Como Se Livrar de Um Popstar



Evelyn Andrade
Como se livrar de um popstar


“Minhas lágrimas de hoje,
 serão a minha vitória de amanhã”                          
                                                        
                                                           
CAPÍTULO UM  
Sonhos que não se tornam realidade  
       
- Melissa você pode, por favor, parar de jogar esse joguinho idiota e vir me ajudar com as compras? – Pergunta Lucas irritado
Eu rolo meus olhos enquanto tiro os fones do ouvido e me encaminho em sua direção enfiando o celular no bolso traseiro de meu jeans.
-Como você é estressado, relaxa. – Eu digo a ele
Ele me entrega algumas sacolas que estão em suas mãos e nós nos encaminhamos para seu carro.
-Mamãe vai ficar preocupada, estamos demorando demais. – Diz Lucas
Lucas abre a porta malas colando suas compras e em seguida as minhas.
-Estaremos lá em breve, de carro é rapidinho. – Eu lhe digo
Ele fecha a porta malas com uma batida alta e desnecessária e se encaminha para a porta do motorista.
- Pelo menos já compramos o molho vermelho para a lasanha dela. – Ele diz enquanto entra no carro
Eu paro antes de entrar no carro me batendo mentalmente por ter esquecido algo tão primordial. Lucas abre minha porta.
-Você pegou o molho não pegou? – Ele pergunta desconfiado
Eu sorrio amarelo.
-Me desculpe. – Eu lamento
Ele bufa irritado.
-Melissa, se prestasse atenção no que eu digo ao invés de ficar mexendo no celular teria pegado o molho.
Eu rolo os olhos.
- Tudo bem, eu vou lá comprar.
Lucas sai do carro.
-Não, deixa que eu vá, não vou arriscar que você esqueça de novo.
-Mais eu vou só para comprar ele, não tem nem como confundir.
-Vindo de Melissa, eu não me surpreenderia.
Eu rolo olhos.
-Eu não tenho amnésia.
-Mais ás vezes parece ter, entre no carro, eu já volto.
Ele caminha no estacionamento do supermercado despreocupadamente quando ouço pneus rachando no asfalto com o barulho cada vez maior, eu dou alguns passos à frente a tempo de ver um lindo carro vermelho reluzente cantando pneu no estacionamento do supermercado e vindo aceleradamente pela rua em que estou.
-Lucas! – Eu grito
É inútil ele parece não me ouvir, uma brisa gelada passa por mim fazendo os cabelos de minha nuca se arrepiar e então tudo acontece muito rápido, o carro muda de direção, Lucas está bem à frente dele e ele vê o carro mais não a tempo de desviar, seu corpo é arremessado à milhas de distância enquanto vejo em câmera lenta sua cabeça bater contra o asfalto.
-MELISSA! –
Eu acordo em um sobre salto assustado com Linda ao lado de minha cama me olhando ansiosamente, na minha cabeceira o relógio marca dez da manhã de um sábado que eu pretendia dormir até meio dia, mas infelizmente, minha irmã caçula acabara de me acordar, da pior forma possível.
-O que você quer? – Eu pergunto cobrindo meu rosto com o travesseiro
Eu estou suada e minha respiração está ofegante, eu sonhei de novo, com Lucas e com o acidente e parece que cada vez que tenho esse sonho se torna mais assustador lembrar-se dele.
-Quero que você se inscreva no concurso por mim. – Pede ela
Eu gemo em insatisfação com sua resposta.
-Isso de novo Linda? Ainda é cedo, por que não começa a falar disso as três da tarde? – Eu pergunto
-Por favor, Mel... – Pede ela com voz de choro
Sabe aquela nítida sensação de desconforto e culpa quando você sabe que deveria fazer algo, mas não quer fazer? Então, talvez apenas talvez eu estivesse sentindo isso agora. Minha irmã pequena Linda tem uma paixonite louca por um cantor pop de Hollywood, eu sei isso é comum ainda mais para garotas de nove anos como ela. Leonardo Henrique é o tipo de pop star que você costuma ver estampado nas capas de revistas mais famosas de todo o mundo, exibindo uma fofoca nova toda a semana, minha melhor amiga Eliza é uma das muitas adolescentes que acha ele bonito e sarado e que com certeza votaram nele mais de trezentas vezes para ganhar o prêmio de ‘Melhor cantor do ano’ no TCA 2012. Loucura não? Mais eu, faço parte dos dez por cento da população que não baba pelo queridinho dos paparazzi, e assim como nossas avós que sentam em cadeiras de balanço e costuram coisas de tricô, eu nunca ouvi uma música dele.
