Almakia - A Vilashi e os Dragões



Lhaisa Andria
Almakia - A Vilashi e os Dragões


Mesmo dentro dos limites do Domínio de Almakia, lugar de origem dos primeiros almakins, nem todos nascem com o dom de usar um dos Sete Poderes Elementares, a principal característica desses descendentes da antiguidade.
Esses poderes, representações do que podemos encontrar na natureza em todos os domínios existentes, estão presentes no sangue e conservado nos clãs dos almakins. Assim como o ar está naturalmente para nossos pulmões, o almaki está naturalmente para seu manejador. Possuir a capacidade de manejar uma dessas representações equivale a ser dono perpétuo de algo importante, e estar acima de qualquer um... Consequentemente, essa capacidade também desperta a consciência de ser alguém grandioso.
Sabedores de que a união de seus poderes resultaria na soberania do povo almakin sob o restante dos habitantes de outros domínios, os manejadores-antepassados iniciaram um tempo de escuridão e preconceito. Juntamente com a expansão de seus limites territoriais e a submissão do que consideravam seres inferiores, defendiam a ideia de que pessoas comuns – que não possuíam um almaki, segundo eles – não mereciam permanecer na então denominada Almakia, a não ser por caridade e por servidão. Muitas tentativas de levantes por parte dos oprimidos ocorreram e todas fracassaram, pois nunca puderam combater de forma justa. Aos poucos, qualquer um que não fosse um almakin puro, capaz de manejar uma representação de um elemento natural, fora banido do Domínio ou exterminado. Assim, Almakia se tornou um império, admirado, temido, absoluto e puro.
Contudo, o que ninguém poderia imaginar era que esse absolutismo começaria a ruir por dentro, a partir do seu próprio orgulho.
Uma vez reinantes, os almakins teriam que decidir quem os representasse, e a disputa interna acabou enfraquecendo aqueles que queriam ter o mundo ao seu comando. Mais rápido do que poderia ser previsto, os almakins puros foram se extinguindo através da cobiça e conspiração, e os que restaram encontraram uma única solução: dar início a uma nova era. Assim, também foi iniciada a Nova Lei, onde estrategicamente eles reconheceram o Governo Real, formado por antigos líderes dos antigos territórios de Almakia, mesmo que esse fosse composto por pessoas sem almakis.
Cerca de mil anos depois, em um Domínio mais desenvolvido e mais comercial, os variados descendentes dos almakins antigos ainda existem e mantém costumes e tradições, procurando não cometerem os mesmos erros que seus ancestrais e guardando seus Segredos.
Por isso, através do tempo, ao invés de imporem seu comando à força, eles sutilmente usaram suas habilidades para obter um poder mais abrangente e irrevogável: o econômico. Grandes construções, geração de energia, descobertas cientificas em várias áreas e o desenvolvimento da sociedade baseado na aplicação do almaki em coisas concretas, renderam ao povo Almakin o posto de pessoas essencialmente necessárias, formando uma elite poderosa. Não houve guerras, não houve trevas e muito menos extermínios nesse processo, apenas uma desigualdade justificada. Os almakins voltaram a ser soberanos pelo simples fato de não existir meios de viver sem eles e os benefícios do que faziam. Assim, possuir um almaki voltou a ser sinônimo de prestígio.
O preconceito do passado, todavia, ainda predominava, principalmente entre aqueles que podiam dizer com orgulho que seu almaki vinha imaculado através dos tempos, e o guardavam como um tesouro de muito valor. Essas poucas famílias detentoras de tal pureza zelavam por suas posições, se considerando superiores a todos os outros seres em Almakia, e tratavam de preservar e controlar todo o conhecimento relacionado aos Segredos Almakis, sendo conhecidas como as Grandes Famílias. E, no intuito de garantir que seus herdeiros continuassem nesse mesmo caminho, uma Instituição de ensino almaki fora fundada na Colina Maojin, um dos lugares mais afastados de todos aqueles que não possuíam poderes, por um famoso manejador da Família de Fogo Dul’Maojin, almakins predominantes da região. Não demorou para que esse lugar de estudos ficasse conhecido como mesmo nome, e para que logo atraísse pessoas de todos os cantos da Almakia, fundando ali a Capital de Fogo, que passou a ser um dos centros comerciais mais desenvolvidos de todo o Domínio. Além de representar o polo de aprendizado dos manejadores, esse lugar também se tornara simbolicamente o centro da Sociedade Almaki, onde todos os grandes eventos, decisões e encontros dessa elite se realizavam. E, a fim de mostrarem até onde ia sua riqueza, não pouparam esforços em fazer dessa Capital a mais formosa e ativa em comparação a todas as outras grandes metrópoles espalhadas por todos os Domínios. E o Instituto Dul’Maojin era o marco de toda a ostentação dos almakins.
Da mesma forma, no restante de Almakia o exemplo da Capital de Fogo foi seguido, e ao redor das Grandes Famílias almakins, cidades foram edificadas. Não podiam competir com a Capital de Fogo e sua representação de poder, mas também, não se refreavam em deslumbrar os visitantes com toda a pompa possível. Assim, surgiram as Capitais Almakis, cada uma com sua importância e a sua especialidade, segundo a Família que era sua patrona.
Entre as geladas montanhas do norte ficava a Capital de Vento, dominada pelos Sfairul, um clã de comerciantes que negociavam com outros Domínios e zelavam pelas fronteiras dessa extensa parte de Almakia. Ao oeste, no Vale das Pedras, uma das regiões mais áridas, o centro da Capital de Metal era representado pela família Gran’Otto, detentora de minas produtivas e reconhecida pelas grandes construções que promoveram em todo o Domínio. Nos Campos Centrais, região de florestas antigas, o coração de Almakia, as reservas da família Aldrinu cultivavam os costumes princípios do povo almaki, e guardavam orgulhosamente todas as relíquias antigas do Domínio. Na Capital de Fogo, estava ainda a família Zawhart, de almaki de Raio, cujo seu Segredo está em manejar almaki para cura, o que lhes garantiu uma importância essencial dentro da sociedade, a parte de terem uma capital aos seus pés. E ainda havia a Capital Real, onde os Gillion se destacavam – apesar de não serem almakins – já que descendiam das antigas realezas de pequenos domínios conquistados, e seus representantes constituem o Governo desde os tempos dos manejadores-antepassados. Localizada nos Altos Vales Rochosos, na região sudeste, onde Almakia termina no mar, a Capital Real ainda é considerada um importante centro de liderança e diplomacia, mesmo que seu funcionamento não seguisse sua teoria.
Assim, em volta dessas Grandes Famílias, a sociedade do Domínio, composta principalmente por almakins, de vários níveis, e pessoas comuns, voltara a ter o brilho de outrora, de uma forma mais organizada e cheia de exuberância. No decorrer dos anos, enquanto a prosperidade de Almakia era reconstruída, pessoas de fora chegavam ao Domínio em busca de uma vida melhor, atraídas pelas possibilidades que surgiam. Com o apoio do Governo Real e a promessa de proteção e segurança dos almakins, esses povos imigrantes – denominados de forma preconceituosa e generalizada como vilashis, mesmo sendo diversos entre eles, – se instalaram em uma região chamada de Vale Interior. Esse vale, praticamente despovoado até o assentamento dos vilashis, ficava entre uma cadeia de montanhas e uma região desolada por um clima complicado. Um pedaço de Almakia que não atraia o interesse dos almakins, por não ser um lugar confortável para se viver. Porém, era repleta de terras que se tornaram férteis com cuidados adequados, dando para esses estrangeiros a oportunidade de iniciar cultivos e de realizar outras tarefas manuais desprezadas pelas Grandes Capitais, as quais eram fundamentais para o funcionamento básico das mesmas.
