entrada, e ouviu um barulho diferente do que esperava.
“Parece um cântaro de barro se quebrando...”
O pastor ficou assustado, e não era para menos. Perto dali se encontravam algumas ruínas de um cemitério do antigo mosteiro dos essênios. Ele sabia que eles eram parte de uma das três principais seitas religiosas do Judaísmo, do tempo de Jesus Cristo. Era o mosteiro de Khirbet Qumram. Diversas histórias circundavam aquele mosteiro. Uma delas, a mais famosa, de um monge sorteado para matar todos e em seguida se suicidar, dizia que este ainda assombrava o lugar, como guardião das ruínas. Mesmo não acreditando que os mortos voltem do seio de Abraão, sentiu um calafrio, e parou quieto para tentar ouvir algo.
Sem saber o que fazer, Jacob continuou olhando a gruta. Não ouviu nenhum som. Passaram-se alguns minutos e nada. Aproximou-se mais e, com muita dificuldade, entrou na caverna.
Seus olhos demoraram a se acostumar com a escuridão. À medida que ia enxergando, foi tendo uma surpresa ainda maior. Perto da parede da gruta, vasos com cerca de sessenta centímetros de altura estavam ali, com bocas lacradas. E Jacob pensou se tinha encontrado um tesouro.
Antes de sair, pegou alguns dos cacos do vaso que ele havia quebrado quando jogou a pedra. O vaso estava tombado e parecia esconder algo dentro. Esperando encontrar moedas de ouro ou jóias, se decepcionou ao ver algo volumoso e cilíndrico envolvido em linho fino. Ao abrir, viu rolos de pergaminhos, feitos com couro de ovelha e papiro.
Pensou em sair e chamar alguém, mas algo o alertou. Pegou um dos rolos para ler. Eram manuscritos em hebraico. Tinham uma linguagem arcaica, mas parecia uma profecia. Uma profecia que talvez valesse muito dinheiro. Guardou os outros pergaminhos dentro do vaso quebrado, e o que estava em suas mãos dentro de sua sacola de couro de carneiro.
E saiu para cuidar de suas cabras, omitindo de todos o pergaminho, inclusive de sua família, já que talvez um dia fosse seu seguro de vida. Quatro anos mais tarde a gruta foi “descoberta” e seu conteúdo vendido, o que ficou conhecido para sempre como os “Manuscritos do Mar Morto”.
Não sabia Jacob que dali a alguns anos seria assassinado, exatamente por causa desse pergaminho, que ficou perdido por muitas décadas, e sua existência chegou a ser esquecida por alguns, ignorada pela maioria e altamente vigiada por uma família.

Capítulo 1 – Novos Horizontes

Israel, outubro de 2021

Keren estava pronta. Respirou fundo e entrou no avião. A comissária estava esperando que ela entrasse. Deu as devidas e educadas boas vindas e a acomodou em sua poltrona.
"Deseja beber alguma coisa?"
"Uma água sem gás, por favor." Pediu Keren. A comissária se retirou com um sorriso e Keren se acomodou. Respirou fundo, seria uma longa viagem.
No início, sair do país não era exatamente uma idéia. Ela queria apenas sair de casa. Mas então surgiu a oportunidade num novo colégio, e nem soube exatamente como isso acontecera; de repente, tudo estava acertado. Iria para a New Order High School of San Francisco, California.
Sentiria saudades dos pais. Tudo bem. Ela queria sair justamente por causa deles, porque queria respirar. Sua família é judia ortodoxa, ou melhor, mais que isso, eram Judeus Haredi, ou ultraortodoxos, como chamavam por aí, e ela queria um pouco de paz. De certa forma, havia algo mais. Seu pai era um homem muito rígido, e sempre que ela o olhava, parecia emanar dele um poder e uma autoridade sobre ela que lhe dava calafrios. Ela sentia mais que respeito por ele: sentia medo.
A primeira coisa que fez foi quebrar com algumas tradições. Viajar sozinha já era o primeiro passo, mas ainda não entendia como seus pais compreenderam sua necessidade de liberdade. Obviamente foi bastante difícil no início, mas ela nunca achou que eles fossem concordar, principalmente seu pai. Acreditava que em algum momento teria que fugir. Mas, depois de um mês, eles não só aceitaram como encontraram um lugar para ela ficar, um apartamento charmoso em San Francisco, e pagaram sua viagem em primeira classe, além de abrirem uma conta internacional para depositarem uma generosa mesada. Coisa que não fazia nenhum sentido.
Keren tinha pressa. Comprou roupas novas, cortou o cabelo, arrumou-se e lá estava ela. Sentada numa maravilhosa e confortável poltrona de primeira classe.
"Sua água, senhorita."
A comissária havia voltado e falara duas vezes com ela antes que ela recebesse a água.
"Obrigada."
Keren estava distraída. A nova vida a aguardava, e mal sabia o que iria fazer assim que se visse totalmente livre. Pensaria por si mesma, agiria por si mesma... mas, o que exatamente pensar ou fazer? Sempre teve suas opiniões regradas e teve que obedecer as decisões da família. Fora criada dessa forma, por isso mesmo a liberdade era tão sonhada e ao mesmo tempo tão temida.
"Tem medo de avião?"
A voz a acordou dos seus pensamentos. Voltou-se para a poltrona próxima à sua. Um belo rapaz, cabelos escuros, pele clara e olhos profundamente negros que a perscrutavam. Ele parecia ser alto, e era muito bonito, e sua barba estava bem aparada.
Como ela não respondeu, ele resolveu se adiantar.
"O avião já decolou há quinze minutos e você não para de segurar fortemente o braço da poltrona e esta garrafinha. Dá para ver os nós dos seus dedos", ele disse em tom divertido.
Keren sorriu e aliviou as mãos, nem tinha percebido esse detalhe.
"Desculpe, eu não me apresentei. Me chamo Mohammed."
Keren quase soltou uma gargalhada. Estava profundamente acanhada, mas morrendo de vontade de flertar um árabe. Ele estava bem vestido, como um executivo, mas sem terno. Era jovem demais para ser um grande empresário? Teria uns 25? 26 anos? Ela, em seus 16 já estava quase sem fôlego, e tossiu para respondê-lo.
"Me chamo Keren."
"Keren, um belo nome para uma bela moça. Encantado em conhecê-la. Então, é a primeira vez em um avião?"
Ele não parecia um muçulmano, mas não poderia julgar pelas aparências. Ele tinha um nome muçulmano, um nome que o identificava como "filho de Maomé". Mas não podia afirmar, o nome já havia se popularizado. E, no mundo moderno, acreditar que um muçulmano teria que vestir túnica e turbante era demais.
"Si... sim. Sim. É a primeira vez. Deu pra perceber?"
Ele riu de seu sorriso amarelo.
"Quase nada."
Os dois sorriram.
"E o que uma garota tão jovem e tão bonita está fazendo viajando sozinha para um lugar tão longe?"
Era verdade. Iriam atravessar o continente, o oceano, para chegar a praticamente o outro lado do mundo. Nunca havia saído de Israel, e agora faria uma longa viagem, cheia de escalas e conexões. Queria muito conversar com ele, mas dizer a verdade seria dizer a ele que ela era mais jovem do que ele poderia imaginar.