Para ganhar mais popularidade ou o que quer que seja o astro pop lançou um sorteio imperdível para seus fãs, eles completariam fichas online e enviariam para seu site pessoal, dentro de um mês uma sortuda passaria dois dias com ele em Nova York disfrutando e conhecendo o caloroso Leonardo Henrique, minha irmã estava eufórica para participar e toda sua alegria foi ralo a baixo quando ela descobriu que a idade mínima para participar do sorteio era de treze anos, acho que todos nós já sabemos de onde vem minha fonte de culpa certo?
- Melissa, por favor! – Insistiu minha irmã
Eu apenas continuei deitada com o travesseiro sobre meu rosto.
- Já disse que não linda. – Minhas palavras saíram duras e autoritárias, mas eu sabia que desistir não era uma palavra conhecida para Linda.
Os olhos de minha pequena irmã se encheram de lágrimas enquanto que eu me preparava para ouvir e testemunhar o drama que ela sempre fazia quando ela queria as coisas. Então ela balançou os ombros como se desistisse de me atormentar, me olhou uma última vez e ver o que vi nos olhos dela me quebrou por dentro, aquele foi o mesmo olhar que ela dirigiu o meu pai quando ele nos deixou anos atrás e o mesmo olhar que ela sustentou durante o enterro de Lucas, de repente me sentiu pequena e quase quebrável como uma boneca de porcelana, eu não queria aquilo de jeito nenhum, o que fez eu me sentir, mas culpada acima de tudo, por que ás vezes não fazer o que os outros querem que você faça te faz sentir como uma idiota?
- Linda? – Eu a chamo e ela vira em minha direção. – Precisa de RG para fazer a inscrição?
Ela joga seus braços em cima de mim enquanto sorri lindamente dando destaque a suas covinhas infantis.
-Você é a melhor irmã de todo o mundo!


CAPÍTULO DOIS
Astros pop não são o meu forte

Minha irmã apertava minha mão tão forte que arriscaria dizer que ela estaria roxa mais tarde, mais claro eu estava exagerando um pouco, já que eu também estava ansiosa, mais não desesperada do tipo 'Oh meu Deus me deixe ganhar que prometo ir à missa todos os domingos', não, na verdade eu nem queria ganhar, eu estava ansiosa para que tudo aquilo acabasse logo e Linda minha irmã caçula ficasse frustrada e até chorasse um pouco por ter perdido, afinal essa é a vida e mais cedo ou mais tarde ela teria que aprender que natal passado não foi o papai Noel que trouxe aquela linda bicicleta nova de presente pra ela, e muito menos que ele desceu pela chaminé, pelos céus, nós nem temos chaminé! Mais continuando tudo, minha mãe sorri para mim quando eu a olho e sei o que ela diz com o olhar 'Finja que se importa', e eu tento, eu realmente tento, afinal não é isso o que mais o ser humano faz? Fingir, mais eu não fingia por que queria que ela ficasse satisfeita, eu fingia por que amava minha irmã e faria de tudo para ver um belo sorriso no rosto dela de novo. Quando o cara elegante de terno dentro da tela da televisão pegou um papel em uma bola de vidro enorme eu me abaixei ao lado de Linda.
- E a vencedora é- O homem começou na TV.
Apertei sua mão de leve e ela me olhou.
- Ei, se eu não ganhar não tem para o. -
- Melissa Layonel de Seattle! - Anunciou o homem na TV.
O tempo pareceu parar enquanto Linda pulava e gritava, ela realmente gritava e muito, ela se jogou no colo de minha mãe como se tivesse acabado de ganhar na loteria, quem dera, nunca tive sorte para ganhar uma bala se quer e agora que não quero ganhar algo é dado de mão beijada para mim, essa será uma das coisas que irei lembrar quando for apostar a primeira vez na loteria 'Torcer contra mim mesma', talvez seja um plano bom.
Quando linda me abraça suas bochechas estão vermelhas, sua voz parece um pouco rouca agora em consequência dos frequentes gritos, mais tirando isso ela parece perfeitamente bem, ou até mais que isso.
