Ouro Fogo



Sérgio Torres
Ouro Fogo


Primeira Parte

O sol já estava iluminando boa parte das casas quando todos esperavam fora na varanda até que a última mala fosse colocada no carro.
-Tem certeza que vocês não querem vir com a gente queridos? –perguntou a mãe acariciando o rosto da filha.
-Não mamãe. Agradeço por levar Júlia e o Mario, mas eu e Roger temos que arrumar tudo por aqui.
-Oh, Mirian você deveria pegar férias, está com a cara pálida querida, você tem se alimentado direito?
-Por favor, mãe, vocês vão perde o voo. –disse Mirian indo para os braços de seu marido que a beijou na testa.
-Senhora Marta, fique despreocupada, não trabalharemos nos dois dias seguintes... –falou Roger sorrindo para as duas que o olhava com carinho. –Trabalharemos em um novo neto o que acham?
-Oh, Roger... –reprimiu Mirian corando na frente dos pais.
-Bem será ótimo, essas crianças já estão grandes demais para nossas histórias.
Todos sorriram e se cumprimentaram antes de entrarem no carro e partirem deixando a visão de Mirian e Roger se impedidas pelo sol que ganhava força a cada segundo. Roger apertou a cintura de Mirian sobre seu corpo e sorrindo perguntou a ela o que gostaria de fazer nas primeiras horas do último dia do ano. Ela sorriu dando um tapa no peito dele e o puxando para dentro de casa a fim de fazerem amor como não tinha feito nos últimos dez meses.
Roger e Mirian não foram a breve viagem de réveillon com seus dois filhos e os pais de Mirian a cidade de Ponta Del Leste, por Roger ter que trabalhar nas primeiras horas do dia dois de janeiro e Mirian preferir ficar ao lado do marido no novo negocia da família. E ainda tinha a nova residência conseguida em menos de seis meses após Roger se demitir do antigo trabalho e conseguir finalmente ser o proprietário da sua empresa de transportes. Ele agora era o chefe de cerca de 20 funcionários e como planejado há anos, tudo corria muito bem. Mirian por sua vez sempre esteve ao lado do marido, principalmente quando se mudaram para aquela cidade completamente desconhecida pelos dois, mas que tinha uma ótima oportunidade para o início da carreira de Roger. Ele passara anos estudando e planejando como construiria sua empresa, e logo descobriu aquela pequena cidade, mas rica em transportes comerciais.
No início houve a rejeição básica de ter que parti e abandonar tudo e todos que conheciam. Mirian tinha suas amigas e seus afazeres de sempre, as crianças já estavam habituadas a rotina diária de escola e amigos, tanto Júlia quanto Mario, nasceu na mesma cidade e tinha uma vida naquela cidade. Levou cerca de dois meses para Roger mostrar e provar a sua esposa que aquela era a melhor opção para o momento. E que ele também sofreria com a mudança, mas que em algum ano após tudo se iniciar, eles teriam a oportunidade e a disponibilidade de ir e vir a qualquer lugar. Depois de muitos slides e promessas de uma vida melhor e a verdadeiras juras de amor, Mirian aceitou se mudar para um lugar nunca visto e trabalhou com Roger a forma de fazer as crianças, já grandes o suficiente para entender, que seria o melhor a todos.
Júlia quis morrer ao ouvir a palavra mudança e ainda mais de cidade e estado. Ela tinha agora seus quinze anos de idade e estava apenas no início da boa adolescência, onde as descobertas e revoltas eram o auge em seu psicológico. Ela tentou argumentar com tudo o que lhe veio à mente e até fez seus pais rirem quando se jogou ao chão da sala dizendo que aquele era o fim de sua curta vida. Somente quando Mirian perguntou suavemente se Júlia já estava namorando que a garota se calou e não disse mais nada.
-Ótimo você não tem motivo que nos faça pensar em não te levar conosco. –finalizou Mirian beijando o rosto vermelho de raiva passageira que Júlia fingia sentir. No fundo ela sabia que ainda não tinha se apaixonado por ninguém e quem sabe na nova cidade poderia achar alguém no novo colégio, se é que existia um novo colégio.
Para Mario, foi indiferente, embora ele fosse apenas um ano mais novo que Júlia, ele era totalmente o oposto da irmã, ele sempre fora calado demais e sempre pacifico as palavras dos pais. Todos achavam que poderia ser algo psicológico, mas os próprios psicólogos acharam Mario, normal demais para a própria idade e sugeriram que Mirian deixasse apenas o garoto viver da forma que melhor lhe fosse possível.
