Um Novo Amor à Vista



Cláudio Quirino
Um novo amor à vista


Apresentação

O MUNDO É CONSTITUÍDO POR MILHÕES E MILHÕES DE PESSOAS.

Solitárias. Acompanhadas. Que têm casos proibidos, sem satisfazer a necessidade de esconder a vida tumultuada, vazia e desinteressada. Ricas. Pobres. Sempre – e isso é uma absoluta verdade – procuro imaginar quantas pessoas estão por aí, derretidas por estarem ao lado dos companheiros que as amam ou quantas estão decididas a mudar a rotina apenas para se adequar ao equilíbrio confuso dos relacionamentos modernos.
Parece complicado prever que as pessoas mantêm encontros de amor regados com um tipo de sentimentalismo que geralmente não se comporta como deveria. De repente, a estratégia de usar uma roupa atraente para sair ou ensaiar palavras mágicas capazes de impressionar um coração nem sempre é a melhor forma de conquistar.
Às vezes, ganhar apelido carinhoso no primeiro encontro, dividir o mesmo sorvete de baunilha ou ter a certeza de que o céu é pintado de um azul impressionante pode ser bem mais eficiente do que, como disse antes de tudo, tentar parecer original. 
Não importa no que você vai acreditar, a vida é sempre feita de sonhos. E também de pequenas regalias, intervalos, surpresas incomparáveis e da urgência de se conquistar o que existe de mais glamoroso e duradouro. Ninguém pode discutir o poder que a vida exerce sobre você e sobre suas decisões.
Em algum momento do seu dia, provavelmente enquanto caia uma chuva fininha ou sopre uma brisa de inverno, você se pegará impressionada com as particularidades da existência e com o inesperado convite – desses que a gente sonha tanto em receber que, quando acontece, não sabemos como reagir.
  Algumas pessoas ficam deslumbradas com a ideia de encontrar alguém especial – um solteirão da cidade –, que as convide para jantar, sem conversar sobre os negócios, e saiba exatamente ouvir e ser gentil, sem desejar ter somente casos memoráveis. Talvez o grande problema dos primeiros encontros seja sempre parecer especial e dar a alguns de nós uma impressão de que poderíamos ficar sentados, curtindo a maior preguiça do mundo, enquanto o outro está planejando se apaixonar muito cedo.
Tudo é uma questão de observar e de se convencer de que existem as noites livres para experimentar qualquer tipo de coisa. Quer dizer, quase todo tipo de coisa.
Por exemplo, seria vergonhoso convidar um cara para sair e, ao longo da noite em que os dois precisam se entender, você decide conversar sobre igualdade de direito entre homens e mulheres. É tão broxante que chega a ser inestimado. Tanto quando convidar o “cara dos sonhos” para dormir em casa e, depois de horas cuidando da aparência e dos travesseiros macios, esquecer-se de esconder os dois ursinhos de pelúcia favoritos.
Mais um ponto na sua tabela de constrangimento.
Tornar longo um relacionamento que se iniciou a partir de um encontro desastroso é pior do que curar um rompimento acordado entre duas pessoas adultas que sabem que, por mais inútil que possa ser uma noite sem a presença um do outro, nada vai substituir o precioso tempo que, futuramente, os dois perderiam.
Apesar de complicados, os relacionamentos também podem ser divertidos. Muitas são as versões, entre as quais as principais – ouvidas em qualquer esquina – são “Nossa, quando você deixou de ser cínica?”, “Acredite, querida, hoje você está um pouco lerda. Acho que me esqueci de dar corda logo de manhã” ou “Ah, Deus, quando vai parar com a mania de evitar uma discussão fazendo compras na internet?”.
Entendo que não deveria estimular o vício incontrolável de liquidar velhos objetos do meu guarda-roupa de mogno, cheio de cabides, ou do porta-sapato que fica logo atrás da porta. Entretanto, por mais desonesta que seja com a minha consciência, compreendo também que, não fosse o poder que nomes como Dolce & Gabana, Michael Kors, Miu Mil, Prada e Marc Jacobs exercem sobre meus estágios de ansiedade, eu estaria acabada e presa à lembrança de um antigo amor.
Relacionamentos e compras são mesmo tarefas irresistíveis.
Nunca na história da minha vida, eu pude ser tocada por palavras tão aquecidas de modernidade e vida própria. Eu sei que compras não substituem o bom relacionamento e, tampouco, este ofusca um estampado sorriso de segurar uma bolsa vistosa Liu Jo, um sapato salto agulha Fendi modelo “festa de arromba” e acessório de brilhantes Morellato qualquer, desde que seja ouro vinte quilates.       
Relacionamentos e compras não andam de mãos dadas e dão selinhos no rosto.
O melhor que posso explicar sobre os terríveis desastres de conjugá-las no mesmo espaço e tempo é contar exatamente como tudo aconteceu. Não pense, antes de qualquer associação, que entrará em contato com um mundo completamente familiar, cercado das lindas declarações de amor, episódios de sexo selvagem e de finais felizes para sempre.
Eles até existem, porque não seria possível expressar os acontecimentos da minha vida nesses últimos dias sem, antes de qualquer outra decisão, torná-los mais confusos.
E, como disse, vai ser exatamente falando de relacionamentos e compras que tudo começa... Nada que lembre o “Em um reino muito distante...” ou “No alto de uma torre, vivia uma pobre garota arrasada que sonhava em comprar esmeraldas”, mas é alguma menção igualmente parecida.
    