"Estou indo para um novo colégio..."
"Mudança bem radical, não?" Ele sorriu, não parecia surpreso com sua revelação de que ela estava em idade escolar.
"Pois é..."
"E para onde está indo?"
"Para Califórnia."
Mohammed soltou um assobio. "Longe. Eu estou indo para Washington a negócios. Bastante longe não é?" Ele continuou sorrindo, como para uma garotinha. Bem, Keren era uma garotinha.
A conversa foi interessante e agradável, até que o telefone dele tocou e ele começou a falar em árabe. Ela, por viver há tanto tempo em Israel, entendia umas palavras soltas, e se deu conta que se tratava de uma conversa de negócios.
Relaxou em sua poltrona e, por mais incrível que pudesse parecer, estava dormindo rapidamente.
E teve um sonho.
Um sonho estranho, mas de certa forma familiar, de uma cidade linda, limpa e muito organizada. Uma cidade onde as ruas e os jardins eram belos e as construções reluziam, e quase ofuscavam sua visão. Uma luz que parecia refletir a luz do sol. Parecia que já tinha estado neste sonho antes.
Acordou com um tremor. E percebeu que, embora o sol parecesse não ter se movido no horizonte, já havia se passado horas.
"Use isto." disse a comissária, passando para ela um tipo de viseira, com pequeninas lâmpadas, no momento apagadas. Independente da posição do sol, ela simularia o dia e a noite para o cérebro, para que se acostumasse com o fuso horário do local de desembarque. "Vai minimizar os efeitos do jet lag."
"Obrigada."
Keren olhou para o assento onde Mohammed, já usando sua própria viseira, dormia suavemente. Ele era muito belo.
Subitamente sentiu sono e voltou a dormir. E voltou a sonhar com a estranha cidade reluzente.

***

Keren estava exausta. Passara por muitos contratempos, quase sua bagagem fora extraviada em Portugal, quase perdera o vôo em Miami por dormir no saguão, quase não conseguira se despedir de Mohammed antes de embarcar, enfim.
"Garota, espero revê-la, algum dia", dissera ele para ela. Trocaram telefones, emails, mas se realmente algum dia ele ligaria, bem, isso era muito diferente. Já era difícil reencontrar na mesma cidade alguém que não se vê há algum tempo, imagine em cidades diferentes, com praticamente todo o país no meio!
Mohammed pegou outro avião para Washington, enquanto ela seguiu para San Francisco. Estava cansada e não via a hora de chegar. Chegar num lugar totalmente desconhecido para ela, viver sozinha. Tinha lá seu
lado bom, não dar satisfações, usar a roupa que quiser, comer o que quiser, sair para onde quiser, enfim, viver. Mas sozinha ela não conseguiria tal liberdade. Que ironia do destino. Ela sempre iria precisar de outras pessoas? Quanta insegurança!
O primeiro dia de aula foi estranho, como todos os primeiros dias de aula para os novatos. É sempre assim. Todos ficam olhando, observando... Keren já estava chateando-se por causa de sua timidez.
"Oi, meu nome é Maureen" disse uma linda garota se aproximando dela. "E o seu?"
"Keren."
"Keren... você tem um sotaque diferente, de onde você vem?"
"Ahn... de Israel..." Keren ficou um pouco receosa, com medo de algum preconceito... não sabia se essa garota era como nos filmes americanos, em que sempre tem uma garota que faz da outra seu patinho feio para se sentir melhor. Sempre achou tudo isso uma grande baboseira, mas agora que estava diante de garota tão bonita, ficou com medo do complexo da "garota impopular".
"Legal." Foi só o que Maureen disse antes de se sentar ao lado dela. "Aqui é uma escola legal. Você vai gostar. É relativamente nova, tem uns 20 anos, e eu estou aqui desde o ano passado. Então, tecnicamente somos novatas. Você vai se sentir em casa."
Keren ficou fascinada com o desprendimento de Maureen. Finalmente um colégio normal, onde ela pudesse se sentir bem. O dia correu tranquilamente, e agora Keren tinha uma nova amiga. Ela era legal, e ela esperava se enturmar.
A semana passou rápida, e logo veio a segunda. Recebeu um email de Mohammed, bastante formal, e se perguntou se ele fez isso somente por educação.
Seus pais enviaram um dinheiro; ligaram perguntando sobre as instalações e não fizeram comentário nenhum, o que ela achou muito estranho. Nem fizeram perguntas. Mas isso é tudo o que uma adolescente quer. Pelo menos no início.
No fim da segunda semana, uma sexta-feira, Keren recebeu um convite interessante.
"Uma festa?"
"Sim! Ah, por favor, vamos? Vai ser legal. Um amigo nosso está fazendo vinte anos e resolveu dar uma festa na casa dele. Vai ser show!"
"Hum... ok, eu vou."
Seus pais não precisavam saber que passaria a noite inteira numa festa, cheia de adolescentes e jovens, garotos legais, muita bebida... Não era para experimentar essas coisas que ela se afastou de casa?
Maureen parecia dar saltinhos de felicidade. E ela estava imediatamente empolgada com a festa.
Uma festa legal, mas meio estranha. Tinha muita gente, mas não se via decoração nem nada. Não sabia quem era o aniversariante, ele aparentemente não estava lá. Maureen sequer a apresentou a ele. Simplesmente chegaram e foram entrando.
Bem, foram entrando é modo de dizer. Havia um homem de quase dois metros de altura na entrada do jardim; um segurança que observava todos que se aproximavam. Keren e Maureen disseram seus nomes a ele, e ele permitiu a passagem. Parecia não precisar olhar numa lista de nomes, mas Keren não duvidava que, se alguém não tivesse sido convidado, ele saberia. E teve calafrios ao imaginar o que um homem daqueles faria caso um penetra resolvesse arriscar passar por ele.
Seus pensamentos foram imediatamente absorvidos pelo lindo jardim que se seguia. Um lado do jardim tinha um labirinto de flores, construído aparentemente para ser o que era: um labirinto. Perguntou-se se era uma brincadeira ou uma ameaça.
Entraram na casa. A música era boa, e foram dançar. Keren não fora apresentada a ninguém; apenas dançara com Maureen. Nem sinal do tal aniversariante.
Um cheiro de incenso invadia o ar, e Keren se sentiu um pouco tonta. Muita gente estava na casa. Keren procurou um lugar pra respirar melhor e viu um cara em cima da mesa, dançando loucamente, sem camisa, cheio de tatuagens pelo corpo. Ele não era musculoso, mas não era magro demais, era compacto. Seu corpo era bonito, sua pele branca, e seus cabelos eram muito pretos. Notou que ele usava lápis de olho (seus olhos estavam muito maquiados) e suas unhas eram pintadas de preto.
Continuou sua caminhada pela casa em busca de uma janela, quando um grande relógio na sala deu doze badaladas. Keren achou aquilo super estranho, nem imaginava que no ano de 2021 pudesse haver um
relógio como aquele. Parecia uma relíquia caríssima. Para falar a verdade, só vira relógios iguais a ele em imagens do Google.