-Você ganhou! - Ela grita pelo que parece a milionésima vez.
Anoto mentalmente que dá próxima vez que ela ganhar algo, ou eu ganhar algo para ela, me certificar de que tenho tampões de ouvidos. Eu sorrio tentando parecer entusiasmada.
- Eu gostaria de poder ir.  - Ela faz seu famoso biquinho, mais de nada adianta, pois só garotas acima de treze anos poderiam participar, e Linda ainda não tinha pulado a casinha dos nove. O telefone toca em um som estridente ecoando pela casa, e eu já sei quem é, e Linda pelo que parece também, pois corre em direção a ele.
- Papai ela ganhou! - Ouço seu grito do corredor
Depois disso se ouve silêncio até a risada de minha pequena irmã irromper pela casa.
- Você sabe que fez o certo querida. - Diz minha mãe
Eu me jogo no sofá derrotada.
-É claro que eu sei, eu só não esperava ganhar. - Eu digo
Meu celular vibra ao som de um toque enjoativo na estante anunciando uma nova mensagem, eu me levanto e o pego, em seguida ele vibra de novo, eu sorrio imaginando quem é.
"Você ganhou garota! Parabéns”.
A mensagem de Elisa pisca na tela de meu celular e eu sorrio enquanto passo para a próxima dela.
"OMG, você vai passar um dia com o maravilhoso Leonardo! ”
Eu rio de suas mensagens imaginando ela me dizendo isso pessoalmente enquanto bate palmas de uma forma animada e completamente infantil e começo a respondê-las:
"Sim, ainda não acredito nisso, eu nem sequer o conheço! ”
Eu digito e envio, posso imaginar Eliza lendo minha mensagem enquanto corre na esteira da Academia e sorrio sabendo que minha melhor amiga está soltando fogos de artifícios por dentro.
- Meli? Papai quer falar com você. - Grita Linda do corredor
Obrigo-me a levantar do sofá e caminhar descalça até o corredor, Linda me fornece seu maior sorriso de apoio moral enquanto eu pego o telefone.
- Oi pai. -
Meu entusiasmo se esvaindo, meu pai e minha mãe se conheceram em um carnaval no Brasil, sim, minha mãe é brasileira e por mais que seja difícil imagina-la pulando na folia do carnaval da cidade maravilhosa meu pai jurou de pés juntos que ela dançava como uma profissional, minha mãe evita falar desse assunto o quanto pode, ao contrário do meu pai.
Meu pai é americano o que me faz uma hibrida de nações, bem, os dois "Ficaram" durante o carnaval onde meu pai tinha ido passar suas férias e ai mamãe ficou grávida de Lucas, eles não se casaram com esse fato, mas meu pai assumiu a paternidade completamente, mesmo morando em outro país, seu tempo era dividido entre trabalhar e ir os visitar no Brasil, minha mãe ficou grávida pela segunda vez – mesmo não estando casada com meu pai ainda - e então os dois decidiram finalmente se casar e se mudaram para Seattle.
 Quando eu nasci meu irmão Lucas já tinha cinco anos e oito anos depois do casamento de meus pais veio Linda, minha maravilhosa irmã caçula. No entanto, o casamento que parecia ser duradouro se tornou um completo fiasco e nossa casa foi transformada em uma zona de guerra, Mulher contra Marido, isso aconteceu meses depois do acidente em que Lucas sofreu e infelizmente morreu, minha mãe parecia carregar o luto a cada instante e de vez ou outra eu a pegava chorando pelos cantos, e eu sabia que bem lá no fundinho ela me culpava. As brigas se tornaram quase insuportáveis e quando Linda completou sete anos de idade eles se separaram oficialmente, sim foi um choque inicial, mais eu não virei uma revoltada e muito menos uma garota deprimida ou comecei a me cortar, não, eu apenas pedi que mesmo separados não esquecessem que tinham duas filhas- ainda vivas - que os amavam muito, e claro também pedi dinheiro.
Tudo ficou razoavelmente bem no limite do possível, nós tentávamos viver sem recordar tanto do acidente que tirou Lucas de nós, pois isso parecia ser mais sensato, e de certa forma não doía tanto, até que em um belo dia meu pai resolveu que precisava de espaço, sendo assim, ele se mudou para a cidade de Port. Angeles que ficava no interior de Seattle.