Prólogo

ERA UMA VEZ, UMA MULHER MUITO, MUITO COMUM...

Mas que frequenta o melhor e mais conceituado salão de beleza da cidade.
Por mais que ele seja particularmente caro e que represente uma ameaça para seu pequeno orçamento do mês. Havia chegado à cidade grande com um sonho... o sonho da diversidade, das manhãs mornas da primavera, do poente por detrás das montanhas e da rotina agitada, do brilho ofuscante das grandes vitrines e, claro, do amor que pudesse corresponder à figura de um homem bastante romântico, solteirão – perto dos 30 anos –, atencioso e que soubesse ser blasé quando ouvisse pequenos comentários a respeito dos poucos assuntos que formam o cotidiano.
Na verdade, até havia encontrado um primeiro amor chamado Nicolas – o Nick –, e, ao contrário dos garotos que tinha conhecido, ele era concentrado, sabia respeitar as suas decisões, ganhava a vida como entregador de jornais e os trocados garantiam todos os finais de semana regados de pizzas, comida enlatada e cinema barato.
O problema do Nick era ser entusiasmado demais, a ponto de não concordar com repentinas mudanças de planos. E isso provocava nela certo aborrecimento.
E então, enquanto garoava numa manhã de março, eles sentaram para conversar e, depois de horas de completo calor, decidiram dar fim ao relacionamento. E ela seguiu a sua vida, sem deixar de acreditar no amor que poderia surgir a qualquer instante e, para evitar se sentir sozinha em seu apartamento, lia revistas sobre moda, grifes e tendências até se convencer de que, em algum dia, esses assuntos fariam naturalmente parte de sua vida. O problema de acreditar demais que a situação possa melhorar, sem transitar entre sonhos e realidade, é que você pode acabar frustrada e “acabada”.
E, segundo ela, não era apenas transar com alguém que melhoraria o ânimo.    
– Não se resolve dormindo com alguém – ela disse, sentada diante de um imenso espelho oval, com os cabelos cheios de presilhas e hidratantes. – O sexo, às vezes, pode complicar ainda mais tudo.
– Desde que, depois de muito praticar, você não acabe viciada e pensando em usar um vestido de noiva – a outra diz, colorindo as unhas com o matte misturado com glitter –, tudo bem para mim. Sexo demais com a mesma pessoa deixa você histérica, gritando com as crianças que brincam no jardim e diminui um “laife” de vida a cada tentativa.
– Uma transa bem feita enlouquece e alivia a tensão de um relacionamento muito desgastado. Ninguém pode dizer o contrário sobre isso.
– Absolutamente – comenta. – Mas pode ser muito, muito perigoso. Experimente ficar apegada morando no apartamento com uma antena parabólica, churrasqueira e um bar de drinques. Você nunca mais consegue se livrar dessa “rotina”.
– Ainda bem que as coisas estão mudando.
– Mas precisamos concordar que somos tão descaradas quanto os homens no sexo – uma terceira personagem do salão de beleza afirma, recebendo um trato nas cutículas. – Nunca, na história da evolução da humanidade, se viu muitas mulheres conquistando o espaço que realmente merece. Nós trabalhamos, somos chefes da casa, cuidamos dos convidados e dos bufês para festas, enfim, conquistamos uma importante emancipação.
– E ainda há os implantes de silicone nos seis, botox capilar, tônico muscular...