Contudo, mesmo com todo o seu passado de grandeza e a elaborada estrutura que construíram, ainda desprezando quem não lhes eram iguais ou inferiores, os almakins não podiam garantir o controle sobre os Sete Poderes. O conhecimento começava a partir do momento em que a história dos manejadores passou a ser escrita, e não no princípio do almaki. Não havia uma explicação de como surgira, o motivo de surgir e como se manifestava nas pessoas.
Assim, um almaki também poderia agir espontaneamente, sem respeitar os limites do povo que o representava e indo além de explicações. Os Poderes Elementares estão presentes em todas as coisas do mundo, e atuam de formas diferentes em diferentes formas. Um almaki pode ser considerado o grau mais elevado dessa atuação. Nascer em uma família de excelentes almakins não significava ter a excelência em manejamento dos seus iguais, ou mesmo a garantia de algum poder. Do mesmo modo, acontecia de uma pobre família dos remotos povoados de pessoas comuns e de vilashis se depararem com uma criança especial, que mesmo não tendo relação alguma com a Antiga Almakia, possuía a capacidade de manejar um elemento. Era algo inquestionavelmente raro, mas já acontecera algumas poucas vezes no decorrer da História do Domínio.
Na tentativa de conseguir sobrepor esse problema, essas crianças especiais tinham o privilégio de serem admitidas do Instituto Dul’Maojin e de serem consideradas almakins, mesmo não o sendo. Assim, desde cedo, elas se davam conta do lugar que ocupavam no mundo e de onde deveriam permanecer: às margens das Grandes Famílias. Para os almakins era um tanto arriscado, e de certo ponto perigoso, deixar que esses pequenos crescessem sem orientação, pensando que poderiam se considerar alguém da elite ou, o mais preocupante, se opor à maneira como tudo deveria ser, e incentivar outras pessoas a pensarem da mesma forma.
Sendo assim, havia uma lei que garantia que almakins aos doze anos estivessem dentro do Instituto sem que sua origem fosse levada em conta, como uma maneira de manter vigilância, disfarçando-a de educação e política de convivência. Para quem não pertencia ao mundo dos almakins, não tinha acesso ao Instituto, não recebiam informações sobre as grandes Capitais e viviam de uma forma simples no campo, afastadas de questões políticas e ideológicas, um pensamento era predominante: mais profundo do que o respeito pelo Governo Real de Almakia, aqueles que descendiam de um Poder Antigo despertavam fascinação. Ter uma criança parcialmente almakin era como receber uma benção, uma chance preciosa e divina.
E foi assim, em uma noite fria, quando os ventos da Tormenta Nanfan vindos do sul se aproximavam do Vale Interior e faziam as paredes das precárias habitações do povoado Godan tremer, que uma nova página na História de Almakia começara a ser escrita. Na pequena casa da família vilashi Colinpis se deu o primeiro acontecimento do que não só abalaria toda a sociedade almakin como alteraria o rumo de todo o Domínio.
Domínio de Almakia - Início

Enquanto a mãe Colinpis embalava o bebê Chari-lin enrolado em cobertores no colo e tinha as barras das vestes puxadas pela pequena e chorona Mira-lin, o pai e a filha mais velha tentavam acender uma fogueira em uma pequena parte de terra batida dentro da casa, para aquecer o lugar.
— Mamãe, os piratas estão lá fora! – chorava Mira-lin se escondendo nas dobras de tecido, batendo os dentes.
— É o vento, não são piratas. – a mãe tentava a acalmar. – Garo-lin! Não fique muito perto ou vai se queimar!
Mas Garo-lin não ouvia os alertas da mãe e nem o choro da irmã. Agachada na borda do piso de madeira lustrada, toda a sua concentração estava voltada para as mãos do pai, que tentava acender uma chama batendo as pedras chatas que segurava no amontoado de gravetos na parte baixa da casa. Algumas faíscas já haviam saído e aqueles pontinhos alaranjados que saltavam misteriosamente a cada batida eram o suficiente para que a curiosa menina de cinco anos esquecesse completamente o frio e dos uivos dos ventos.
— Garo-lin, eu já disse para-
— Atchiiiiiiiim!
Mais uma vez a mãe tentou chamar a atenção da filha, mas foi impedida por seu espirro, e ficou tão espantada que não conseguiu terminar a bronca. Até mesmo Mira-lin cessara o choro e olhava surpresa para a irmã, fungando. Porque junto com o espirro houve uma explosão, que lançou o pai Colinpis longe, e de imediato a madeira empilhada para a fogueira ardeu em chamas vivas, com labaredas que chegaram até o teto.
Mesmo depois do desespero do incidente e de verificado que não haveria um incêndio, foi preciso minutos inteiros para que a família percebesse de que estavam diante de uma manejadora de fogo.
Ao ver os pais se entreolhando surpresos, tudo o que Garo-lin fez foi sorrir, satisfeita com o trabalho bem feito de aquecer a casa. Não imaginava que sete anos depois enfrentaria a separação de seus irmãos e iniciaria a aventura de sair do limite do que era conhecido como seu mundo, indo até a Capital de Fogo e sendo apresentada aos Portões Negros do Instituto Dul’Maojin. E lá, parada na frente do que seria o seu lar dali por diante, uma Garo-lin de doze anos não conseguiu evitar que seu queixo caísse.
Por mais que tivesse viajado e ouvido tantos comentários sobre o Instituto, nada podia preparar alguém que crescera como uma vilashi para a grandeza do que via.
— Inacreditável... – ela murmurou, olhando para o chão a sua frente, como se estivesse diante de uma barreira imaginária, e que, ao atravessá-la, nunca mais poderia voltar a ser a pequena Garo-lin que acendera a fogueira com um espirro.
Então, respirando fundo e reunindo toda a coragem que possuía em um gesto determinado, a garota deu o primeiro passo, sentindo o orgulho de ser única e querendo ser digna de tal posição.

Capítulo 1
Além dos Portões Negros
No início, o Instituto de Formação Almaki Dul’Maojin foi construído na base plana e na encosta pouco inclinada da Colina Maojin, mas com o passar do tempo, ganhara tanto fama quanto anexos. Mais de duzentos anos após a sua fundação, ele mantinha seus prédios históricos que se agarravam na colina sem se importarem em dividir espaço com luxuosas e modernas construções, formando um mosaico arquitetônico que abrigava os maiores mestres almakins com seus promissores aprendizes.
