A Herdeira - Série Kaelium


Tatiane Durães
A Herdeira


Prólogo

O choro da recém nascida era ouvido por todos no castelo do reino de Zefir. A primogênita e futura rainha havia nascido e todos estavam em festa. Por muito tempo acreditou-se que a rainha fosse incapaz de gerar um filho para ocupar seu lugar no trono quando chegasse a hora.
Por esse motivo o reino vizinho, Amanzi, ameaçava ocupar o trono e dominar as terras de Zefir. Mas agora com o nascimento da princesa essa ameaça não existia mais e todos comemoravam.
Zefir era um dos quatro principais reinos do mundo de Kaelium, também o mais fechado e não receptivo aos outros povos. Todos zefinianos eram, por natureza mágicos, eram capazes de dominar o ar.
Amanzi o reino vizinho era o menor em território e sem controle seu povo crescia. Os amanzianos eram dominadores da água e rivais declarados do povo de Zefir.
Por lei quando uma rainha não era capaz de gerar uma filha para ser sua sucessora, os principais reinos escolhiam entre eles uma sucessora para herdar o trono e Amanzi fora escolhido, e aquele ano seria o último reinado dos zefinianos sob seu próprio povo.
Porém uma benção desceu sob a rainha Chiyo que finalmente conseguiu engravidar e deu à luz a uma linda menina de cabelos negros e olhos verdes. Chamaram-na de Akira.
Conforme o costume, a primogênita deveria sempre ser uma menina, assim herdaria o trono e casaria com um homem honrado de seu reino. Os zefinianos tinham uma lenda, de que a rainha só se apaixonaria uma vez na vida, sempre fora assim. A atual rainha, Chiyo, mantinha a chama do amor acesa por todo o longo tempo em que esteve casada com seu escolhido rei.
Todos os outros reinos já tinham suas herdeiras e sucessoras dos tronos, por esse motivo o reino do vento fora tão pressionado. As rainhas deviam ter sempre as mesmas idades e assim comandar pelo mesmo período seus povos.
Enquanto o povo do vento comemorava o nascimento de sua futura rainha, o reino da água chorava o fato de que não poderiam mais tolerar o nascimento de vários filhos em seu povo. Fora decretado uma lei, de que cada casal poderia ter apenas um filho, fosse menina ou menino. O espaço para a plantação era escasso, pois todos queriam ter uma casa grande e cada dia mais a cidade adentrava para o campo e mais comida era consumida, mais árvores eram cortadas e mais lixo era acumulado.
A rainha de Amanzi tinha esperanças de que sua caçula, agora com dois anos, se tornasse herdeira do trono de Zefir e que seu povo pudesse se mudar para o território do povo do vento. Isso nunca acontecera, nunca em toda a história de Kaelium um povo teve uma rainha que não fosse uma deles, e isso estava ocasionando um grande burburinho entre os povos.
A todo momento chegavam notícias de outros reinos que pretendiam invadir Zefir e a rainha amanziana estava preocupada. Agora a notícia do nascimento da herdeira acabara com todas suas esperanças e de seu povo.
— Mamãe? – chamou a pequena Naomi vendo a mãe e rainha chorar ao ler a notícia no papel em suas mãos. — Não vou ser mais rainha?
— Eu prometo meu amor, que será – a rainha secou as lágrimas, se levantou de sua confortável cadeira e saiu do quarto da pequena. Ela tinha um plano. Ela faria de sua pequena Naomi a rainha de Zefir, custe o que custar.
Dois meses mais tarde a pequena Akira fora sequestrada de seu berço e de seu lar. O povo de Zefir chorou e orou por dias, mas ninguém teve notícias de seu paradeiro. Dois anos mais tarde Naomi fora levada para aprender os costumes do povo do vento. Agora com quatro anos a menina era teimosa e temperamental, fazia com que todos no reino se curvassem às suas vontades.
A rainha Chiyo caiu em depressão, mas diante do temperamento difícil da pequena dominadora da água, ela se levantou e fora cuidar pessoalmente da educação da terrível menina, com medo de que seu povo sofresse nas mãos de uma rainha mimada e egoísta. 

Capítulo 1

Dezessete anos depois, milhares anos luz de distância de Kaelium, no planeta Terra dois casais de namorados se divertiam no cinema.
— O filme foi incrível, não foi? – perguntou Carolina toda empolgada.