Agora ele nos vê duas vezes por mês, e liga três vezes por semana, ele disse que poderíamos ligar a qualquer hora para ele, e até mesmo alguns meses depois da separação eu ligava para ele em seu escritório mais raramente ele me atendia e quando atendia dizia que estava ocupado e que me ligava depois, então com o tempo eu parei de ligar, fim da história. Mas até hoje, é ele quem banca minhas idas ao cinema, minhas saídas com minhas amigas ou até mesmo meu curso de espanhol, claro, obrigações de pai.
- Oh, filha estou tão feliz por você!  - Diz meu pai do outro lado da linha
Eu rolo os olhos para sua tentativa de descontração desnecessária.
- Pais normais ficariam preocupados por sua filha ir viajar para conhecer um astro de Hollywood - Eu falo azeda
Ele ri do outro lado da linha e quase consigo imagina-lo sentado em seu sofá com uma xicara de chá em mãos na sua linda casinha amarela que ele sempre me chama para conhecer e eu nunca vou.
"Eu confio em você, e no seu grito potente se algo acontecer." - Ele diz bem-humorado.
Meu celular vibra em uma nova mensagem e clico em 'Ok' enquanto a mensagem carrega na tela.
"Esse é o seu Pop Star"
É a legenda que vem logo a baixo de uma foto com um rapaz incrivelmente bonito e sem camisa, não que eu nunca tivesse visto Leonardo Henrique em alguma foto de capa de revista, mas aquilo realmente me desequilibrou, seu cabelo era desgrenhado de um modo completamente sexy e anormal, eles eram de um louro que me lembravam a areia da praia e seus olhos eram verdes como duas esmeraldas cintilantes, seu físico não era menos que perfeito, com ombros largos e braços musculosos não duvidava que ele passasse boa parte de sua semana na academia.
- U.A. U - As palavras saem de minha boca de forma saliente.
- O que? - Meu pai pergunta do outro lado da linha
Eu admiro a foto mais alguns poucos segundos.
- Nada não, e então como está o trabalho? - Eu pergunto
Ele começa com um desenrolar de falas sobre como está orgulhoso que o caso em que está trabalhando está avançando positivamente, e sim, ele é advogado. Quando a conversa começa a me entediar eu me coloco no modo automático e abro a foto no meu celular mais uma vez, se aquele era Leonardo Henrique a mãe dele deveria ter orgulho por que o cara era simplesmente lindo, e quando digo lindo quero dizer maravilhosas e outras mil e umas palavras que eu não poderia citar por serem impróprias para uso de gramática.


CAPÍTULO TRÊS
Agarrando falsas esperanças,
Capturando novas realidades.

- Minha mãe disse que se eu ganhasse uma viajem dessas para conhecer um Pop Star famoso como o Leo, eu deveria agarra-lo.  - Eliza diz
Eu dobro mais uma blusa e a coloco delicadamente dentro de minha mala me impressionando quando Eliza o chama de ‘Leo’ como se fossem amigos de infância, isso me faz querer rir. Eliza corre pelo quarto para lá e para cá procurando meus sapatos e os selecionando sabiamente, seus cabelos um pouco abaixo dos ombros, na cor roxa, cintilando vez sim ou não quando o mesmo se batia em uma fresta de sol que estrava pela janela de meu quarto.
- Sua mãe disse isso, sério? – Eu pergunto catatônica
Eu rolo meus olhos em descrença, Eliza era bonita, na minha humilde opinião, agora pela vista dos garotos ela era ‘gostosa’, o que causava inveja em quase todas as meninas do nosso humilde colégio, pegar um pop star como o Leonardo se ela tivesse a oportunidade que estou tendo agora seria fichinha, mais dá para ver que a vida não é como queremos, e não é ela quem vai, sou eu, e eu até poderia gostar dele se eu não o odiasse de antecipação. Ódio é uma palavra muito forte, então vamos apelar para "Não gostar", por que é por causa dele que estou sendo obrigada a viajar, é por causa dele que minha irmã tem uma estranha paixão por ele e o idolatra, no quarto dela ela tem mais de sento e cinquenta fotos dele colocada em suas paredes e olha que ela tem dez anos, não quero nem saber quando tiver minha idade, é capaz de namorar um ‘Leonardo’ de papelão.
Eliza pega um vestido azul em meu armário e me entrega.