Mesmo com a imensa área construída, seus terrenos se expandiam em torno daquela região com pavilhões, jardins, bosques e um lago. Diziam que somente do topo da colina era possível ter uma noção de onde ficavam seus limites. Até mesmo a costa íngreme fora escavada, como um elaborado formigueiro de corredores e túneis, e dos mirantes construídos se podia ter uma ampla visão de toda a Capital de Fogo.
Os grandes Portões Negros eram a parte mais conhecida e comentada, já que era o máximo que alguém que não fosse almakin poderia conhecer do Instituto. Por lá, somente manejadores passavam, alimentando o mistério que envolvia os Segredos. Entretanto, não havia tantos problemas para sair, a não ser pelas punições caso o aluno transgressor fosse descoberto, já que o regulamento do Instituto dizia claramente que a saída só permitida mediante uma autorização superior. Apesar disso, fuga era algo impensável, pois se tratava de um lugar onde todos os jovens do mundo desejariam estar e ninguém via um motivo para tal tolice. Além do mais, quem com a mínima consciência iria querer fugir do centro de todas as atenções de Almakia?
Apesar de o Instituto manter uma seleção rigorosa e delimitar sua população somente àqueles que possuíam a capacidade de manejar – ou seja, somente almakins – essas medidas eram justificáveis e bem entendidas pelos seus residentes, uma vez que possuir um almaki era algo precioso, que deveria ser bem guardado e polido. Basicamente, puro preconceito e orgulho desmedidos que atravessara séculos.
Depois de cinco anos vivendo dentro do Instituto, tudo o que Garo-lin conseguia lembrar-se da sua primeira visão dos Portões Negros era uma vaga impressão de deslumbramento inocente. Toda a fama e a distinção da única e maior escola almaki caíra por terra quando ela conhecera o seu verdadeiro interior.
Longe da atmosfera histórica de conhecimentos acumulados que ela esperava encontrar impregnados naquelas construções, a vida que circulava pelo labirinto de prédios da Colina Maojin estava repleta de ostentação. Os alunos eram como uma coleção preciosa, que sabiam perfeitamente quais os privilégios de suas posições e não se importavam de demonstrar isso da forma que lhes convinha. O que valia realmente entre aqueles muros e paredes era o seu nome, sua procedência, seu lugar na sociedade. Para Garo-lin, uma simples vilashi que tivera a imensa sorte de nascer com um poder almaki, tudo aquilo era...
— Inacreditááável! – ela berrou para o horizonte, assim que saltou pelo último degrau e parou deslizando diante da murada parcialmente destruída que lhe permitia aquela visão.
Alguns pássaros que já estavam aninhados nas árvores em volta levantaram voo assustados, e logo o único ruído era a respiração ofegante de Garo-lin. Tentando se acalmar e recuperando fôlego, ela evitou pensar no que tinha acabado de acontecer.
Mais uma vez sua paciência esteve a ponto de sumir e mais uma vez precisou correr para o único local onde sabia que poderia descarregar tudo o que queria dizer e não podia: as ruínas da baixa ala sudoeste do Instituto.
Tratava-se de uma das construções mais antigas, que havia sido parcialmente destruída e, desde então, estivera abandonada. Com apenas uma parte das paredes escuras e musguentas ainda em pé, grandes degraus de pedra talhada, dois andares vazios e quase totalmente invadidos pela vegetação do bosque que ficava do lado de fora, era um abrigo perfeito para quem queria ficar sozinho e não tinha medo de enfrentar alguns insetos e aranhas.
O que Garo-lin mais gostava daquele lugar era o isolamento e a paisagem, desprezados pelos demais alunos. Dali não se tinha a exclusiva vista da movimentada Capital de Fogo, mas era possível distinguir por entre as árvores a estrada do vapor que seguia na direção de Rotas, caminho para se chegar ao Vale Interior. Olhar para aquele horizonte era o mais perto que ela podia estar da sua casa.
Agora, como uma aluna do quinto ano, pensava que se pudesse voltar no tempo, quando ainda tinha a escolha entre ser ignorada e viver humildemente ou tentar algo melhor aprimorando seu almaki no Instituto, ela com certeza fecharia os olhos diante das expressões cheias de esperanças das pessoas da sua vila e diria um redondo
Obrigada, mas recuso! Porque uma coisa era certa: viver longe de almakins esnobes sendo ignorada por eles e viver entre almakins esnobes sendo ignorada por eles, a primeira opção era definitivamente a melhor.
Os seus primeiros dias já foram o suficiente para ela entender que não era bem-vinda. Longe de ser considerada uma heroína, como na sua vila Godan, ali ela era somente uma vilashi que se atrevera a macular o respeitado Instituto.
Ser a única não era sinônimo de valor. Sua aparência a denunciava totalmente, já que era fisicamente diferente da maioria dos almakins por descender de um povo imigrante. Comparada aos de mais alunos, era pequena e mirrada, de cabelos pretos mesclados de marrons claros – como se estivessem sempre sujos de terra, o que dava margem para a piada almakin de que vilashis brotavam do chão. Seus olhos amarelos era o que mais se destacava em todo o contexto, já que era uma característica singular do povo vilashi ao qual descendia, e não havia mais ninguém assim no Instituto.
Fora sua aparência, também lutava para se controlar e conter as peculiaridades que considerava normal, mas que não eram aceitas ali. Na maioria das vezes, suas atitudes eram interpretadas ofensivamente pelos almakins. Os vilashis de Godan tinham uma maneira mais simples de agir, gestos mais fortes e um jeito de falar mais prolongado, cheio de falhas e com acentuações diferentes. Garo-lin teve que aprender, principalmente, a não responder. Apesar de naturalmente teimosa, sendo claramente a minoria, deveria guardar suas opiniões apenas para si.
Para ajudar, seu almaki nem era algo grande e fenomenal aponto de fazer com que os almakins puros a respeitassem nesse aspecto.
Apesar de ser uma manejadora de fogo, o mais importante dos poderes elementares, e de estar na Capital de Fogo, seu potencial era tão baixo que o máximo que lhe era permitido fazer se enquadrava na categoria de serviçais. Ainda assim, mesmo nas mais simples tarefas, como acender a lareira central do dormitório das meninas, precisava da autorização de alguém superior. E acender lareiras ou porta-chamas – recipientes de fogo que eram usados para iluminar – não era nada imponente como grandes nomes de manejadores de fogo podiam fazer com um só gesto. Ouvira que eles poderiam explodir uma montanha se fosse sua vontade – apesar de ela agora pensar que essas façanhas não passavam de lendas absurdas que circulavam nas vilas isoladas do Vale Interior, já que nunca vira seus mestres fazerem algo mais do que elaborados desenhos com chamas para impressionar autoridades.
Mesmo vivendo sob as restrições isso não era o pior, e tão pouco o fato de ser desprezada pelos alunos, ignorada pelos mestres e não ter um almaki capaz de surpreender. Existia algo que a fazia andar as espreitas pelos corredores e fugir toda a vez que havia alguma algazarra de alunos: os Dragões. O título mais aclamado e temido entre todos os almakins, não só dentro do Instituto como em toda a Almakia e além. E, para sua imensa infelicidade, havia cinco deles circulando pelo Instituto.