— Não assisti nem metade – declarou Samantha.
Elas riram juntas. O filme era de terror e Samantha odiava filmes de terror, só aceitou ir por causa do namorado Eduardo, que queria muito assistir. Ela convidara a amiga Carolina com o namorado, os dois gostavam muito desse tipo de filme.
Enquanto os namorados foram pagar o estacionamento as duas ficaram conversando na praça de alimentação.
— E então amiga, você e o Eduardo, estão sérios hein? – Carolina perguntou levantando uma sobrancelha e sorrindo maliciosamente para a amiga morena. — Quem sabe finalmente você tenha sua primeira vez.
Samantha sorriu envergonhada. Apesar de linda, super concorrida na escola onde estudava, líder de torcida e inteligente, ela não namorava muito e terminava o namoro antes que ficasse sério demais, com a desculpa que havia se cansado.
— Amiga isso só vai acontecer quando eu encontrar o meu príncipe encantado, ele terá que vir em um cavalo branco – ela riu.
As duas praticamente cresceram juntas. Eram vizinhas no condomínio militar e estudavam na mesma escola desde o berçário. Carolina era filha do major Santos. Decidida como a mãe e de temperamento explosivo como o pai. Loira de olhos azuis, sempre chamava a atenção por onde passava. Namorava o mesmo rapaz, Carlos, desde os quatorze anos. Carlos era filho do tenente Silva. Todos eram vizinhos, inclusive Eduardo.
Eduardo havia chegado recentemente no condomínio. O irmão mais velho fora transferido de batalhão ano passado, depois de um acidente misterioso com um asteroide.
Samantha se sentia deslocada no meio de todos os cabos, tenentes, majores e toda a vida militar dos pais e quando Eduardo chegou, logo se encantou com os grandes olhos verdes da morena. Ela se aproveitou do recém chegado, que não conhecia sua fama de viúva negra, e se apoderou logo do coração do jovem.
Eles estavam namorando há dois meses, mas ela não se sentia apaixonada, era mais um passatempo. Ela acreditava que logo se apaixonaria de verdade.
O seu pai, general Assis, ficaria muito feliz se o namoro da filha fosse à diante, já que Eduardo se alistara no exército e no próximo ano e se formaria em engenharia. Era o melhor genro que ele poderia pedir.
— Não se anime pai, não estou apaixonada – resmungou Samantha ao chegar em casa e encontrar o pai na sala tomando chá.
Ele sorriu como sempre fazia quando a filha dizia que ainda não tinha se apaixonado. Ele sabia que dentro de seis meses ela estaria de namorado novo. Só ficava tranquilo, pois filha e mãe eram muito amigas, ele sabia por intermédio da esposa que a filha ainda era virgem.
Samantha subiu a escada e entrou em seu quarto, ainda conseguia ouvir o som da televisão da sala, onde o pai assistia o jornal local e tomava chá. O noticiário falava sobre um meteoro que caíra no estado de Minas Gerais na semana passada, onde ninguém conseguira encontrar nenhum vestígio.
Ela sabia que a divisão do pai era responsável pelo estudo desses meteoros e ele sempre ficava preocupado quando caía algum no país, e eram muitos ultimamente. Fora é claro aqueles que caíam no oceano, por exemplo. O problema desses recentes meteoros era que eles caíam inteiros, não explodiam ao atingir atmosfera terrestre.
O general saíra o mês todo em serviço em busca dessas rochas do espaço e voltava cada vez mais preocupado. Ele não conversava muito sobre o serviço em casa e muita coisa era sigilosa, mas Samantha desconfiava que a mãe sabia muito mais do que contava.
— Como foi o cinema? – a mãe dela perguntou ao entrar no quarto.
A mãe de Samantha, Ana, era uma mulher de cinquenta anos, loira de olhos verdes. Fazia academia regularmente e caminhava pelo condomínio todos os dias de manhã com a mãe da Carolina. As duas eram muito amigas.
— Foi ótimo mãe, apesar de o filme ser horrível – ela sorriu para a mãe.
— E o Eduardo?
— Ah mãe! Ele é bonito, atencioso...
— Mas?
— Mas não é quem estou procurando.
— Minha filha, e quem você está procurando?
Ela olhou para a mãe. Não tinha certeza do que estava procurando, mas sabia que alguém estava para chegar em sua vida.