- Sim! Ela disse isso, acho que pensou algo como ‘O que é melhor que um cara rico e bonito? ’ -
Reviro os olhos novamente para sua interpretação descabida.
- Você não precisa disso Eli, você é bonita e especial, seu príncipe encantado está a caminho.  - Eu digo e sorrio.
Eliza pega um par de AL stars preto simples com os cadarços amarrados em um laço mau preso que estava debaixo de minha cama e o joga na mala.
- Nosso príncipe está vindo em cima de um jegue, que está em cima de uma tartaruga.  - Diz Eliza humorada
Eu rio de nossa desculpa manjada para nosso caso critico de falta de namorados.
- E que atualmente está parado em cima de uma pedra. - Eu completo
Nós duas rimos da troca de frases e eu puxo o zíper da mala a fechando.
- Espera! Não vai nem levar um biquíni?  – Pergunta Eliza enquanto busca em meu guarda roupa alguma peça intima de praia.
Eu balanço a cabeça negando.
- Estou indo para Nova York e não para Califórnia, o que com certeza não precisarei lá é de um biquíni. -
- Tem certeza? Talvez o Leonardo goste... - Começa Eliza com uma cara maliciosa
Jogo meu travesseiro certeiramente em sua direção e ela não é rápida o bastante para desviar, ele pega em cheio em seu rosto e eu caio na gargalhada.
- O Leonardo é bonitinho sim, mais como eu disse está tudo certo vou chegar lá tirar uma ou duas fotos com ele, pedir para ele autografar a foto da minha irmã, a sua camiseta, passar o dia o seguindo feito um cachorrinho, repetir tudo isso no outro dia, e então venho para casa, Fim de nosso romance amoroso.  – Eu lhe digo
Eliza joga o travesseiro de volta para mim.
 - Sua chata! Acreditar em contos de fadas de vez em quando não faz mal sabia? – Diz Eliza ironicamente.
Contos de fadas, um trio de palavras que resumem a infância de setenta por sento das crianças atuais. Príncipe encantado? Eles não existem, quando você se magoa não há fada madrinha no mundo que vá aparecer para você e curar seu coração partido em um toque de mágica, é isso que você aprende com a Disney, é tudo uma grande bobagem e uma jogada de marketing para que cada vez mais crianças no mundo imaginem que possam ter castelos, coroas e lindos príncipes montados em seus cavalos brancos, mas se tem uma coisa que só a vida pode ensinar é que: Rostos bonitos e sorrisos brilhantes tendem a quebrar seu coração.
Eliza pega o travesseiro o arrumando em cima de minha cama desnecessariamente.
- Meli, ele tem pinta de príncipe encantado, vamos descobrir se realmente é um. – Eliza pisca seus olhos em minha direção.
Eu sorrio de lado, na minha cabeça passando mil pensamentos sobre o que eu iria fazer em Nova York.
- Pode apostar que sim - Eu digo
Linda entra saltitante em meu quarto, seus cabelos estão amarrados em uma linda trança embutida e ela veste um lindo vestidinho florido na cor laranja.
-Meli, vem aqui ver uma coisa? - Ela pede enquanto se aproxima
Eu me deito na cama ao lado de minha mala e encarando o teto.

- Não pode ser depois Linda? Estou acabando de arrumar as coisas para viajem.  – Eu lhe digo
Ela sorri meio cabisbaixa e assente afirmando, se aproxima da cama e beija meu rosto com delicadeza exagerada.
- Obrigada Meli, você é a melhor irmã de todo o mundo. - Ela diz sorrindo
Eu sorrio de seu comentário, era aquilo, apenas o sorriso dela que fazia tudo aquilo valer a pena desde viajar para conhecer um estranho ou até mesmo fingir que está feliz fazendo isso.
- Eu sei você já me disse isso umas quarenta vezes! – Eu murmuro quando ela me solta
- Mamãe mandou avisar que iremos para o aeroporto daqui a pouco. - Ela diz e sai do quarto.
Eliza Ri de forma descontraída.
-Vai ficar tudo bem, pode acreditar. – Ela me assegura com um sorriso de animo em seus lábios rosados.
Ela me abraça se despedindo enquanto pega sua bolsa rosa Pink em cima de minha cabeceira e pisca algumas vezes sem me encarar.