Os Cinco Dragões do Instituto Dul’Maojin, eram um grupo formado pelos herdeiros dos nomes de maior poder dentro de toda a Almakia. Todos eles com almakis distintos, mas com níveis superiores aos de qualquer um. Eram Guardiões de um Segredo de Família, o que lhes rendiam total autoridade sobre os outros alunos e até mesmo sobre os seus mestres, tanto que tinham permissão para sair pelos Portões Negros quando bem entendessem. Nunca em toda a História do Domínio houve o registro de uma representatividade almaki tão forte, e grandes coisas eram esperadas deles para o futuro.
Descendência, poder, fama: essa era a pirâmide básica que sustentava os Dragões. Em alguns anos, o que eles fizessem iria ditar o rumo de toda a Almakia. Todo o Domínio se manteria sob seus nomes e todo o Governo Real seguiria cegamente suas decisões... Pensar em um futuro assim fazia Garo-lin ficar enjoada e preferir a ignorância, onde se limitaria a seguir a nobre profissão de seus familiares: cultivar tomates.
Conscientes de suas posições elevadas, os Dragões não hesitavam em aproveitar-se delas já dentro dos Portões Negros, da forma que lhes fosse conveniente. Logo no primeiro ano de Instituto, agiam como se ali fosse um pequeno reinado mandando e desmandando conforme suas vontades. Mantiveram essa ordem durante seus seis anos de estadia e essa ditadura não era repreendida pelos mais velhos, supostamente mais sábios, e muito menos vista com maus olhos pelos colegas. Ser uma vítima da arrogância deles era algo sofrível, mas mesmo assim era uma história para ser contada por gerações. Por isso, ninguém se rebelava contra seus atos e mesmo a ideia de se rebelar soava como algo absurdo.
Sendo apenas uma desconsiderada naquele meio, Garo-lin não podia fazer nada além de fechar os olhos. Mesmo que seu senso de justiça, sua característica mais forte, rugisse dentro dela exigindo que providências fossem tomadas. Quando somente se retrair e se segurar não era o suficiente, ela fugia. E foi fugindo que um belo dia se deparou com aquelas ruínas e as adotou como seu refúgio. Porém, nesse dia em específico, ela não fora tão rápida. Ficara presa na fila do refeitório e assistiu a mais uma cena de injustiça protagonizada pelos Dragões.
Um aluno desafortunado fizera um movimento desnecessário ao conversar com seus colegas e acabara derrubando uma jarra com suco. Alguns alunos em volta tiveram suas roupas molhadas e lançaram olhares irritados para o causador do acidente. Mas o problema maior foi quando o líquido, que escorreu sem rumo certo pelo chão, atingiu a barra das vestes da Dragão de Metal, a única garota com o título, Sumerin Gran’Otto.
Não fora necessariamente culpa do aluno descuidado, já que ela própria entrara majestosamente no refeitório e não reparou onde pisava. Mas a expressão de choque dela, seguida por uma sombra de choro, foi o suficiente para mobilizar o restante dos Dragões. Sem reagir e sem se defender, o aluno somente esperou pela sua sentença quando dois deles se aproximaram, pegando jarras de sucos da outra mesa. Sem pena alguma, o empurraram para o chão e despejaram o conteúdo doce na cabeça do garoto, seguido pelos próprios recipientes.
— Me desculpe. – ele pediu, pingando o suco que escorria de forma melada do seu cabelo e fazendo uma careta de dor elas batidas da jarra. – Sinto muitíssimo, Dragão de Metal. Prometo que...
Mas não pôde terminar. O líder dos Dragões se aproximou e com um gesto ordenou que ele ficasse de pé. Obedecendo e temendo pelo que poderia acontecer, o aluno se levantou na medida em que seus joelhos conseguiram o manter firme. O Dragão de Fogo fechou o punho na frente dele e ficou dessa forma, como se pensasse na melhor maneira de usá-lo. Por um momento Garo-lin prendeu a respiração, e o pensamentos de se ele usaria ou não seu almaki em uma situação daquelas percorreu por sua mente. Então, decidindo, o líder deu um soco na boca do estômago do aluno com a outra mão, fazendo com que ele se dobrasse sem ar e caísse no chão, se encolhendo de dor.
— Irritante. – o dragão grunhiu, dando como concluído aquele ato, saindo e sendo seguido pelos outros, um deles consolando a garota que erguia as barras da veste para não piorar a situação.
— Irritante?! Quem é irritante?! – Garo-lin cravou as unhas no musgo que cobria as pedras da amurada. – Quem são os irritantes estúpidos que batem em alguém por um simples acidente?! Mesmo sendo um orgulhoso aluno do Instituto Dul’Maojin ele ainda pediu desculpas! Não foi o suficiente?!
Ela se ergueu na ponta dos pés, respirou fundo e gritou com toda a intensidade que conseguiu:
— Dragões não são os donos do mundo!
—Grunf, verdade?
Garo-lin deu um pulo, por pouco não caindo pelas pedras escorregadias, e olhou em volta assustada, vasculhando o local. Não podia haver ninguém ali. Ela teria percebido se alguém chegasse, não tinha como evitar aquele tapete de folhas barulhentas na entrada e o som inconfundível de passos pelos degraus. Então, quando estava quase convencida de que imaginara aquilo, uma risada acima dela começou abafada e logo virou uma gargalhada rosnada:
— E se fosse um dragão? O que você faria, garota inacreditável?
A voz soprada, estranha de se ouvir só não foi mais assustadora do que a visão em si. Encarando-a, logo acima dela em um precário vão destruído da parede de pedras, estava o ser mais bizarro que ela já tinha visto. Lembrava muito um gato, cerca de três vezes maior que um normal, e com um aspecto mais selvagem. Tinha as mesmas feições felinas, as orelhas eram parecidas com as de um morcego, cada uma com um conjunto de argolas de metal nas pontas. Os olhos eram de um amarelo escuro, muito mais forte que os dela e o pelo era espesso, rajado de preto e branco. No pescoço, meio encoberta, havia uma coleira de couro, e sob suas patas cruzadas pendia um pingente de vidro. Também havia algo branco e peludo nas suas costas, que o cobria como um casco, mas que não se podia identificar na distância em que estava.
Sendo uma vilashi que crescera cercada de florestas e criações, Garo-lin estava habituada a conviver com animais, e sabia que não conhecia nem a metade das espécies que havia somente dentro do Vale Interior. Também já lera muito sobre eles no Guarda-livros do Instituto. Mas, definitivamente nenhum dos animais que conhecia ou esperava conhecer, olharia nos seus olhos e falaria como se fossem iguais a ela.
— Surpresa? – ele perguntou, parecendo estar se divertindo com a reação. – Realmente é uma... Como dizem? Vilashi. Tão ignorante quanto uma árvore seca.
Garo-lin percebeu como era fácil acabar com o equilíbrio daquela parede semi-queimada, apenas com um chute firme logo a baixo de onde ele estava. Mas a intensidade da ofensa não era párea para a sua curiosidade, e não foi o suficiente para que ela quisesse se arriscar a terminar de desmoronar o lugar.
— Eles são sim os donos do mundo e poderiam ter feito muito pior. – ele continuou o assunto de antes.
— Isso não é certo! Mesmo se eles queimassem aquele garoto, eles nã- – ela conseguiu fechar a boca antes que fosse tarde demais.