— Não sei, só vou saber quando encontrar.
 A mãe riu.
— Me conte quando encontrar.
— Pode deixar.
Ana saiu do quarto da filha e desceu para fazer companhia para o marido. Samantha, às vezes ficava escondida observando os pais. Eles eram muito carinhosos um com o outro, o pai sempre surpreendia a mãe de algum jeito. Ela desejava encontrar alguém assim.
Voltou ao quarto e ligou o computador. Ela passara o dia no shopping com os amigos e o namorado, e evitava entrar no Facebook, o ex-namorado ficava perturbando-a pelo bate-papo, mas ela queria postar uma foto e logo o inconveniente do Igor a chamou.
Ela revirou os olhos, ignorou a telinha do bate-papo, postou a foto e saiu. No dia seguinte teria aula cedo e ela queria ler antes de dormir. Ganhara um livro novo do Eduardo naquela semana, "Um Homem de Sorte" de Nicolas Sparks. Romance não era exatamente o gênero favorito dela, mas ela teria que ler para fazer a alegria do namorado. Pelo menos por enquanto.

Acordou e o Sol ainda não havia nascido, mas já sentia o cheiro de café vindo da cozinha. A mãe acordava cedo para preparar seu café antes de ela ir para a escolha, estava no último ano e tinha que escolher o curso da faculdade para o ano que vem. Ela queria fazer Engenharia Aeronáutica, mas não sabia se o pai aprovaria, ele queria que ela servisse o exército como ele.
— Bom dia mãe, bom dia pai.
— Bom dia meu amor – a mãe respondeu.
— Bom dia filha – o pai resmungou. —Temos uma chuva de meteoritos prevista para cair na região essa tarde, fique dentro de casa, certo?
— Certo pai.
Ela notou que o pai estava mais preocupado do que o costume, mas ele andava assim há dias, então ela não deu atenção. Tomou o café da manhã e foi para a escola.
A manhã passou rápido e logo a mãe estava indo busca-la. A escola não ficava longe do condomínio, mas a mãe a buscava todos os dias, e também dava carona para a Carolina e o Carlos.
— Eu vou fazer compras hoje e você não saia de casa.
— Mãe, o pessoal pode vir aqui hoje?
— Pode – ela respondeu fechando a porta.
Meia hora depois os amigos e o namorado chegaram à casa dela. Eduardo já tentara várias vezes leva-la para a casa dele, pois o irmão nunca estava. Ela sempre conseguia se desviar das investidas dele, mas naquela tarde ele estava decidido e para conseguir escapar ela inventou um passeio.
— Vamos ver a chuva de meteoritos?
Todos concordaram e saíram caminhando. A cidade onde moravam ficava na divisa com Minas Gerais. Pequena, um pouco mais de vinte mil habitantes e a maioria trabalhava na usina de energia, ou no exército. Aquela divisão era especial, os jovens ainda não sabiam, mas era ali que os estudos ufológicos do país aconteciam.
Naquela tarde, quando o general pediu a filha que ficassem em casa e ela não o obedeceu, uma estranha massa se aproximava da orbita da terra. Era um ponto central grande e outros pequenos, mas diferentemente dos meteoritos que aceleravam cada vez mais, esse desacelerava.
Os jovens subiram a campina e ficaram olhando para o céu, mas nada acontecia.
— Samantha tem certeza que seu pai falou que iria acontecer uma chuva de meteoros? – Carolina perguntou franzindo a testa para a amiga.
— Foi o que ele me disse.
— Vamos aproveitar que estamos aqui, sozinhos – Carlos beijou a namorada de uma forma mais quente e que deveriam fazer apenas quando sozinhos, assim pensava Samantha.
Eduardo a olhou sorrindo, ela sabia que logo teria que terminar com ele, pois ele estava querendo sexo e ela não queria, não com ele, mas aceitou o beijo mais quente e permitiu que ele pensasse que iria conseguir algo a mais, ao acariciar as pernas delas.
Quando acharam que nada aconteceria uma grande explosão chegou aos ouvidos de todos e a chuva de meteoros riscou o céu. Eles ficaram assistindo até que algo fora do normal chamou a atenção de todos.
— O que é aquilo? – perguntou Eduardo.
— Um meteoro grande? – Carolina cerrou os olhos para o céu.
— Eu acho que não, aquilo não está caindo como os outros e sim pousando – respondeu Carlos.