O fato é que, enquanto o relógio dava as doze badaladas lentamente, indicando que era meia-noite, um silêncio sepulcral se seguiu ao lugar, e todos, devagar, reuniram-se na sala, diante das escadas que levavam ao primeiro andar. Keren se uniu aos outros, sem saber o que estava acontecendo. Maureen chegou junto dela e parecia um pouco chapada. Mas todos, mesmo os que estavam neste estado, estavam quietos, em silêncio, e aguardavam alguma coisa acontecer.
Foi quando elas desceram.
Vestindo capas pretas, com capuzes cobrindo suas cabeças, lentamente treze mulheres desceram as escadas de forma rítmica, diante do silêncio. Elas carregavam incenso e espalhavam sua fumaça por todo o lugar. Todos abriram espaço, e no centro, onde havia um grande tapete, elas se concentraram num círculo. E cantavam. Uma cantoria estranha, numa língua perdida.
Keren não sabia o que estava acontecendo. Até que uma das mulheres, a primeira que aparecera e que parecia ser a líder, retirou o capuz.
Ela era linda. Branca, muito branca. Seus olhos eram de um azul límpido e claro, mas seus cabelos eram negros como petróleo. Esguia e alta, ela tinha um olhar sério, embora seus movimentos parecessem tentar seduzir todos ali. Olhou em volta e viu homens e mulheres babando por ela. Até mesmo Keren estava excitada. “Deve ter drogas neste incenso”, pensou ela.
Sua voz era doce e musical, hipnotizante. Então, ela falou.
"Vida longa ao mestre."
E todos repetiram.
"Vida longa ao mestre."
Bateram palmas num aplauso contido, e em seguida olharam para as escadas.
Foi quando o aniversariante começou a descê-las.
O silêncio era palpável. As mulheres pararam de cantar, mas mantinham seus rostos cobertos, com exceção da bela "mestre de cerimônias". O rapaz que descia as escadas devagar saiu das sombras.
Keren tomou um choque.
"Uau, ele é quente" Keren sussurrou para Maureen, que fez sinal para que ela permanecesse em silêncio.
O tal rapaz que estava completando vinte anos tinha olhos azuis, límpidos como os da mulher que o anunciara, mas num tom mais inocente, quase infantil. A pele era branca, sem nenhuma mancha, e seus cabelos eram dourados, tão claros e finos que pareciam brancos. Era alto e magro, não de uma maneira que parecesse fraco, mas compacto. Descia as escadas com altivez, como um rei.
Talvez ele fosse algo assim, pois todos disseram juntos "vida longa ao mestre", e quando ele chegou a três degraus do chão e parou, todos se curvaram diante dele. Keren continuou de pé.
"O que está fazendo?" Maureen tentou puxá-la do chão. "Curve-se!"
Keren chamou a atenção do rapaz, que veio em direção a ela. Todos os presentes olharam para Keren, e se admiraram com ela estar ainda de pé. A mulher branca olhou para ela, reprovando-a.
"Desculpe, mas não vou me curvar." Keren disse baixinho, quase sem voz. Sentiu o rosto corar.
"Não precisa se desculpar" disse o rapaz. "Você é novata?"
Maureen ficou de pé ao seu lado.
"Ela veio a meu convite. Achei que seria bom trazê-la para conhecê-lo."
Maureen estava radiante por poder falar com ele. E ainda mais por estar tão perto. Podia tocá-lo, se quisesse. Mas, embora o desejasse, não se atreveu.
Ele não deu atenção a ela, e pareceu nem mesmo ouvi-la. Seus olhos estavam focados em Keren. Ele parecia perscrutá-la, mas Keren teve a sensação de que ele a reconhecia.
"Desculpe-nos. Não queríamos assustá-la. É apenas uma reunião entre amigos, para comemorarem meu aniversário esta noite. Permita-me." Ele tomou uma das mãos de Keren e beijou-a. Ela sentiu um calafrio. Olhou para os olhos azuis dele, e os achou suaves e doces. "Meu nome é Junius. Junius de Margeau. E estes são meus amigos."
"Meu nome é Keren."
"Seja bem-vinda, Keren."
E então, como num passe de mágica, tudo voltou à atmosfera anterior. A música voltou a tocar, as pessoas voltaram a dançar. As mulheres de preto se retiraram suavemente, deixando atrás de si o cheiro de incenso, desta vez mais forte. Maureen saiu para dançar com outro garoto. Mas tudo isso Keren só percebeu por sua visão periférica. Seus olhos estavam nos olhos de Junius.
Os dois estavam parados, um olhando para o outro, no meio da sala, enquanto a festa rolava à volta deles. Ela só via borrões, com sua visão focada nele. Ninguém mais parecia notá-los ou se importar.
"Venha" ele disse, e ela o seguiu para fora da mansão. E nem percebeu que passava por cima de corpos frenéticos, numa dança louca e epilética de orgias sexuais.

Capítulo 2 – Coisas Estranhas

Keren abriu os olhos e sentiu uma coisa estranha, como se tivesse acabado de despertar de um breve cochilo. Ficou um pouco tonta e apoiou-se na parede, percebendo então que estava de pé, diante da porta de seu apartamento. Olhou em volta, mas não viu nada fora do normal além dela mesma. Não havia ninguém. Olhou no relógio, eram quase cinco da manhã de sábado. E havia dormido de pé na frente da sua casa. Pelo menos, era o que parecia.
O mais intrigante era que não se lembrava de ter saído da casa de Junius de Margeau. Keren só se lembrava de ter ido com ele ao jardim e, ao olhar para ele, ter a sensação de se perder em seus olhos. Aquilo era muito estranho.
Definitivamente algo acontecera ali naquela casa, e ela não sabia o que era, e o pior: voltou para casa como? Alguém a trouxera? E a deixara na porta de casa dormindo de pé? Não, isso não era possível. Mas toda aquela confusão na casa de Junius de Margeau era muito estranha.
Primeiro, todos estão dançando loucamente, um forte cheiro de incenso no ar que ela deduziu conter drogas. Depois, a chegada do próprio Junius naquele ar de mistério. Então os presentes se curvam diante dele.
Aquilo era uma seita. Uma seita muito da estranha.
Um sabor pairava sua língua. Sabor de tranquilidade. Estava tudo bem, tudo bem. Nada de mal havia acontecido. Somente o que todos queriam.
"Mas com certeza deve ser uma seita", falou Keren em voz alta, como se quisesse desafiar sua própria mente. Deveria saber que, depois de tantos problemas, não se deve fazer um desafio desses. Se perde.
E Keren estava no chão, desmaiada.
Keren passou a semana inteira tentando se lembrar o que tinha acontecido na mansão de Junius, mas não conseguiu. Quando acordara do desmaio, no hospital, ninguém sabia dizer o que tinha acontecido, só que a encontraram na porta do seu apartamento. Fizeram ressonância, vários outros exames, mas não acharam nada. Ela parecia perfeita.
Não tivera outros problemas depois disso, apenas não se lembrava de nada, como quando saíra da festa ou a forma como chegara em casa. Então resolveu não esquentar a cabeça com isso, mas também não ir para festas como estas, muito menos as convidadas por Maureen.
"Ela é muito louca".
Voltou à escola normalmente. Algumas semanas se passaram, até que Maureen a convidou para outra coisa. E lhe pareceu muito estranho o convite.