Sim, não era comum falar com um animal. Mas, mais anormal ainda seria ela maldizer os Dragões em voz alta, mesmo que aquele fosse o seu único ouvinte.
Percebendo o desespero dela, o gato apenas bocejou e disse preguiçosamente esticando as patas:
— Sabe, escolhi esse espaço para as minhas sonecas e não é tolerável que alguém como você venha até aqui me atrapalhar. Portanto, senão quiser que algum dragão saiba sobre suas opiniões, desapareça daqui.
Pronto, ela não só havia sido insultada por um gato esnobe como acabara de receber uma ameaça esnobe.
— E por acaso essa parede é sua? Tem seu nome em algum lugar? – ela retrucou, cruzando os braços, com toda a dignidade que seu pouco tamanho e coragem lhe permitiam.
Em resposta, limitou-se a levantar, esticar as patas, afiar as garras nas pedras e então saltar para um patamar acima, deitando novamente.
—Vou precisar contar até três para que saia, vilashi?
Então, com um grande suspiro ela achou melhor ceder. Não queria arrumar encrenca com quem quer que fosse e conseguir motivos para ser convidada a se retirar do Instituto. Por isso, deu meia volta e estava saindo, quando o ouviu se despedindo:
— E não volte mais.
— Sim, senhor. – ela fez uma meia reverência almakin, enfeitada com uma careta, e se afastou, frisando mentalmente que da próxima vez iria conferir para ter certeza de que não havia alguém, fosse o que fosse, tirando uma soneca naquelas paredes.

***

Garo-lin observou a aluna nova lançar um olhar incerto pelos os lugares vazios na sala e ficou atenta quando ela escolheu aleatoriamente uma mesa para sentar. Kidari Chanboni não só estava perdida em um mundo totalmente novo como não tinha a mínima ideia de quão perigoso esse mundo era, e isso fazia com que seus cinco anos de experiência no Instituto ecoassem deixando sua consciência alerta.
Sabendo que ninguém mais ali além dela mesma pensaria em tomar uma atitude, a garota se levantou do seu lugar de costume, no fundo da sala, e seguiu cautelosamente até onde a estrangeira estava:
— Olá. – Garo-lin cumprimentou com certo receio já que se tratava de uma desconhecida, e esperou por uma resposta.
Com um susto, a aluna nova levantou os olhos e a encarou por um tempo, e essa foi a primeira vez que Garo-lin viu de perto como era alguém de Além-mar.
Seus cabelos eram negro-esverdeados e cresciam de uma forma diferente, como se vários fios se enroscassem e formassem um só, ficando com uma aparência de tubos, que se somavam em várias camadas. Kidari prendia parcialmente essas camadas com presilhas coloridas, deixando amostra orelhas em formato distintos, mais largas e pontudas. Sua pele era mais escura do que os alunos que vinham da região do Grande Mar, e tinha uma tonalidade como a de areia, que caia muito bem com seus grandes olhos verdes, a única coisa que não era tão fora do conceito de comum, apesar de serem mais redondos e puxados nos cantos. Ela era mais alta que todas as alunas almakins, e por consequência tinha o dobro da altura de Garo-lin. Kidari Chanboni era exatamente o que o mestre de sala havia anunciado: uma kodorin manejadora de raio, vinda de fora de Almakia, a primeira no Instituto.
A notícia de uma estrangeira manejadora não surpreendeu os demais alunos como surpreendeu Garo-lin. Ela poderia ser a única vilashi no Instituto, mas alguém com almaki vinda de fora de Almakia era algo impensável até então. Entretanto, o fato foi encarado pelo demais como nada, e o mestre agiu da mesma forma, apenas deixando a garota na sala, dando o aviso rapidamente e saindo com se tivesse coisas mais importantes para fazer.
Por sua vez, a estrangeira percebera aquela recepção indiferente e não parecia saber como agir diante disso. E quando compreendeu que a pessoa à sua frente de alguma forma tentava ajudar, ela abriu um sorriso enorme e disse:
— Olá! Kidari sou. – revelando não só um sotaque facilmente detectável, como o fato de que não era alguém que dominava perfeitamente a língua que estava usando. – Muito prazer conhecer... – o sorriso dela desapareceu ao perceber que algo faltava. – Não nome contar.
Garo-lin não pôde evitar sorrir com a maneira simples que ela falara. Sorriu pela primeira vez em muito tempo, e foi um tanto estranho.
Já havia se acostumado com o fato de ser séria e guardar seus pensamentos para si dentro do Instituto. Sorrir com algo que alguém dali fazia era novidade e um tanto perturbador.
— Desculpa. Meu nome é Garo-lin, Garo-lin Colinpis, do Vale Interior Baixo, manejadora de fogo. – ela disse devagar, não só esperando que a outra entendesse, mas também por ser difícil perde o receio de se apresentar daquela maneira.
— De fogo? – ela repetiu a informação, como se fosse algo extraordinário. – Eu muito quero ver!
A maneira sincera com que a garota de olhos verdes falou aquilo a tranquilizou, e até se atreveu a contar como se estivesse mesmo em uma conversa normal:
— Uma hora ou outra você irá ver, mas não serei eu... Não tenho autorização para usar almaki sem supervisão.
— Não poder? – ela pareceu desapontada, olhando para as próprias mãos – Kidari não poder?
— Não se preocupe. – Garo-lin se apressou em explicar ao perceber uma movimentação na entrada da sala. – Se você começou o quinto nível, é sinal que logo poderá usar seu almaki. Mas agora temos que sair da-
— O que pensa que está fazendo no meu lugar, kodorin?
Garo-lin se arrependeu por ter enrolado tanto e não ter ido direto ao assunto desde o início. Então, se segurando para agir de forma calma, virou para uma das suas colegas de classe, se curvou em respeito a uma ordem superior a sua e explicou em um resmungo:
— Desculpe, eu estava dizendo exatamente isso para ela. – logo em seguida pegou Kidari pelo braço e a fez se levantar. – Venha comigo.
— Isso mesmo. – disse a dona do lugar, e acrescentou com um tom de deboche – A esconda na sua toca, vilashi!
As outras garotas que a acompanhavam deram risadinhas e largaram seus livros de qualquer maneira naquela e nas mesas em volta, continuando com comentários maldosos.
— Primeira lição do Instituto Dul’Maojin: não se importe com que os outros dizem. – Garo-lin comentou com Kidari, a conduzindo até o fundo da sala, onde havia mais lugares vagos. – Acredite, elas não suportariam viver um dia sem falar mal de alguém, e infelizmente você não vai poder fugir disso por pelo menos... Alguns dias. – ela tentou escondera desanimadora verdade. Pelo contexto, ela parecia ter entendido o geral da situação, mas não o suficiente para desmanchar a expressão de perdida.
— Que chamam Garo-lin? – perguntou confusa.
— Vilashi... Basicamente que eu não sou uma almakin. – a garota explicou, lançado um olhar em volta para ter certeza de que ninguém prestava atenção nelas. – Não tenho uma descendência em Almakia... Minha família é do povo simples, que vive na Região dos Vales e serve ao Governo Real.