— Pousando? Como assim pousando? – Carolina perguntou já histérica.
Samantha cerrou os olhos para o grande ponto de luz no céu tentando enxergar melhor. Ele apenas aumentava e ficava cada vez mais brilhante. De repente o sino da igreja começou a soar. De onde eles estavam era possível ouvir.
— Meu pai vai ficar muito bravo – resmungou Samantha.
Ela começou a descer a campina e correr em direção ao condomínio, mas o som de turbinas chamou a atenção dos jovens. O ponto de luz agora parecia um avião e realmente estava pousando, porém era redondo.
— Aquilo é o que eu estou achando que é? – Eduardo perguntou com medo.
— Eu acho que é, ou talvez seja um avião teste da aeronáutica – respondeu Carlos tentando manter o controle. Ele segurava firme na mão da namorada que estava pálida.
O avião redondo pousou e eles se esconderam atrás de uma pequena colina. Não dava para correr sem serem vistos.
— Se a aeronáutica nos pega espiando os testes, estamos fritos – resmungou Carlos.
— Cala a boca Carlos – mandou Eduardo que tentava ver algo.
Uma porta se abriu e uma escada se formou até o chão, uma mulher apareceu na porta e desceu do avião. Ela era morena clara, olhos puxados, cabelos negros e presos num coque. Ela usava um quimono florido, como os japoneses, e chinelos nos pés. Uma maquiagem leve em seu rosto. Era muito bonita.
— Isso não parece uniforme da aeronáutica – Samantha observou.
— Acho que ela é oriental – Eduardo se aproximou.
Logo depois da moça de quimono desceram do avião mais quatro homens. Vestiam um uniforme negro e portavam espadas.
— Acho que não são orientais. Melhor sairmos daqui.
Devagar eles começaram a sair de trás da pequena colina e abaixados voltaram para o condomínio. Uma ordem chegou ao ouvido deles que fez com que Samantha estremecesse.
— Procurem-na, ela está por aqui – a mulher ordenou.
— Corram, corram – sussurrou Samantha.
Os quatro começaram a correr quando os homens de negro se aproximaram, mas foram vistos e um dos homens voltou até a mulher e apontou a direção para onde os jovens iam.
A mulher cerrou os olhos e sorriu.
— Vão para a casa de vocês e liguem para seus pais – ordenou Samantha.
— Eu vou com você, não vou te deixar sozinha – Eduardo entrou na casa da namorada com ela.
Ela pegou o telefone e discou o número do pai. O telefone chamou duas vezes e o general atendeu.
— Pai, uma nave muito estranha pousou aqui perto e de dentro dela, saíram pessoas. É algum tipo de teste?
— Não, não é um teste minha filha – ele respondeu do outro lado da linha – ligue para sua mãe e peça que ela volte para a casa imediatamente, e vão para o porão juntas. Só saiam de lá quando eu chegar.
— Entendi.
Samantha rapidamente ligou para a mãe, mas ela não atendeu a ligação.
— Droga ela não atende – a morena resmungou para o telefone.
Ela estava com um mal pressentimento. Algo não estava certo, o pai estava escondendo alguma coisa, mas ela também escondia, ela também tinha segredos dos quais teve que aprender a lidar sozinha, pois ninguém a compreenderia se soubessem o que ela era capaz de fazer.
Um alarme começou a soar por todo condomínio, ela nunca tinha ouvido aquilo antes e de repente a porta se abriu. A mãe entrou pálida com as compras nas mãos.
— Samantha vá para o porão agora e não saia de lá até seu pai vim lhe buscar.
— Mãe vem junto.
— Não, vai, vai agora. Eduardo ficará com você, você ficará bem.
— Não vou se você não for.
Gritos começaram a ecoar pelas ruas, buzinas de carros e tiros eram ouvidos. Uma forte batida seguida de uma explosão chegou aos ouvidos deles.
— Samantha, agora! – ordenou a mãe.
A porta da frente da casa se rompeu e caiu ao chão. Eduardo entrou na frente da namorada para protegê-la e Ana caiu no chão da sala.
Samantha fechou os olhos tentando se proteger dos pedaços de madeira que voavam, e quando finalmente conseguiu olhar para a porta para ver o que tinha causado aquilo, viu a mulher com o quimono florido e essa a olhava sorrindo.
— Finalmente – a mulher desembainhou a espada.