"Um retiro?" perguntou Keren, intrigada.
"Sim. Vai ser legal, por favor, vamos! Não quero ir sozinha. Quero ir com você."
"Mas por que um retiro? O que tem lá?"
"É um lugar muito legal, muito verde, tem várias atividades interessantes, só vão jovens. Tem muitos gatinhos lá..."
"Olha, Maureen, gosto de você, mas não estou a fim daqueles tipos que apareceram na última festa."
"Relaxa, Keren. Não é nada disso. Vai ser uma coisa legal, mas vão ter adultos responsáveis lá. É da minha igreja, vai por mim."
"Igreja? Você é de alguma igreja?"
Keren não queria rir, pois achou que isso ia ferir os sentimentos dela.
"Sim. É uma igreja diferente, super moderna, antenada com as coisas. Você vai gostar. Os líderes religiosos estarão lá, vai ser uma oportunidade única. Vamos, por favor?"
Pensou um pouco. Se ia ter líderes, pessoas adultas, bem, não ia ser tão mal.
"Ok. Mas não vou ficar a semana inteira."
Mas Maureen nem estava ouvindo mais. Ela pulava histericamente. Keren revirou os olhos e foi pra casa.
Realmente, era um lugar lindo, tanto que surpreendeu Keren. Uma fazenda luxuosa, e na porteira tinha uma grande placa de madeira que dizia "Vale da Alvorada". Tinha vários alojamentos, um feminino e um masculino, e outra casa maior, todos com vista para um lago, montanhas ao fundo, um ambiente bem agradável. Piscina, refeitório e, no fim de uma área gramada e com um jardim incrível, uma construção de pedras escuras que parecia uma igreja.
"Bem, não seria tão ruim" pensou ela. Fariam caminhadas, trilhas, e seria tranquilo.
Então ela o viu, caminhando entre os jovens, mas com um passo altivo que o destacava dos demais. Junius.
"Olá, pequena Keren. Bonita como sempre." Tomou sua mão e a beijou. Um garoto tão jovem e com maneiras tão cavalheirescas. "Como está esta manhã?"
"Estou bem, Junius, estou bem." Momentaneamente, Keren ficou sem saber como chamá-lo, se pelo nome, se com algum título, alteza talvez... e pensou se estava louca.
Ele simplesmente sorriu e ofereceu seu braço. "Posso te mostrar o lugar?"
Keren ficou apreensiva. Da última vez que saíra com ele da presença de outras pessoas ela apagara. Mas segurou seu braço e saíram pela paisagem magnífica. Ele a levou entre os bancos do jardim e foram direto para a capela. Lá, ele a deixou à porta e, sem dizer nenhuma palavra, saiu.
Keren entrou, a curiosidade vencendo a chateação por ele tê-la deixado sozinha. O recinto estava escuro, apenas algumas velas crepitavam sombras na parede. Não havia bancos, como em uma igreja ou sinagoga. Apenas o salão redondo, com paredes de pedras.
E no centro da sala, um semi-círculo formado por mulheres de capuz, as mesmas que Keren havia visto na festa de aniversário. Sem levantar o capuz, uma delas ergueu sua voz.
"Keren, sente-se."
Assustada, Keren caminhou para a mulher, que era a primeira da fila.
"Quem são vocês?"
"Você é uma mulher inteligente, Keren."
"Obrigada." Ela tentou ver seu rosto, mas não conseguiu.
"E uma moça muito bonita. Nos sentiríamos honrados se estivesse na cerimônia desta noite."
"Cerimônia? Que tipo de cerimônia?"
Ela não respondeu, e as chamas da vela à sua frente começaram a crepitar. Elas não falaram mais nada, mas rezavam, uma reza monocórdia, todas rezando com uma voz de tédio, e não dava para entender o que elas diziam. Keren não sabia se ficava ou se retirava. Parecia que todos ali gostavam de dar uma conversa por encerrada sem aviso prévio. Depois de cerca de dez minutos em silêncio, Keren resolveu sair da capela.
Junius a estava aguardando do lado de fora.
"Venha, vou lhe mostrar o que usará esta noite, na cerimônia."
"Mas... o q..."
"Não se preocupe, será lindo e maravilhoso."
Olhou para a noite escura. O que eles estavam fazendo com ela de novo?
Junius caminhou até o alojamento das garotas onde Keren estava hospedada, sempre levando-a pelo braço, muito cavalheiro. À porta, Maureen estava esperando, junto com uma mulher, a única adulta que ela vira por ali até o momento.
"Esta é Sharabi" Junius a apresentou. "Ela cuidará da aparência correta que você deve ter."
Sharabi sorriu com seus belos olhos azuis. Bem, ela era o tipo adulto por lá, claramente mais velha que Junius, mas prestando respeito a ele, o que era muito estranho. Alta, magra, cabelos escuros e cortados bem curtos. Devia ter seus quarenta e cinco anos, ou mais, mas parecia totalmente em forma e atlética. Ela fez sinal para que a acompanhasse.
“Esperem aí...” Keren falou, e Junius a olhou com ar divertido. “Por que eu tenho que me vestir adequadamente para uma coisa que nem sei o que é? Que tipo de cerimônia? E por que tanto mistério?”
Junius sorriu. “Sharabi lhe dirá o que precisa saber.” E Keren entendeu que a mulher só diria o que eles a julgassem merecedora de saber, nenhuma palavra a mais. Teve a sensação de que isso não era muito.
Keren a seguiu, para dentro do alojamento, sendo seguida, por sua vez, por Maureen. Junius não entrou e continuou seu caminho a passos suaves, com as mãos atrás do corpo.
A bela mulher caminhava com altivez, seu corpo era esguio e belo, e parecia ser capaz de qualquer coisa, qualquer atividade física. Caminharam pelos corredores, passaram pela porta do quarto (de Keren e de Maureen), até chegarem a uma alcova.
Era enorme e tremendamente luxuosa. Algumas garotas já estavam lá, vestidas em lindos vestidos pretos. Havia araras com belos vestidos, todos pretos, e um grande espelho, com balcões com linhas de maquiagem que fariam inveja a qualquer superstar.
"Escolham uma veste ritual" Sharabi falou, apontando para as araras com os luxuosos vestidos. "Assim que estiverem prontas, eu as introduzirei aos costumes dos rituais e cerimônias, que usaremos na cerimônia desta noite."
E saiu.
Simples assim. Então era isso o que merecia saber. Bem, Keren e Maureen foram direto para as araras escolher um vestido para usar. Cada um mais magnífico que outro. Infelizmente para ela, só havia na cor preta. E todos eles acompanhavam uma corrente prateada, com um pingente que descansava entre os seios. Era um símbolo, um círculo e um ponto no centro.
"Este é o Olho-de-Deus" disse Sharabi, assim que Keren estava pronta. "Uma das representações do nosso Senhor." Ela explicou. "Existem muitas representações como estas, em várias religiões. Ele é o Messias tão esperado pelos judeus, o Cristo para os cristãos, o Buda para os budistas, Krishna para os hinduístas, e tantos e tantos outros. Tem sua representação de várias formas, como o Olho-Que-Tudo-Vê, na maçonaria, ou o Olho de Rá, para os egípcios antigos. Desde milhares de anos, o homem busca a Deus. E esta é a sua representação universal."