— Igual Kidari?! – ela perguntou com um sorriso depois de processar as frases, parecendo muito feliz com essa possibilidade.
— De certa forma... Sim, quanto ao fato de nós duas termos um almaki. E não, pelas nossas formas de estarmos aqui.
— Como? – ela parecia compreender todas as palavras usadas, mas não encontrava um significado claro para a junção de todas elas.
— Pelo o que entendi, você está aqui por questões políticas, já que Almakia quer manter a boa relação com as Fronteiras. Apesar de ser um fato surpreendente um almakin estrangeiro... – ela percebeu que se empolgara em sua divagação sobre o assunto, e concluiu rapidamente. – Eu estou aqui para ser controlada.
Pelo olhar meio vago da garota, ela ainda não havia compreendido. Mas não pôde explicar de forma mais clara, já que o professor voltara com seu equipamento para a lição e pedira a atenção de todos.
— Não se preocupe. Terá muito tempo para entender como sobreviver dentro dos Portões Negros.
Em resposta, a estrangeira abriu outro imenso sorriso, e Garo-lin involuntariamente o imitou em uma proporção bem menor, percebendo que não era tão difícil assim e se lembrando de um tempo antes do Instituto.

Capítulo 2
Os Dragões de Almakia

Ter alguém andando ao seu lado, alguém que fazia perguntas e esperava respostas, alguém que a olhava como uma colega e não como uma pedra da parede, era uma novidade para Garo-lin. E ela gostara da ideia. Kidari era esperta, apesar de desorientada. Mesmo não sabendo que realidade existia em Kodo, era visível que Almakia para a estrangeira representava um lugar muito diferente de tudo o que estava acostumada.
A língua não era realmente um obstáculo, e ela não só se esforçava em aprender como aprendia rápido. Assim, em menos de quatro horas, os diálogos entre elas já fluía de uma maneira muito perto do aceitável.
Garo-lin não conseguiu entender todos os pontos da história dela, já que kodorin usava palavras que não despertavam correspondentes em sua cabeça, mas teve um panorama geral: Kidari demonstrara ter almaki ainda quando pequena, e só agora seu pai conversara com almakins para que a decisão de colocá-la no Instituto fosse tomada. Com certeza não havia sido uma decisão fácil: por ela já ter passado da idade limite em que os alunos eram admitidos no Instituto.
Ao final das aulas, Garo-lin guiava a nova aluna pelos corredores e anexos do Instituto, explicando as direções e a tranquilizando de que logo conheceria o lugar tão bem a ponto de não confundir os corredores e se perder. Depois de percorrerem todos os pontos principais, só faltava a orientar pelas alas de convivência dos alunos, o que incluía os prédios dos dormitórios.
Ao ter lido a informação de onde ela seria acomodada no papel assinado pela própria Diretora do Instituto, ficou bem expresso de que a única coisa contra Kidari naquela escola era o fato de não ser uma almakin pura de Almakia, já que poder e dinheiro deviam ser coisas que família dela tinha aos montes. Ela teria um dos dormitórios reservados para alunos importantes, perto dos aposentos da Dragão de Metal. Seria uma realidade bem diferente da de Garo-lin, que ocupava o último quarto, atrás da ala comum dos dormitórios feminino, o que a fazia parecer muito mais uma criada do local do que propriamente uma aluna. E, se comparasse o seu quarto com o que seria dado para Kidari, o dela com certeza estava muito mais próximo de um guarda-coisas. Mas esse fato não fazia muita diferença, já que via uma vantagem enorme em seu lugarzinho no Instituto: a deixava afastada das outras meninas e era o mais perto do portão, o que lhe permitia evitar toda a grande movimentação das alunas.
— Muito longe. – Kidari soltou com um ofego, visivelmente cansada de tanto andar.
— As coisas aqui foram feitas para serem imensas, mas logo você se acostuma. – Garo-lin tentou animá-la. – Não temos tantas aulas no quinto nível e logo... Cuidado!
Aquela reação era praticamente automática para Garo-lin. Ela agarrou Kidari pelas vestes e a puxou consigo em um pequeno corredor que levava a uma saída lateral para as fontes de um jardim, e ali ficaram exprimidas contra a parede escondidas por uma coluna.
— O quê...
— Shiiii! – ela fez para a colega, que ficou quieta e se calou obediente, olhando assustada para o portal do corredor onde a pouco elas estavam andando.
Logo algumas vozes exclamaram pela direção de onde haviam vindo e então o motivo apareceu: um grupo de cinco alunos passou pelo corredor e continuaram andando sem notá-las. Os outros alunos abriam caminho para eles e faziam questão de reverenciar, gesto formal que era obrigatório para com almakins mais velhos já formados pelo Instituto.
— Quem são? – Kidari perguntou, assim que Garo-lin a soltou e elas voltaram ao corredor principal para espiar por entre os alunos que se aglomeravam como um plateia.
— São os Dragões. – ela informou e esperou pela reação entusiasmada da colega, como era comum à maioria das pessoas. – Os Dragões irão ditar o futuro de Almakia e Almakia será o que eles forem... Não conhece essa frase?
Entretanto, pela expressão dela, parecia que não. Garo-lin demorou um tempo para perceber esse fato irreal e perguntar com um tom de descrença:
— Não conhece os Dragões?
— Acho... Ouvir falar Dragões... Mas...
Garo-lin compreendeu que estava diante de uma pessoa que não conhecia a fama dos herdeiros. Talvez a única do mundo todo. Fato imensamente mais raro do que uma vilashi ou uma estrangeira possuir um almaki.
A única coisa que conseguiu fazer foi soltar todo o ar junto com um:
— Inacreditável.
— Importantes? – a outra perguntou preocupada, como se tivesse cometido um erro grave.
— Bom, – Garo-lin tentou pensar por onde começaria – eles são importantes. – e engoliu o mas acho que Almakia é que dá muita importância para eles que vinha na continuação do seu pensamento.
Mesmo não sendo algo agradável de fazer, não podia deixar que a kodorin andasse pelo Instituto sem ter noção de quem eram os Dragões. Seria algo extremamente perigoso e cruel. Então, com um suspiro, conduziu-a em passos lentos pelo corredor, explicando em voz baixa enquanto todas as atenções estavam voltadas para o grupo que se afastava:
— Está vendo aquele mais claro do que todos, com os cabelos de duas cores? – ela fez gestos para a garota compreender. – Cabelos escuros embaixo, brancos e espetados em cima? Na ponta, o maior deles. Viu?
Kidari assentiu, prestando atenção no grupo que ia pelo corredor.
— É o herdeiro Sfairul, Benar. Um almakin de vento, primeira ordem. Ele vem das montanhas frias do norte, e a sua família são os almakins dominantes de lá. – ela olhou em volta para ter certeza de quem ninguém a ouvia e moderou o tom de voz. – Mas na verdade ele descende dos antigos Piratas da Neve, e todo mundo respeita os Sfairul por ter medo do que eles podem fazer. Existem histórias sinistras ligadas a esse nome!
Kidari observando o garoto conversando com os outros Dragões, sorrindo despreocupadamente, e comentou:
— Não parece ser sinistro.