— Não, você não vai leva-la – a mãe de Samantha entrou na frente de Eduardo. — Corram meninos.
—Não vou leva-la, vou matá-la – a mulher enfiou a espada no peito de Ana.
Samantha gritou desesperada, mas Eduardo a empurrou escada a cima enquanto a mulher de quimono retirava a espada ensanguentada do peito de Ana que caía de joelhos no chão.
— Mãeeeeeeeee!
— Suba Samantha, anda, corre – Eduardo a empurrava com força e ela ia tropeçando nos próprios pés.
Eles entraram rapidamente no quarto da jovem e trancaram a porta. Ela abriu a cortina e espiou para o lado de fora. O caos parecia estar formado. Pessoas corriam ensanguentadas para todos os lados, carros largados aberto no meio da rua, o barulho de um alarme muito alto que não parava de soar e tiros eram disparados a todo momento.
— Samantha, quem é aquela mulher? – Eduardo perguntou em pânico.
— Eu não sei, não a conheço, nunca a vi.
— Mas ela quer te matar.
— Ela matou minha mãe. Meu Deus! Minha mãe.
Samantha não conseguia chorar, só tremia e sentia a boca seca. Ouviu-se a risada da mulher subindo as escadas.
— Não vai adiantar se esconder, eu vou te encontrar.
A única saída daquele lugar era a sacada, eles teriam que pular. Eduardo abriu devagar a janela, tentando não fazer barulho, mas lá embaixo estavam dois homens vestido de negro que haviam vindo com ela no estranho avião.
Assim que viram os dois na sacada empunharam suas espadas, mas um cantar de pneus chamou a atenção de todos. Jipes do exército chegaram e os militares começaram a disparar contra os agressores e um caça da aeronáutica passou voando baixo, provavelmente em busca do tal avião no qual essas pessoas haviam chegado.
Os dois homens de negro foram rapidamente abatidos e lá embaixo agora estavam o pai de Samantha e outros militares.
— Samantha pule! – gritou o pai.
A jovem olhou para baixo, mediu bem a altura e olhou para Eduardo.
— Confie em mim – ela abraçou o namorado no momento em que a mulher estourou a porta do quarto.
Eduardo então agarrou Samantha e os dois se jogaram, mas ao invés de caírem no chão como todos esperavam, Samantha movimentou as mãos e um tufo de ar os segurou no último momento fazendo com que os dois pousassem sem se machucar.
O jovem namorado a olhou como se a visse pela primeira vez de verdade. Ele já tinha percebido várias vezes coisas estranhas na namorada, mas nunca tinha tido certeza. Agora sabia, ela não era normal.
Rapidamente os dois se soltaram e correram na direção dos militares. Eduardo correu em direção ao irmão que segurava uma metralhadora nas mãos e apontava para a varanda da casa. Samantha abraçou o pai e soluçando contou que a mãe estava morta.
O general não conseguiu esboçar reação, mas ordenou que o capitão Cardoso a tirasse dali e a levasse em segurança para a base. Assim o irmão de Eduardo a segurou pelo braço com força e a arrastou para o jipe junto com o irmão.
— Pai! – ela gritava.
— Vá com ele minha filha, o capitão a protegerá. Preciso recuperar o corpo de sua mãe. Encontrar-nos-emos na base. Prometo.
Ela encontrou contra gosto no carro, sentando-se no banco da frente, e o jipe saiu em disparada. Ela pode ver ainda a mulher de quimono florido na sacada da casa dela, mas não viu o que aconteceu em seguida. Ela temia pela vida do pai, e de todos os amigos que ali estavam.
Colocou as mãos nos bolsos procurando pelo celular e o encontrou. Discou rapidamente o número do celular da amiga Carolina, e enquanto o som de chamando soava o coração dela martelava.
— Sami, você está bem? – perguntou a voz da amiga do outro lado da linha.
— Estou, e vocês? Todos bem?
— Estamos sim, eu vi quando aquela mulher entrou na sua casa e nós descemos para o porão. O seu pai acabou de sair daqui, ele... ele levou o...
— O corpo da minha mãe – Samantha completou a frase da amiga.
— Eu sinto muito amiga, você deve estar arrasada.
— Eu só queria saber se estavam bem. Depois nos falamos.
Ela encerrou a ligação. Pelo menos sabia que o pai estava vivo. 




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