- Já parou para pensar em como vai ser na escola quando você voltar? Todos vão ficar em cima de você para saber como foi sua viajem. -
Sorrio irônica, estávamos em meados de outubro e nós duas cursávamos o terceiro ano do ensino médio, em menos de duas semanas nossas cartas de admissões em faculdades chegariam e eu finalmente poderia decidir onde viveria pelos próximos quatro anos, eu não queria algo muito longe, mas mesmo assim não consegui me impedir de me inscrever no programa de bolsas da Universidade de engenharia em NY, e olha que coincidência eu estava indo passar dois dias lá agora, caso eu fosse aceita a probabilidade deu realmente aceitar a bolsa era alta.
- É Claro, vou ter meus quinze minutos de fama dentro de uma escola pública do ensino médio. - Eu digo sarcasticamente.
Nós duas rimos, eu nunca estudei em escolas particulares, mas sempre fui alguém esforçada e merecedora de mérito, a famosa “orgulho dos pais” só que nesse contexto eu era apenas o orgulho de minha mãe, desde que meu pai não se importava com nada que eu fazia ou deixava de fazer.
- A escola pública mais rentável da cidade.  - Dizemos junto o lema de nossa infortunada escola que é repetido pelos professores todas as manhãs.
Eliza beija minhas duas bochechas deixando-as pegajosas com seu brilho labial que tem um cheiro estranho de melancia e balança a cabeça de forma incoerente.
- E não se esqueça de disfrute do pop star. – Diz com um sorriso malicioso nos lábios
Preparo-me para mandar-lhe um travesseiro na cara, mas ela corre porta a fora o mais rápido que pode e posso ouvir sua doce e melodiosa risada enquanto se afasta de meu quarto.

                                                                    *******

Uma vez eu perguntei para minha irmã qual o fundamento do seu amor por Leonardo Henrique, ela só me disse "Ele é lindo, e sua voz é parecida com a de um anjo, e além de tudo ele ama os fãs dele", ela por acaso já ouviu algum anjo cantar para poder fazer alguma comparação de voz? Eu achei aquilo estranho, mas achei melhor não questionar minha pequena e fanática irmã, eu não queria destruir a imagem de seu pop star preferido como tinha destruído a imagem do ‘Papai Noel’ para Eliza quando tínhamos sete anos, lembrar daquilo me fez sorrir.
Eu e Eliza nos conhecemos de um modo muito peculiar para melhores amigas, na fila para conhecer o papai Noel do shopping, na época Eliza não tinha cabelos roxos e sim castanhos claros de uma cor irrevogavelmente bonita, ela estava na fila a minha frente enquanto segurava a mão de sua mãe e sorria com os olhinhos brilhando na direção do papai Noel.
Em um ímpeto de empolgação ela se virou para mim, a garotinha impaciente da fila que mastigava um chiclete cor de rosa de mãos dadas com o pai.
- Está aqui para ver o papai Noel? – Ela perguntou em sua voz infantil e feliz
Eu balanço a cabeça afirmando.
-Qual se nome? – Ela pergunta curiosa
-Melissa e o seu?
-Eliza.
Nós duas nos encaramos enquanto a fila anda e mais fotos são tiradas de crianças sorridentes no colo de um velho com uma barba totalmente falsa e nada sutil.
-Mamãe disse que queria uma foto de mim com ele para o natal. – Eu digo apontando com o queixo em direção ao papai Noel fajuto do shopping.
Ela sorri mais amplamente mostrando as duas janelinhas graciosas que carregava em sua boca.
- Mas é claro que ele não existe. – Eu digo depois de alguns segundos
O sorriso da pequena garotinha some e dá lugar a olhos esbugalhados e boca aberta em descrença, eu fico frustrada ao tentar fazer uma bola de chiclete e a mesma acabarem estourando antes mesmo de se tornar uma bola, então eu me virei para a garotinha com os olhos lacrimejados e disparei:
- Aquele homem. – Eu aponto novamente em direção ao velhinho. – Foi pago para se vestir com aquela roupa vermelha e distribuir aquelas balas horríveis dizendo ‘Ho – Ho – Ho’.
Os olhos da pequena garotinha parecem querer saltar das orbitas enquanto eu continuei a mascar o meu chiclete.
- Mas e os presentes? – Ela pergunta indignada
-São nossos pais que compram horas! – Eu digo como se fosse à coisa mais óbvia do mundo.
