Flor de Fogo



Janaina Barroso
Flor de Fogo



“O amor é uma flor delicada, mas é preciso ter coragem de ir colhê-la à beira de um precipício.” (Sthendal)


Prólogo 27 de Março


 “Provavelmente, aos 23 anos, estarei casada com um homem lindo, e que amarei muito. Talvez, com um bebê, com aquele cheirinho de sabonete que só os bebês têm, igual ao que a Cibely tinha quando nasceu. Serei bem-sucedida, escrevendo um BestSeller por ano, pois o que mais eu poderia fazer a não ser escrever? Terei dado um jeito nos meus cabelos rebeldes, e talvez mudado a cor, odeio todos da minha idade me chamando de ferrugem e sardinha, mas cabelo de fogo também? Não podia ser Fogo só no signo de Áries? Tenho que ser no corpo inteiro? Não vejo a hora de crescer e nunca mais ser tratada como boba. E esse é meu desejo de aniversário.”


    Jibely Flores, aos 13 anos, embrulhou o pedaço de papel de caderno escolar e jogou dentro da privada, de olhos fechados mentalizando seu desejo.
    A revista +13Teen dizia que era preciso jogar o pedido em água corrente, mas que na falta de um rio/ riacho/ lago no quintal de casa, a descarga serviria.
    Infelizmente Jibely não comprou mais aquela revista adolescente para maiores de 13 anos, pois estava ocupada demais tentando ser adulta, e não viu na edição posterior, na seção de "Erros da Revista", onde diziam que cada Signo e seu Elemento tinham um procedimento diferente para realização dos pedidos.
    Quem fosse dos signos de Fogo como ela, deveria queimar o pedido na chama de uma vela. Quem fosse de Água, jogar em água corrente. De Ar, jogar o pedido ao vento, e de Terra, obviamente, deveria enterrar o papelzinho.
    Cansada da perseguição na escola, depois desse dia, ela nunca mais foi a
mesma. Se isolou das pessoas e se tornou uma menina sozinha. Sempre esperando que seus sonhos se realizassem.


Recordação

Agora, o cheiro áspero das flores leva-me os olhos por dentro de suas pétalas. Eram assim teus cabelos; tuas pestanas eram assim, finas e curvas.
 As pedras limosas, por onde a tarde ia aderindo, tinham a mesma exaltação de água secreta, de talos molhados, de pólen, de sepulcro e de ressurreição.
E as borboletas sem voz dançavam assim veludosamente. Restitui-te na minha memória, por dentro das flores!
Deixa virem teus olhos, como besouros de ónix, tua boca de malmequer orvalhado, e aquelas tuas mãos dos inconsoláveis mistérios, com suas estrelas e cruzes, e muitas coisas tão estranhamente escritas nas suas nervuras nítidas de folha, - e incompreensíveis, incompreensíveis.

Cecília Meireles


Capítulo 1- Boa Noite   

Um ano antes

    Faltando apenas dois dias para o casamento, Ryan a chamou para jantar fora. Estava lindo como sempre, bem-arrumado, seus cabelos claros caiam lisos sobre a testa que ele ajeitava com muita elegância. Mas tinha algo errado, ele não a olhava mais nos olhos.

    Pensou que pudesse ser a correria, mal haviam se visto no último mês, Jibely enlouquecida com os preparativos do matrimônio e Ryan dizia ter muito trabalho na empresa de seu pai.

    Mas antes que ela pudesse provar o prato principal, ele vomitou estas palavras em cima dela:

    “Conheci outra pessoa.”

    Os olhos do charmoso Ryan brilharam enquanto erguia mais uma taça de vinho e bebia em uma golada só. Quem bebe vinho em uma golada só?

     ––Não estou entendendo, é brincadeira não é?

    Ela se levantou procurando algo, talvez um amigo que estivesse filmando a pegadinha para postar na internet. Tudo agora parava na internet.

    –– Jibely! Senta, é sério. Resolvi contar em um lugar público justamente para você não 'fazer cena'.

     Em vez de dizer isso a olhando nos olhos, ele olhava para a aliança, que Jibely alisava nervosamente com a ponta do dedo indicador.

    –– Quem é ela?

    Os olhos dela ardiam, tentou se manter calma e madura até que ele terminasse, mas seu gênio forte e explosivo, logicamente, não deixou.

   ––Não importa quem ela é, mas estou oficialmente, terminando nosso noivado e quero a...

     Ryan ainda olhava para a aliança quando Jibely completou a frase:

   ––Aliança! Ah! Quer a aliança 'baby'? Pra dar para a nova namoradinha? Então vem pegar!

   Ela pegou a bolsa que estava embaixo da cadeira e correu em direção à cozinha do restaurante. Ryan vinha logo atrás, furioso, mas quem deveria estar com raiva era ela, bom e ela estava mesmo. Com muita raiva naquele momento.

    Um fato sobre Jibely: Quando está nervosa, seu sangue sobe para a cabeça, seus olhos ardem e dão aquela piscadela de um lado só, que somente os psicopatas em filmes dão, antes sair matando todo mundo.

    Se o Ryan a conhecesse bem, teria notado a sua piscadela um minuto antes dela abaixar e pegar a bolsa.