Keren tocou o pingente. Achou-o lindo. A história toda era linda. Mas algo estava estranho. Uma intuição, talvez.
Foram para a capela, onde ela tinha visto a Irmandade anteriormente. Elas ainda estavam lá, na mesma posição. Mas naquele momento a capela estava repleta de jovens e adultos, todos no mais completo e absoluto silêncio, em um grande círculo sentados no chão. Keren e Maureen ocuparam lugares no círculo. No centro, o semi-círculo da Irmandade.
Quem quebrou o silêncio foi uma mulher, no centro do círculo das mulheres da Irmandade. Ela ficou de pé e começou a cantar um mantra em outra língua. As outras mulheres juntaram aos seus pés representações dos quatro elementos: terra, água, fogo e ar.
A mulher tirou o capuz, e Keren a reconheceu da festa de aniversário de Junius. Cabelos negros, olhos azuis, pele branca.
"Salve Meriadne, nossa Alta Sacerdotisa."
Todos repetiam, enquanto a tal Meriadne jogava pós sobre os materiais dispostos em um quadrado.
Uma onda de choque atingiu Keren.
Heresia.
Ela se sentiu um peixe fora d'água, mas mais que isso: sentiu-se uma traidora de sua religião. Ela estava ali, uma judia, num ritual pagão, um ritual que para ela era idólatra, reverenciando outros deuses diante de Iaveh. E sentiu que precisava sair dali, que alguma coisa estava muito errada e não sabia dizer o que era. Sentiu que o ar se tornou irrespirável e sufocante, ao menos para ela, com muitos incensos acesos.
Mas sair assim poderia significar desrespeito, e, como ela era a única incomodada, imaginou se poderia ser linchada. E pensou se estava indo longe demais com a paranóia. Eram pessoas inofensivas numa religião diferente. "Eu apenas tenho que respeitar. Afinal, estamos nos Estados Unidos." pensou Keren.
Mas assim que a cerimônia terminou, foi direto para o quarto.
Ligou a pequena TV que todos os quartos disponibilizavam e tratou de procurar algo para comer. Tinha ido sem comer para a capela, achando que eles serviriam algum lanche. E encontrou na bagagem um pacote de Doritos.
"Brasil se torna auto-suficiente em petróleo e entra na briga pelo comércio entre Estados Unidos e países asiáticos que dominam esta área."
Mas Keren nem prestou atenção à noticia. Estava agora mais tranquila, comendo Doritos. Nem estava ligando para as notícias da TV, só esperando começar seu seriado favorito, antes de pegar no sono. "Para isso servem os presidentes que a gente vota. Para resolver essas coisinhas que aparecem."
Keren caiu na real. O que ela estava fazendo ali? Ela era uma judia. "Ok, uma judia meio desgarrada, mas uma judia". Ela tinha suas convicções fortes, dentro dela, em algum lugar. Simplesmente não conseguia aturar toda aquela coisa de irmandade e mestre e ritual de não-sei-que-lá.
No dia seguinte acordou cedo e, com as malas prontas, comunicou a Maureen que voltaria à cidade, "para a minha amada poluição".
Ela ficou triste, mas não disse nada. Atitude que Keren estranhou. "Ela deveria estar tentando me convencer, mas não fez nada. Apenas me acompanhou até o táxi" pensou ela.
Junius estava no estacionamento do Vale da Alvorada, esperando. Ele falara algo com o taxista, e Keren logo ficou meio cismada. Então, Junius virou-se para ela.
"É uma pena que não queira ficar, Keren, mas seria muito bom se você se juntasse a nós."
"Entenda, Junius, ou se é que tenho que chamá-lo de alguma outra forma, algum título. Ninguém me informou sobre isso. Mas eu tenho minha própria religião, e isso aqui está muito fora da minha realidade."
Ele sorriu condescendente, e pareceu um homem de quarenta anos, e não um garoto que acabou de completar vinte.
"Não se preocupe, Keren. Eu a compreendo completamente." E abriu a porta do carro para ela, pela qual passou e se sentou. "Esta não é uma religião única, mas uma religião universal. Qualquer um pode adorar seu próprio deus estando conosco." Ele estendeu a mão fechada para ela, ao que ela respondeu abrindo a sua. Da mão de Junius, caiu em sua palma a corrente com o pingente do "Olho-de-Deus". "Queremos que fique com isto. Isto representa o Deus vivo. Representa o seu Deus. Não queremos que se sinta constrangida. Continue adorando o seu próprio Deus. Ele é o mesmo, aqui ou em qualquer outro lugar."
Dizendo isto ele saiu, e ela se sentiu a pior das pessoas.
"Como uma pessoa como eu pode ser tão má com uma pessoa como ele?"
Então, se despediu de uma triste Maureen, e foi direto para seu apartamento, se sentindo culpada.
Tão logo chegou em casa, o sentimento de culpa se dissipou. Não somente isto. Keren sentiu como se tentáculos se desligassem do seu corpo, e se sentiu, literalmente, livre. Era como se uma força sobrenatural a mantivesse ligada ao Vale da Alvorada e a todas as pessoas, àquela atmosfera, e principalmente, a Junius.
Ligou a TV enquanto tomava um banho quente.
"A Amazônia Legal diminui consideravelmente de tamanho. As autoridades brasileiras informam à imprensa que tudo é em favor do meio ambiente. 'Precisamos produzir combustíveis ecológicos, através do álcool; para isso, precisamos de mais campos de plantio. É uma medida que, de qualquer forma, compensará a perda de vários hectares de floresta nativa, sem nenhum valor real à sociedade. A Amazônia Legal perde alguns hectares, mas o ambiente ganha menos gases poluentes. E a porcentagem a ser perdida não é tão significativa.' disse o portavoz do Palácio do Planalto. Ativistas de todo o planeta estão protestando nos países da América do Sul onde a Floresta Amazônica ainda resiste, mas máquinas governamentais estão por toda a parte, derrubando árvores milenares."
“Engraçado”, pensou Keren. “Sempre estudamos alguma coisa sobre isso, mas nada tão chato. O que um punhado de florestas poderia fazer, se naquele mesmo local fosse produzido combustíveis menos tóxicos para o planeta? É simplesmente tornar o lugar mais útil para o próprio planeta.” Keren se achava leiga nisso, e os presidentes que se resolvessem. Porque ela não estava nenhum pouco interessada em política. Pra ela, tudo aquilo era problema para os grandes resolverem, e que jamais a atingiriam.
Como ela estava enganada.
Voltar à rotina podia ser um bálsamo. Keren foi feliz para a escola. Se sentia tranquila em poder voltar aos estudos. Afinal, fora pra isso que ela viera a San Francisco, rompendo as tradições de sua família de ficar em casa até o casamento, não foi?
Mas a escola não era exatamente um lugar tranquilo. Muitos dos garotos e garotas que estavam no retiro da igreja de Maureen também estudavam nesta escola. Keren pensou se estava num filme paranóico. Será que resolvera estudar numa escola onde todos eram recrutados para uma seita?