Todas sorriem, maravilhadas com a ideia de igualdade. Enquanto conversam de modo reservado, elas se sentem celebridades que frequentam um clube para “ladies”.
– Mas nunca abandonamos a mania de nos sentar diante da TV e ver “Diários de Uma Paixão” e “Simplesmente Complicado”, quantas vezes for necessário, lamentando profundamente as peças que o destino prega na gente. Não deveria acontecer assim. 
– Enquanto isso, eles passeiam dentro da sala de cueca samba-canção e segurando uma long neck. É o que me deixa mais louca. Esse tipo de tranquilidade representa tudo o que nós jamais vamos ter na vida.
– É bem melhor estar bronzeando a pele numa ilha paradisíaca ou visitar as ruas românticas de Veneza, absorvendo a culinária e as canções apaixonantes. Ou encontrar um amor parisiense, livre dos compromissos e casamentos, e que eleve a autoestima até nos sentir ainda mais importantes. Queremos ser dignas de um “Eu te amo” verdadeiro e que arranque suspiros e lágrimas, e que nos arrebate.
Ela está impressionada com o nível de conhecimento de suas amigas sobre como funciona os desejos mais íntimos da alma feminina.
– Acho que isso merece um brinde especial. Que tal uns shots mais tarde, no pub? Quero ficar levemente alterada e abordar o primeiro “novinho” que eu encontrar... como fazem as nova-iorquinas.  
– Qual é, Irene! – alguém diz, ocupada com os esfoliantes à base de maçã verde. – É só uma comemoração especial, não uma preparação para estrear num clube de swing.
– E com essa, lá se vão os meus longos anos de equilíbrio emocional.  
Mais risos exagerados e o barulho dos secadores de cabelo funcionando todos ao mesmo tempo.  
– Ouvir isso é tão bom quanto sentir o perfume inconfundível do Paco Rabanne – a segunda diz, sem tirar os olhos do último número da revista Donove Hair. – Ninguém consegue controlar o quanto você fica excitada só de pensar.
Ela estremece, imaginando quanto tempo não ouvia falar sobre isso.
– Ah, meu Deus! – exclama, empoleirada na cadeira. – A última vez que o vi foi naquele programa animado sobre vantagens da massagem tailandesa na vida de casado.
A outra, que havia acabado de comentar, baixou a revista e a encarou por detrás dos cílios postiços longos e das lentes âmbar.
– De quem você está falando? 
– Do Paco Rabanne – responde, nostálgica. – Nunca mais esqueci aquele rostinho sorridente e simpático de bebê com barba curtinha.
De repente, todas as visitantes estão olhando atônitas para ela. Uma delas oferece um sorrisinho amarelado e pouco convidativo.
– Acho que você está horrivelmente enganada – a outra responde. – Estou falando de uma marca sobre fragrâncias e etiquetas de moda, não de um homem propriamente dito.
E então ela entende que cometeu um erro. Ah, Deus, essa não.
– Qualquer uma pode confundir, não pode?
– Tem razão, querida – a outra diz. – Ninguém, aqui, percebeu nada do que disse.
E se voltou para a tinta cor de castanho que lhe tingia os fios de cabelo.
Mas estava simplesmente na cara que nenhuma de suas duas novas amigas jamais esqueceria esse “chute fora do gol”.  

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1 comentários:

  1. Adorei a capa e a apresentação do livro, e claro, como adoro um bom chick-lit é claro que irei querer lê-lo
    .


    bjs

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