    Chegou na cozinha já sendo barrada por um garçom que estava saindo e que -infelizmente- teve de levar um chute em suas fraquezas de homem. E Ryan quase a alcançava quando entrou na cozinha fechando a porta rapidamente.

    Procurou a maior panela que tinha ali, e jogou a coisinha dourada nela. Uma pena que ninguém tenha visto, o Chef da cozinha estava hipnotizado enquanto provava um prato, fazia uma cara de satisfação, e os outros garçons corriam de um lado para o outro empilhando pratos nas mãos e braços, se preparando para a entrega dos pedidos. Jibely deu uma risadinha e se virou batendo bruscamente em algo.

    –-Jibely, o que você fez? Eu sabia que era doida, mas não tanto!

     Seus olhos não a olhavam, vislumbravam agora sem brilho algum, uma imensa panela de algo que parecia ser molho de carne.

    ––Claro! O seu ego de homem ficaria mais feliz se eu ficasse choramingando na mesa de jantar enquanto comia a sobremesa regada a lágrimas. Mas Nunca...NUNCA!

    Virou as costas pensando em ir pedir desculpas ao garçom atingido pelos seus joelhos. Estava se sentindo muito mal por isso.

   ––Sabe que posso pagar pela panela inteira e pegar minha aliança de volta não é?

     Ryan deu aquele sorriso soberbo que vinha dando ultimamente, desde que foi promovido na empresa de seu pai. Jibely estava há dias tentando se enganar em não pensar muito nisso.

    ––Mas eu não tenho a menor dúvida disso, e depois de pegar seu precioso aí, faz o favor de explicar à nossa família e aos convidados que não haverá mais casamento pois ninguém tem culpa da sua estupidez.

    Por dentro ela queria chorar, mas por fora  apenas sorria ironicamente. Jibely era assim.

    ––Farei com o maior prazer.

    Ryan deu uma piscadinha para Jibely, depois foi conversar com o Chef, que a fuzilava com os olhos.

    Jibely pensou, quanto a aliança devia valer, para Ryan a colocar por cima de seus sentimentos. Talvez ele nunca tenha a amado de verdade. Que homem termina com alguém nas vésperas do casamento? E por uma outra mulher?

   ––Ok! Ingenuidade minha.

     Ela pensou quase em voz alta. Milhões de homens devem fazer isso todo o tempo, mas Jibely nunca pensou que ela seria a próxima a entrar nessa estatística.

    Então foi se desculpar com o garçom, que estava sentado em um canto do restaurante choramingando e perguntou, morrendo de vergonha, se ele ficaria bem.

  ––Sim, estou acostumado a levar joelhada de uma mulher furiosa e linda da tribo dos cabelos de fogo. Isso acontece todo dia, não se sinta especial.

    Riram ao mesmo tempo. Pelo menos ele tinha humor. Sentiram algo diferente imediatamente, sentiram que poderiam ser amigos.

    Jibely explicou tudo o que houve e ele entendeu, depois de uma conversa sincera, foi embora com o número de telefone do garçom, prometendo se redimir com ele de alguma forma.

    Mas antes precisava digerir este jantar indigesto. Estava difícil manter uma pose de mulher forte todo o tempo, mas jamais desabaria na frente de Ryan. Ainda o amava. Como não amaria alguém com quem iria se casar? E isso fazia doer mais ainda.

    Não se lembrou como chegou em casa, achou ter ido no modo automático. Mas infelizmente teve que ver o Ryan mais uma vez naquela noite infeliz, quando ele descobriu que a coisinha dourada no molho era uma moedinha de 10 centavos.

   ––Sabia que tive que pagar uma fortuna por uma maldita panelada de molho, para encontrar míseros 10 centavos lá dentro?

    Ryan sentou-se no sofá depois de jogar a moeda em cima dela com toda a força possível.

    Ela riu. Jamais demonstraria sua tristeza. Não conversaram muito, ele só queria pegar a aliança e ir embora. Ela queria enfiar a cabeça em um buraco e não sair nunca mais dele.

    Ela pegou a aliança e pareceu que ia devolvê-la, mas antes que ele pudesse esticar os braços, Jibely correu mais rápido que um Queniano da São Silvestre e a enfiou na caixinha de areia do seu gato, bem no meio de um cocozinho sinistro do Veludo.

    Ryan enfiou a mão lá dentro e foi embora furioso dizendo que nunca mais falaria com ela e que acabar o casamento antes do casamento de fato, era a melhor coisa que ele tinha feito na vida.

    Mas não era ela que devia estar brava?

    Quando seu sangue esfriou e ao mesmo tempo tropeçou em uma caixa de presente de casamento que estava na sala, junto com outros presentes que teria de devolver logo, o choro foi inevitável.

    Chorou, chorou e chorou mais um pouco. Gritou, quebrou alguns presentes e só parou quando sentiu uma pontada no estômago.

    O que ela diria para seu pai e sua mãe?

    Abraçou Veludo que ronronava bem baixinho em meio as lágrimas. O levou para o quarto, deitaram na cama, e enquanto ele afofava o cobertor ela disse em voz alta e desconsolada.

  ––Agora somos só você e eu! Boa Noite querido.

    Então adormeceu.

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