Mas, o que Keren tinha a reclamar da religião que presenciara no retiro? Tudo fora pacífico, tranquilo, e todos seguiam a rituais de sua própria religião, que, ao que lhe constava, eram milenares. Ela não podia
falar nada, já que fora criada em meio a rituais também milenares. Ela era judia, afinal. Embora houvesse fragmentos de sua infância de que não se lembrasse, mas sempre fora criada nas tradições mais antigas do judaísmo.
Uma linda garota morena, alta, olhos verdes e cabelos compridos sentou-se perto dela em sua sala. Ao que parecia, muitos queriam fazer amizade.
"Oi, meu nome é Aisha" ela se apresentou.
Keren olhou-a. E se todos estivessem numa conspiração? Foi tão fácil a matrícula dela naquela escola de renome, ainda mais, fora da época.
Olhou para si mesmo e viu-se como uma boba idiota. Inspirou e expirou devagar; resolveu parar de bancar a maluca e relaxar.
"O meu é Keren. Prazer em conhecer."
Aisha deu um sorriso de dentes perfeitos.
"Estou aqui há muito tempo, você é nova, não é?"
"Sim. Acabei de chegar de Israel."
"Uau, tão longe!"
Keren sorriu, descontraindo alguns músculos que nem sabia que estavam tensos.
"É, longe mesmo."
Aisha ergueu os braços para prender os longos cabelos, e Keren percebeu que seus músculos eram bem trabalhados.
"Desculpe perguntar, mas... você malha?"
Ela olhou para seus próprios braços.
"Ah... isso..." e sorriu. "Na verdade, não exatamente. Eu sou lutadora."
Os olhos de Keren brilharam.
"Lutadora? Que legal!"
Aisha sorriu novamente, mas desta vez como se sorrisse a uma jovem garotinha.
"Sim. Faço vários tipos de artes marciais desde os sete anos."
"Uau!"
Então, o professor cortou a conversa para iniciar a aula. E Keren ficou imaginando como seria legal ser uma lutadora. A única coisa que ela podia imaginar era que, além de ser linda e com o corpo perfeito, e chamar a atenção dos garotos por causa disso, ainda seria capaz de derrubar um garoto valentão quando viesse mexer com ela. E isso era, definitivamente, perfeito.
Após várias aulas, em que conheceu diversas pessoas e professores, separada de Maureen (que a olhava a distância mas não se aproximava), foi para o refeitório ao lado de sua mais nova amiga, Aisha. Hora do almoço.
Depois de fazer sua bandeja, viu um grupo numa mesa acenando para elas. Estavam chamando as duas para sentar-se lá. À medida que foi se aproximando, percebeu as pessoas à mesa. E seus olhos foram direto para o lindo garoto que estava sentado logo à frente. Aisha sentou-se do outro lado e justamente o lugar ao lado do garoto estava desocupado. Sentou-se, sentindo o rosto queimar. Aisha começou as apresentações.
"Gente, esta é Keren. Ela é nova na escola, e veio de Israel."
Imediatamente me tornei o centro das atenções na mesa. Todos queriam saber alguma coisa sobre mim. E começaram a se apresentar.
"Oi, eu sou Sirius" disse uma loirinha baixinha, cheia de cachos nos cabelos dando ao seu rosto oval de bochechas rosadas um ar infantil. Sem dúvida era muito bonita. Ela sorria, simpaticamente.
"Eu sou Alphas" disse um garoto branco, alto e forte, sentado ao lado de Sirius. Ele era tão grande que Sirius parecia um gatinho perto dele.
"Eu sou Amaryllis" disse outra garota, ao lado de Alphas. Ela tinha a pele negra, e seus cabelos crespos estavam presos de lado, deixando o volume para um único lado do roso. Sua pele tinha um tom suave de
chocolate e seus olhos eram de um verde quase esmeralda. Era bastante alta, quase tão alta quanto Alphas, mas não era grande. Seu porte altivo parecia de uma rainha.
"E eu sou Orion". A voz dele penetrava os sentidos de Keren. Ele estava sentado ao seu lado, e uma eletricidade parecia vir dele para ela. Um garoto alto, moreno claro, cabelos pretos, olhos castanhos. Seu sorriso de dentes perfeitos parecia hipnótico. A barba estava por fazer, e os cabelos curtos meio espetados davam-lhe um ar de mistério que a atraía para ele como a luz atrai as mariposas.
Como que acordando de um devaneio, Keren imaginou o que todos aqueles garotos tinham em comum. "Além dos nomes estranhos", pensou ela, "eles são incrivelmente atléticos, apesar das diferenças de altura e de porte físico".
Como que adivinhando seus pensamentos, Aisha retomou a conversa. "Somos todos do Grupo de Artes Marciais de New Order."
Ah, isso respondia suas questões internas.
"E somos parte da Irmandade da Luz e da Paz."
"Irmandade da Luz e da Paz?" Keren perguntou.
"Sim" respondeu Sirius com sua voz de anjo. "Você esteve conosco, no Vale da Alvorada. Vi você por lá. Mas foi embora cedo."
"Ah," pensou Keren. Vale da Alvorada.
"Parece que todos os alunos desta escola fazem parte desta religião." Keren deixou seus pensamentos escaparem em voz alta e imediatamente se puniu mentalmente por isso.
Alphas riu, mas quem explicou foi Orion. Foi difícil para Keren se concentrar no que ele dizia, observando o modo como seu queijo se movia ao falar, e o maxilar se mostrava em linhas perfeitas, e por baixo da barba por fazer havia uma covinha. Imaginou que aquilo era muito, muito sexy.
"Basicamente. Esta escola é mantida pela Irmandade."
Ops... como ela não pensara nisso antes? Então começou a observar que todos na mesa usavam o "Olho-de-Deus" em alguma parte, seja em uma corrente de prata, seja em brincos, ou num pequenino pingente numa pulseira, ou num anel, até mesmo em discretos broches.
"Pelo visto, eu sou a minoria na escola..." Falou Keren, um pouco desanimada.
Aisha sorriu simpaticamente.
"O fato de você não fazer parte da Irmandade não quer dizer que você realmente não faça parte dela."
"Acho que fiquei confusa", Keren falou.
"O que Aisha quer dizer" disse Amaryllis, falando agora na conversa pela primeira vez com uma voz aveludada e mais grave que as outras meninas na mesa, "é que, mesmo que não participemos de todos os rituais e cerimônias próprios da Irmandade, ainda assim somos parte da Irmandade. Porque somos todos irmãos, e temos os mesmos propósitos na vida. A paz, o amor, e a união de todos."
"Pensando por este lado..."
"E além do mais" completou Sirius, "todos temos fé, até o mais ateu de todos. A própria ciência vai chegar a um lugar onde ela não pode mais ultrapassar. E aí é onde entra a fé. Uma coisa não anula a outra, apenas complementa. Fé e ciência. Esta é a nossa religião."
"Uma religião que não exclui as outras" disse Orion. "Você pode ser judia ou muçulmana, mas Iaveh e Alah serão o mesmo deus para nós. E é isto o que o símbolo da Irmandade representa. O olho de Deus. O nosso mentor, o Arquiteto do Universo, o Criador, o Pai Amoroso, o Design Inteligente da vida."