Sem retrucar, Garo-lin continuou:
— Aquele do lado, de cabelos negros, é o herdeiro Zawhart, Vinshu, almakin de raio, primeira ordem. Sua família é daqui da região, e são almakins que guardam os Segredos de cura. Vinshu é um gênio, mas é tão arrogante quanto inteligente. Ele despreza qualquer um que não esteja minimamente dentro dos seus padrões de aceitável... Por isso, só conversa com os outros Dragões e ninguém mais.
— Almaki igual meu! – Kidari disse contente, parecendo só ter ouvido essa parte de todo o discurso.
— Sim. – Garo-lin, suspirou, achando melhor concordar. – Então apontou para a menina do grupo, de pele escura e com os cabelos acinzentados presos em pequenas tranças que ela mantinha em um penteado elaborado. Está vendo a garota com eles? É a Sumerin Gran’Otto, Dragão de Metal, primeira ordem, a única menina dentro dos Dragões. Herdeira da maior família de construtores do Vale das Pedras. Os Gran’Otto sabem como manejar vários materiais ao mesmo tempo. Foram os Gran’Otto que construíram o conjunto de pontes que ligam os Vales Altos e praticamente todas as rotas de ligações de Almakia.
Essa informação Kidari processou por mais tempo, já que a geografia de Almakia não parecia ser um ponto forte dela.
— Está vendo aquele de cabelos claros e esbranquiçados que está junto com a Gran’Otto? É Nu’lian Gillion, Dragão de Água, primeira ordem, também chamado de Dragão Real. Ele pertence à família real, mas não está na linha direta de sucessão. Ele é o único almakin dentro dos Gillion. Contam que a mãe dele era uma manejadora da Família de Água, que morreu quando ele ainda era pequeno.
— Hum... – Kidari balançou a cabeça, como se estivesse mentalmente repetindo os nomes e os ligando às pessoas que via, até que se deu conta de que ainda faltava um. – Aquele?
Ela apontou para o que estava no meio do grupo, um pouco à frente dos outros. Ele se destacava pelo modo de andar, como se não se importasse em atropelar quem ficasse no caminho, e pelo emaranhado de cabelos castanho-avermelhados, formados por tentativas de cachos que se espetavam para todos os lados criando uma ilusão de tentáculos.
— Aquele é o pior de todos e você deve ficar fora do caminho dele sempre! Entendeu, Kidari?
A garota concordou assustada diante da firmeza da colega, e Garo-lin continuou:
— Krission Dul’Maojin. Ele é o Líder dos Dragões do Instituto Dul’Maojin e é uma autoridade aqui dentro, como o nome já diz. Nem professores, nem mestres, nem Governo Real podem mandar nele. Os Dul’Maojin são os almakins mais poderosos de Almakia e o Dragão de Fogo é que estará no comando daqui alguns anos. Ninguém quer ficar contra ele... Como somos o pior tipo aqui, é melhor ficarmos fora do caminho. Se você ficar, ele vai queimar você. – ela fez um gesto de esmagar com as mãos, para que a garota entendesse a expressão.
Então, a nova aluna olhou para o grupo no final do corredor, concluindo:
— Não parecer ruins.
— Acredite, Kidari. Fique longe deles e poderá enfrentar Instituto sem problemas.
— Kidari não precisar Dragões. – ela disse confiante. – Garo-lin ser bastante.
Garo-lin se preocupou em a garota achar presunção da sua parte julgar os Dragões daquela forma extrema, mas seria melhor para ela entender como as coisas funcionavam ali dentro através de palavras, e não na prática. Porém a resposta positiva a fez sorrir, e o pensamento de finalmente ter uma colega, desde que entrara no Instituto, era como uma brisa fresca que abria caminho por entre as brumas pesadas que os Dragões deixavam à sua passagem.
— Vamos, vou mostrar o caminho dos dormitórios.
***

Aquela semana passara tranquilamente.
Como Kidari já havia demonstrado em seu primeiro dia, era esperta. Entretanto, ela tinha maneiras estranhas, aliás, estrangeiras seria uma palavra mais adequada.
A garota apresentava um jeito próprio de servir suas refeições. Apesar de não parecer ter problemas com alimentos diferentes dos que estava acostumada, ela fazia misturas díspares, e muitas vezes Garo-lin evitou por pouco que ela misturasse vinagre ao seu pedaço de bolo na frente das outras alunas. Ela também costumava colocar sal nas bebidas doces e insistia em fazer careta, dizendo que o açúcar estragava o gosto das frutas.
Muitas vezes Garo-lin a surpreendeu falando sozinha, e em algumas conversas entre as duas parecia se referir a uma terceira pessoa, que sempre estava com ela mesmo não havendo ninguém. Garo-lin ligava isso a algum defeito na sua aquisição da linguagem e tentava corrigi-la, sem resultados. Porém, naquela manhã essa teoria do defeito caíra por terra.
Ela estranhou que a garota não tivesse aparecido para o café da manhã e nas aulas matinais, e assim que foi liberada para o intervalo correu pelos corredores, vasculhando as salas, procurando. Foi através de uma janela do Guarda-livros que avistou Kidari no pátio abaixo, parecendo buscar algo:
—Shion! Chega esconder, por favor!... Shion!
— De novo ela está gritando?!
Garo-lin ouviu o comentário irritado de alunos perto da janela, e se apressou em correr e descer as escadas daquele pavilhão aos pulos.
Precisava pará-la antes que alguém resolvesse tomar uma providência.
— O que aconteceu? – ela perguntou quando a alcançou, ofegando.
Assim que a viu, Kidari agarrou-se nela, soluçando.
— Kidari chamar, Shion não vir! Chamar toda manhã, Shion não vir! Kidari não saber procurar onde mais! Shion nunca longe e não poder ouvir!
Ela já tinha ouvido aquela palavra antes nas conversas entre elas, mas agora se dava conta que se referia a alguém, que era um nome.
— Seria um começo se você dissesse quem é esse Shion. – pediu Garo-lin, conseguindo se soltar dela.
— Nunca viu Shion? – a kodorin perguntou, estranhando, e tentou explicar com gestos – Sempre comigo... Meu lado.
Agora Garo-lin ficara confusa: se alguém estivesse sempre com a Kidari, além dela mesma, era óbvio que notaria.
— Você acha que ele não existe, não é? – a garota perguntou comum tom sentido.
Garo-lin estava quase chegando a essa conclusão nos seus pensamentos, mas a maneira como a garota dissera aquilo ressoou uma mágoa já antiga.
— Shion existir sim! – ela afirmou antes que Garo-lin pudesse dizer qualquer coisa. – Diwari dizer Shion não estar, Shion esta sim. Shion gostar brincar, divertido esconder outros achar não existe.
— Então... Ele está se escondendo de propósito? – Garo-lin tentou entender.
— Shion fazer. – contou ela com um suspiro. – Não muito tempo. Não ver Shion desde... ela fez um gesto amplo com as mãos, indicando que não lembrava a palavra que precisava falar para indicara medida de tempo.
— Ele pode ter ido passear. – Garo-lin tentou acalmá-la, ela própria falando calmamente apesar da estranheza com a situação, sem deixar de investigar sobre quem era que estavam falando.