As lágrimas de Eliza se derramaram por seu rostinho de boneca e logo sua mãe me olhou com cara feia, eu dei de ombros, semanas depois nós voltamos a nos encontrar na pré-escola e desde aí tivemos contato infinito no ensino fundamental até o médio, viramos amigas inseparáveis.
Mesmo depois de tanto tempo, Eliza me culpa por eu ter estragado sua imagem do natal e insiste dizer que eu arruinei sua infância – o que é uma grande mentira- já que ela destruiu minha páscoa quando eu tinha oito anos dizendo que o coelhinho da páscoa não existia muito coerente da parte dela.
 ‘Toda vez que penso em natal, me vem à imagem daquele homem do shopping vestido de papai Noel. – Eliza sempre me diz isso em épocas natalinas e eu desato a rir.
Meus olhos piscam afastando as lembranças que me tomaram por alguns segundos enquanto com minha visão eu analiso o aeroporto.
- Melissa está me ouvindo? –
Eu olho na direção de minha mãe que tem minha passagem em mãos me encarando preocupada.
-Desculpe, não ouvi nada do que você disse. – Respondo sincera
Minha mãe se aproxima de mim e coloca as mãos em meus cabelos como se estivesse arrumando algo em meu rabo de cavalo simples, logo depois sorri em compreensão mais não se afasta.
- Aquela cidade é muito perigosa! Ligue-me assim que chegar, não saia sozinha, nada de beber, nada de sexo! – Ela diz em tom de autoridade
Olho ao redor para ver se alguém ouviu o que minha mãe faz questão de gritar e me sinto envergonhada momentaneamente com sua faixa de proteção desnecessária.
- O que acha que estou indo fazer em NY? Prostituir-me? – Eu pergunto indignada
Minha mãe me dá uma tapa no braço e eu logo coloco a mão sobre o mesmo rindo.
-Me desculpe, mas você exagera mãe! – Eu digo
A mesma sorri para mim.
- O que é prostituir? – Pergunta Linda parada ao meu lado.
Os olhos de minha mãe encaram Linda só para depois faiscarem em minha direção enquanto eu sorrio amarelo.
- Nada querida. – Diz minha mãe
- O que é? – Insiste Linda
Eu rolo os olhos para a superproteção de minha irmã.
-Mulheres que vendem o próprio corpo. – Eu digo
-Melissa! – Briga minha mãe
- O que? Um dia ela ia ter que ficar sabendo não é, afinal, essa questão é simples espere ela começar a estudar de onde veem os bebês. – Eu digo
Os olhos de Linda piscam em uma inocência genuína.
-Ô mãe, de onde veem os Bebês? – Ela pergunta
Minha mãe me olha brava e eu me desato a rir.
-Isso não é assunto para uma menina da sua idade. – Diz minha mãe
Linda rola os olhos, porém não questiona, meu voo é anunciado pelo microfone com uma urgência desnecessária pela voz quase morta da locutora minha mãe me abraça carinhosamente.
- É só por dois dias filha, logo você estará de volta. – Ela diz mais para si mesma do que para mim.
Meus olhos começam a se encher de lágrimas, eu nunca havia se quer dormido na casa de alguma colega, quanto mais viajar para outro estado, eu me sentia temerosa e preocupada em quanto ás próximas hora então apenas respirou fundo e pensei ‘Que se dane’.
- Ligarei para você assim que chegar lá. - Eu digo
Eu abraço linda rapidamente enquanto ela sorri animada e agradecida.
- Tchau maninha! - Se despede
- Tchau pequena.  - Eu digo
Ajeito minha mala de mão onde levo poucas coisas sobre o ombro esquerdo, caminho em direção ao portão em embarque que está apenas a poucos metros de onde estamos.
- Filha? - Minha mãe chama
Eu olho para trás vendo-a com lágrimas brilhando em seus olhos, ela se sentia da mesma forma que eu, vulnerável, procurando pequenas soluções para confortos imediatos.
- Eu te amo. -Ela diz
Sinto meus olhos arderem novamente e foco meus olhos nas grandes e florescentes lâmpadas do aeroporto evitando um derramamento de lágrimas desnecessário.
-Eu vou voltar logo, mãe. – Digo implicante.
Os olhos de minha mãe passam por meu rosto cuidadosamente enquanto eu suspiro profundamente.
- Eu também te amo. - Eu digo 

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