Keren agora estava se sentindo uma tola por ter julgado aquelas pessoas tão legais. O que eles faziam em seus rituais eram apenas rituais para celebrar e adorar um deus que era o mesmo deus que ela adorava, com seus próprios rituais. Pra quê brigar, se todos poderiam ser amigos e se respeitarem? Parecia bom para ela.
“Costumamos dizer que os vários deuses na verdade são faces diferente de um mesmo Deus”, continuou Amarillys. A sua voz melodiosa fazia Keren se sentir como se estivesse ouvindo uma música doce e suave. “Deus é um ser muito poderoso, criador da mente humana, por isso nossa mente, por mais ampla e inteligente que seja, é muito limitada para compreendê-lo. Neste caso, quando Ele se apresenta, só conseguimos captar uma parte de sua essência.”
“Quando muitos captam partes diferentes, entendemos como faces diferentes de um mesmo Deus”, completou Aisha. Nós é que somos limitados para vê-lO inteiramente, como Ele realmente é.”
Orion sorriu, olhando para o semblante de Keren. “Para compreender melhor, dizemos que Deus é como um prisma, ou um diamante multifacetado. O diamante inteiro é uma pedra preciosa, mas, por ser muito complexo, muitos não o conseguem vê-lo por inteiro. Uns veem uma face, outros veem outra. Juntando todas as faces, temos o diamante.”
“Então”, falou Keren, “juntando todas as divindades com sua própria personalidade e características, temos o Deus, o completo?”
Eles sorriram. “Sim. E é esse Deus completo, e não somente uma face dele, que nós adoramos. Por isso não dizemos o nome dEle, e nem temos uma representação para cada um. Ele não tem nome, porque todos os nomes são dEle. Ele não tem rosto, porque todos os rostos são dEle. Ele é todos, e todos são Um com Ele.”
Keren suspirou, compreendendo e chutando-se mentalmente por se deixar levar por seus preconceitos. Tivera medo no início de sofrer preconceito por parte deles, por se achar diferente com sua religião e sua cultura, mas no fim fora ela mesma quem agira com preconceito com eles ao vê-los celebrar ao Deus, que era seu mesmo Deus.
Ao terminar o almoço, Keren descobriu que tinha uma aula com Orion, o que a deixou super feliz. Ele a acompanhou para a saída do refeitório. No trajeto, ela viu Maureen, que parecia muito contente. "Ao menos" pensou ela, "ela não está mais chateada, ao que parece."
E Orion a acompanhou até a sala de aula. Como se não tivesse fim suas dúvidas, Keren fazia muitas perguntas. A primeira delas foi sobre seus nomes.
"Parece que todos têm um nome estranho."
Ele sorriu, e ela ficou encantada.
"Sim. Não são os nomes que nossos pais escolheram para nós. São nomes cósmicos. Nomes que interagem com o cosmos e nos fazem sentir muito melhor. Digamos que Orion seja o nome de minha alma. O nome carnal, que minha mãe deu, não tem mais a mínima importância. A minha alma tem um nome. Um nome que carrego e carregarei em todas as vidas que viver."
Bem, reencarnação não era o tipo de teoria ou doutrina em que Keren acreditava, mas não disse nada. Ela só queria que Orion continuasse conversando com ela.
"Mas nem todos têm esse nome ainda. Ele nos é dado quando atingimos um estado que chamamos estado esotérico de comunhão. Mas não se assuste" ele riu, vendo a expressão de Keren ante à palavra ‘esotérico’. “Esotérico não significa nada mais que ‘oculto’, isto é, conhecimento em camadas. Cada vez que você estiver apta a adquirir um novo conhecimento, ele virá a você. Se não estiver preparada ainda, este conhecimento lhe será oculto, até que esteja pronta. Só isso.”
"Ah, entendi."
E os dois seguiram conversando até entrar no prédio dois da New Order High School. Do pátio, ao observar os dois sem ser visto, um sorriso comedido se desenhava no rosto de Junius.

***

Keren recebeu um novo horário de aulas, onde havia sido requisitada a participar das aulas de artes marciais como eletiva. Isso a deixou radiante, pois veria por mais tempo seus novos amigos, principalmente Orion. Keren morria de medo de ser requisitada para alguma dessas aulas chatas, como meditação transcendental, ioga, religiões antigas e tantas e tantas outras. Ao menos, lutar era legal. Também tinha a opção das danças orientais, mas estar com Orion era a melhor coisa que poderia ter acontecido.
Aisha tinha se tornado sua melhor amiga, e também sua parceira nas lutas, ajudando-a com os golpes e a filosofia das artes marciais. Coisas como defesa, controle da mente e do corpo, etc. E cada vez mais, Maureen foi se tornando uma amiga do passado.
Foi pensando nisso que, naquela tarde de sábado, Keren resolveu ligar para ela.
"Alô?"
"Maureen? Oi... sou eu, Keren."
"Ah... Oi, Keren? Como você está?"
"Bem... não nos falamos há tanto tempo, não é verdade?"
"É, você tem passado bastante tempo com os novos amigos."
"Eu queria voltar a passar tempo com você."
Maureen riu. "Querida, não se preocupe, eu também tenho meus amigos. Além do mais, é comum em New Order mudar a perspectiva de amizades de acordo com as atividades em comum. Por exemplo, agora estou me dedicando à Teologia e História das Religiões. É bem complexo, mas bem legal, de certa forma."
"Mas nossa amizade poderia prevalecer, podíamos sair, de vez em quando, só pra comer alguma coisa, alguma festa, sei lá..."
"Keren, quando você quiser sair, convide seus amigos pra isso. Eu saio com os meus. É assim que tem que ser agora."
"Mas Maureen, não precisa ser..."
"Precisa.” A voz de Maureen parecia alterada e nervosa. “Temos novas prioridades agora. Você precisa se preparar para aquilo que foi designada. Em dois anos, você estará pronta."
"Pronta? Pronta para quê?"
"Tenho que ir agora."
Desligou.
Keren ficou uns bons segundos olhando para o telefone mudo. O que Maureen queria dizer com "pronta"? E por que tanta afobação? E essa história de que não poderiam mais ser amigas por causa das prioridades? Desde quando isso impede alguém de ser amigo um do outro?
O alarme interno de paranóias de Keren soou. Alguma coisa estava errada. Então, o telefone tocou.
"Alô."
"Keren?"
O coração de Keren deu um salto. Era Orion.
"Ah... Oi, Orion, sou eu."
"Estava pensando se você não quer ir ao Anthurius."
Anthurius era um restaurante badalado da cidade. Mas o mais impressionante: era um restaurante vegetariano. Nos últimos anos, a população estadunidense se tornou cada vez mais obesa e adepta das fast-foods. Então, muitas pessoas passavam a morrer por diversos problemas de saúde. O que mobilizou a população, que estava alarmada com o índice de mortalidade e doenças devidas à má alimentação, e vários restaurantes vegetarianos começaram a aparecer, e inúmeras pessoas mudaram seus estilos de vida. A McDonalds se tornou obsoleta, e poucas lanchonetes desse tipo ainda sobreviviam nos subúrbios das cidades.
Mas isso tudo era um enorme paradoxo, pois ao mesmo tempo, à medida que o tempo passava e a população mundial crescia, havia menos terra para plantio e as pessoas estavam cada vez mais aglomeradas em bairros urbanos e suburbanos. Ter um apartamento próprio era um luxo para poucos como ela. Ninguém sabia ao certo de onde vinham os alimentos “naturais” vendidos nesses restaurantes, mas também ninguém se preocupava em saber.