Mirian em certa noite, poucas semanas antes da mudança, enquanto pensava em tudo o que tinha passado na pequena casa em uma cidade movimentada, chegou a se sentir feliz por Roger realmente cumprir o que havia prometido assim que eles se mudaram para aquela casa. Ele jurou que em menos de vinte anos, eles estariam em uma casa duas vezes maior e mesmo que não estivessem ricos, que teriam o suficiente para sobreviver sossegados e sem se preocuparem com a educação das crianças. Olhando para a foto dos dois em um porta retrato na estante da sala, ela sorriu e ficou imaginando como seria um novo começo em um novo mundo.
O relógio marcava nove e meia da manhã quando Mirian levantou-se da cama e deixou Roger pelado de bruços na cama, ela olhou para o celular vibrando enquanto se enrolava no lençol para ir ao banheiro, ela não atendeu, esperou aparecer a mensagem da caixa postal e então ouviu a ligação. Nada foi dito, apenas um som de respiração que durou cerca de trinta segundos. Ela apagou a mensagem e deixou o celular em cima da pia do banheiro, em sua mente, provavelmente era sua mãe querendo avisar que já estavam no avião ou pelo menos embarcando.
Enquanto estava sentada ao vaso esperando a banheira ficar pronta para seu banho, ela sorria ao imaginar que teria sua primeira virada de ano junto a Roger, o que não acontecia desde o nascimento de Júlia. Ela agradecia em pensamento por seus pais finalmente irem viajar para um lugar diferente e querer a família por perto. De início foi difícil para eles entenderem que Roger ainda estava começando seus negócios com transportes e que era essencial eles permanecer sem férias por um longo tempo até ter um bom reconhecimento de sua empresa.
O celular começou a vibrar e Mirian olhou no visor, era o número de sua mãe, ela atendeu já imaginando alguma reclamação das crianças sobre o voo.
-Oi mãe. –ela falou sorridente.
-Mirian querida, já estamos no avião, minha nossa como isso é medonho filha. –disse ela com a voz desesperada.
-Mantenha a calma mamãe, logo estará em terra firme. –consolou Mirian imaginando o rosto da mãe.
-Espero que seja antes do anoitecer minha filha.
-Mãe ainda nem é hora do almoço. –Mirian sorriu ao imaginar a demora de uma viagem a ônibus. –E as crianças estão se comportando?
-Sim eles continuam um anjo, Mario não larga o livro que ganhou do avô e Júlia não para de tagarela com seu pai sobre o que vão fazer ao chegarem lá...
-Aí que bom mamãe, tenho certeza que vão se divertir, e mais uma vez, obrigada por levar as crianças para passarem o fim de ano longe desta cidade. –Mirian sentiu uma pontada de inveja, mas afastou o pensamento ao se lembrar de que ligação de avião custaria uma pequena fortuna a conta do celular.
-Imagina como seria bom a vocês dois virem conosco, mas entendo a colocação do meu genro e respeito a decisão de vocês.
-Bom mãe, a senhora e o papai tem sido ótimo nas decisões de Roger, e graças a deus, tudo está saindo muito bem nos planos dele, mas agora é melhor desligar, a conta vira alta e a senhora tem que me ligar quando chegarem...
-Oh, meu Deus é verdade, me esqueci de que essa porcaria cobra a mais por estar no ar. –resmungou Marta sorrindo. –Bem minha querida, não esquece que o peru está na geladeira e é só aquecer ao forno, e seu pai deixou garrafas de vinho na parte de baixo do armário, você vai amar este vinho, logo que descer desde troço eu entro em contato...
-Obrigada mamãe, aproveite a viagem, e de beijos em todos, amo vocês, tchau.
-Tchau querida.
Ao colocar o celular de volta na pia do banheiro Mirian deixou o lençol cair enquanto entrava na água quente da banheira. Um som forte veio de fora do quarto e ela imaginou que seria Roger batendo novamente na cômoda que o mesmo prometera levar para o quarto debaixo até que o padre da cidade viesse retirá-la como doação à caridade. Mas que permanecia na entrada do quarto. Ela se deitou afundando o corpo e a cabeça na água deixando apenas seu nariz para fora e levando seus pensamentos a um campo de margaridas afim de não pensar em nada por longos minutos daquele banho.

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