Anthurius era o melhor desses restaurantes, pois seu público era de maioria jovem, por causa do cardápio inovador que substituiu as fast-foods, como hamburguer de soja, sucos combinados diferentes e batatas grelhadas, além de muitos vegetais das mais variadas formas.
Keren achou o convite maravilhoso, e logo esqueceu Maureen.
"Claro! Mas, vai mais alguém?"
Orion sorriu. "Não. Vamos só nós dois."
"Perfeito."
Um sorriso estampou o rosto de Keren.
"Às oito, então? Te pego aí?"
"Sim."
"Então, até lá."
"Até."
Radiante, Keren correu para se arrumar. Na sala, a TV estava ligada.
"As Forças Armadas Americanas atacam o Oriente Médio. O chefe de gabinete da Casa Branca informa que o embargo político e comercial da região já não era mais uma opção. A violência na região alcançou níveis inaceitáveis, diz ele. A Rússia e o Brasil cogitam enviar suas tropas e ajudar os países envolvidos, mas ninguém ainda sabe quais países estarão defendendo. Há muita especulação em torno do conflito e alguns ativistas se preocupam, perguntando-se se estamos vivenciando o início de uma Terceira Guerra Mundial. Segundo o economista e cientista político Jeffrey Richards, tudo não passa de desculpas para iniciar uma guerra pelo petróleo da região. A Casa Branca nega a afirmação e diz que as tropas são tropas pacificadoras."

***

O restaurante Anthurius era perfeito. Havia uma cortina de plantas num dos reservados. Era decorada com lindas lanternas e os móveis eram rústicos, mas imitavam bastante o formato dos móveis da antiga McDonalds.
Keren pediu um prato de grãos diversos germinados com uma salada temperada com especiarias. Orion pediu a mesma salada, com pão integral de mel e hamburguer de soja. Os dois pediram sucos de frutas. Este tipo de alimentação poderia parecer bizarra para os bárbaros que viviam vinte anos antes, mas para Keren, era natural. Ela já crescera neste ambiente. Nunca provara carne na vida.
Keren vestia um vestido escuro com seu cardigã vermelho, o seu preferido, meias e botas cano médio. Fazia frio nas noites de San Francisco, e o inverno se aproximava. Ela observou Orion. Alto e atlético, o belo rapaz usava uma camisa verde e um casaco de couro marrom, calças escuras.
"Você está linda."
Keren corou. "Obrigada."
"Você está bem? Quando liguei para você, eu senti sua voz um pouco alterada, talvez até triste..."
Keren baixou os olhos. "É verdade. Quando você me ligou, eu tinha acabado de falar com uma amiga ao telefone. Quer dizer, nem sei mais se ainda somos amigas..."
"O que quer dizer? Vocês brigaram?"
"Não exatamente." Keren franziu. "Não sei... é como se ela quisesse ser minha amiga, mas não pudesse, simplesmente porque não frequentamos as mesmas aulas."
"Ela falou alguma coisa sobre isso?"
"Assim, com todas as letras, não, mas disse que esse tipo de coisa acontece em New Order, e que tinhamos que nos adaptar às novas prioridades."
"Ela falou isso? Prioridades?"
"Sim. E também falou que eu tinha que me concentrar naquilo para o qual eu fui designada, e que em dois anos eu estaria pronta. Confesso que fiquei confusa nesta parte e não entendi nada."
Orion sorriu.
"Ah, Keren, não se preocupe com isso. Deixe para lá. Ela deve estar com ciúmes porque você está com novos amigos e não tem mais sua atenção completa. Deve ser isso." Ele deu de ombros. "Pelo que estou vendo, foi até melhor..."
Keren pensou um instante. "É, deve ter sido mesmo. Estar com vocês tem sido muito bom... acho que ela não gostou de dividir a atenção."
"Isso mesmo. Deixe ela para lá. Ela já deve ter outros amigos também."
"É... mas eu vou tentar uma última vez. Se é só ciúmes, então vou dar toda atenção para ela. Vou chamá-la para passar o sábado comigo, assistir filmes antigos e comer croquinhos de cenoura. Um programa de garotas."
Orion riu. "É, talvez isso resolva o problema."
Keren ficou aliviada. Tinha certeza que Maureen ficaria às boas com ela de novo. Até aceitaria visitar o retiro novamente e todas aquelas coisas que eles fazem. Sentia falta de Maureen. Ela era meio espevitada, sempre dava saltinhos de alegria quando a convencia a fazer alguma coisa. Era uma amiga.
"Com licença, eu vou ao banheiro e já volto."
"Ok."
Orion se levantou e foi até um reservado. Abriu uma pequena carteirinha que ficava em seu bolso. Lá estava seu paperphone. Com um toque dos dedos, a tela mudou e apareceu um rosto.
"A garota contou coisas. Falou em prioridades, em atividade designada, para a qual ela estaria pronta em dois anos."
O rosto projetado em 3D na tela do aparelho se contorceu numa careta de desgosto. Depois, falou com uma voz doce e tranquila.
"Confio em você. Já sabe o que fazer."
"Pelo bem da causa."
"Sim, filho, pelo bem da causa, pela paz e pelo amor infinitos."
Orion juntou o dedo indicador com o polegar da mão direita, fazendo um círculo, e deixando os outros três dedos apontados para cima, e encostou a mão no peito. A imagem em 3D recebeu o sinal com um movimento leve de cabeça, e depois sumiu. Orion fez outra ligação. Desta vez, sem imagens em 3D, e encostou o paperphone no ouvido.
"X9 MP. Número 5."
E desligou. Voltou à mesa, onde uma impaciente Keren esperava. A comida já havia chegado. Orion pegou as mãos de Keren e acariciou-as.
"Demorei?"
Keren olhou nos olhos de Orion e sentiu-se muito bem.
"De maneira alguma."
E começaram a comer tranquilamente.
Não muito longe dali, Maureen chega em casa e se prepara para um banho longo e demorado, com sais de banho, alecrim e cravos da índia. Permanecendo nua, unge seu corpo com óleo de especiarias, prepara seu ritual da noite, acende uma vela e canta uma canção milenar. Ao lado da vela, uma pedra representando a terra, um copo de água representando o elemento água, e uma folha seca, representando o vento.
"Espíritos dos quatro elementos, elementais da natureza, preencham esta noite com a mais pura paz e conexão com todos os seres vivos, em harmonia."
Maureen estica as mãos para a vela para sentir o calor do fogo. Cheira a folha para sentir seu aroma. Toca a pedra em sua testa para energizar-se. E bebe a água.
E passa mal.
Em poucos segundos, cai no chão, sem vida.

Olá, querido leitor.
Este é mais um sonho realizado, ver meus queridos personagens que invadiam minha imaginação estarem vivos e reais, nas páginas do livro Guerra Negra. É o primeiro livro da Saga Cidade de Cristal, ainda virão outros. Agradeço por você ter lido até aqui, mas não pare por aí, ainda há muitas coisas para acontecer nos próximos capítulos. 

Débora Falcão
Autora.

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