— Não sem Kidari – e acrescentou com uma certeza absoluta. – Sempre com Kidari!
— Ele não está com você agora.
— Esconder, nunca fugir.
Garo-lin analisou a expressão confiante dela, totalmente exata do que dizia. Entretanto, só havia uma maneira de descobrir possibilidades de onde o tal Shion tivesse ido, e só conseguiria isso a sondando com perguntas.
— E se ele... – mas não terminou.
Percebeu que os olhos de Kidari ficaram desfocados e escureceram a ponto de quase se tornarem negros. Sua boca entreabriu, mas não houve som algum, e ela não parecia nem mesmo respirar.
— Kidari? – Garo-lin perguntou assustada.
E então, tão de repente como começara, aquele transe passou e a garota olhou alarmada para um lado, atenta.
— Campo! – ela exclamou.
Sem explicar, agarrou o braço de Garo-lin, levando-a consigo na sua corrida desembalada.
***

Ao chegarem ao amplo campo do Instituto, geralmente usado para o pouso das mombélulas treinadas – o principal meio de transporte dos almakins – havia uma pequena multidão reunida, aparentemente assistindo algo interessante. Ao avistar aquele agrupamento, Kidari prendeu o fôlego e correu com tudo o que tinha.
Chegando ao redor deles, soltou a mão de Garo-lin e se enfiou por entre os alunos, habilmente abrindo caminho até o meio da confusão.
Os alunos faziam algazarra e aplaudiam, com as meninas gritando entusiasmadas entre risadas altas. Pelo contexto, Garo-lin calculou que deveria ser mais uma injustiça dos Dragões e, como fazia parte do seu comportamento moldado na indiferença do Instituto Dul’Maojin, ficou de fora analisando e esperando o melhor momento para escapar sem ser percebida. Porém, quando encontrou o momento e já estava dando passos para sair do campo, reconheceu o grito estridente de Kidari:
— Shion! Soltar Shion!
Mais tarde, quando Garo-lin pensava em como tudo havia começado, sabia que se naquela fração de segundos não tivesse hesitado em fugir e não tivesse seguido o seu instinto de ajudar, sua vida poderia ter sido diferente.
O fato é que ela não fugiu. O grito desesperado fez com que suas mãos soltassem os livros que carregava e seus pés inconscientemente dessem meia volta. Então se espremeu para passar pela massa compacta de alunos, e o que viu ao chegar ao centro da confusão deixou-a chocada.
Como deduzira, os Dragões estavam lá. A herdeira Gran’Otto permanecia na plateia, como os demais alunos. Ao lado dela estava Dragão de Água, que também se limitava a assistir como alguém que fora obrigado a permanecer, apesar do desinteresse. Quem realmente estava aprontando eram os outros três. Os Dragões de Vento e de Raio seguravam algo que se debatia pelo que pareciam ser grandes asas. Em frente a eles estava o Dragão de Fogo, o líder, apontando a mão para o que os outros seguravam. Ele deu um sorriso maldoso a ouvir o grito e perguntou:
— Está ousando me mandar parar, kodorin?
Foi quando Garo-lin percebeu que ele falava com Kidari, que estava sendo detida por alunos. Ela estava chorando e ofegava com o esforço de se livrar daqueles que a impediam de avançar.
— Não queimar Shion! – ela pediu com um soluço.
—Não se preocupe, Kidari! Ele não tem coragem para fazer! – rosnou a vítima.
— Pensa mesmo que eu não faço, aberração?
Então aquele era o Shion. Se Garo-lin não estivesse tão chocada com o que sabia que iria acontecer, ela teria ficado surpresa em ver ali o gato arrogante que praticamente a expulsara do seu refúgio dias atrás. Estava chamuscado e ferido, como se tivesse lutado antes de ser capturado.
— Provocar não, Shion! – a garota pediu chorando com mais intensidade, mas tudo o que o gato fez foi manter seu olhar desafiador para o líder dos Dragões.
Então, tudo aconteceu ao mesmo tempo. No instante em que Dul’Maojin movimentou sua mão no gesto que ela sabia que resultaria em uma explosão do seu almaki de fogo, Kidari deu um grito agudo tentando se soltar mais uma vez e Garo-lin avançou alguns passos usando o tom de voz mais alto que conseguiu desenterrar da sua garganta:
— Nãããããão!
Todos – realmente todos os que estavam ali – incluindo a vítima e atacante, a encararam surpresos, e imediatamente ela se arrependeu do fundo do seu almaki.
Aquele fora exatamente o momento em que Garo-lin descartara todos seus sofridos anos de silêncio e tolerância. Tudo pelo simples fato de uma garota indefesa e do seu bichinho de estimação – que apesar de arrogante era evidentemente amado pela dona – estavam nas garras do ditador do Instituto, sem esperanças de socorro. Por tão pouco, ela com facilidade fez o que evitara fazer desde seus primeiros dias além dos Portões Negros: enfrentara os Dragões em uma das suas demonstrações de abuso.
Agora, por mais que ela insistisse que fora por uma razão nobre e por mais que a sua consciência aplaudisse sua coragem, ninguém podia negar o fato de ela ser uma vilashi sem importância, e teve que se encolher diante da atmosfera pesada que surgira em sua volta.
Então, como sua situação não poderia ficar pior, tentou ao menos amenizá-la:
— Poderia não fazer isso com ele... Por favor? – pediu, sendo mais educada e humilde possível. – Ele é importante para Kidari.
Porém, o que recebeu em resposta foi o silêncio do líder dos Dragões, que mantinha uma expressão de quem não acreditava no que acabara de presenciar. Então, algo estalou em volta dele, como se estivesse prestes a manejar, uma manifestação de almaki que denunciava claramente o quanto ele estava furioso. Nesse tempo, aproveitando a distração geral, Shion encolheu as asas, fazendo com que elas escorregassem pelas mãos dos garotos, e então com um impulso assim que sua patas tocaram o chão, ele alçou voo, fugindo para fora do alcance deles.
Um frio percorreu a espinha de Garo-lin. A vítima havia fugido, sua dona estava caída na grama sem forças para mais nada que fosse soluçar, e ela seria inevitavelmente o alvo substituto. Não poderia correr, não havia como fugir e ninguém iria lhe socorrer. O líder dos Dragões poderia acabar com ela em instantes e ninguém dentro do Instituto se importaria.
Entretanto, contrariando todas as certezas mais absolutas, tudo o que o Dragão de Fogo fez foi abaixar a sua mão e guardá-la no bolso das vestes. Então encarou a vilashi de uma forma carregada, como se só estivesse lhe dando piedosamente um tempo para um último suspiro.
Garo-lin prendeu a respiração e fechou os olhos, se preparando para o que quer que viesse.
Contudo, nada veio.
Ao pestanejar aflita e olhar para frente, viu que Krission Dul’Maojin lhe dera as costas e saia silenciosamente, sendo seguido pelo restante do seu grupo que pareciam tão atônitos quanto ela com a situação. Por um tempo, a inquietação dos alunos com a saída dos Dragões soou em volta de Garo-lin como se fosse uma massa disforme e afastada, tamanha era a sua agitação mental. E quando todos os outros alunos se dispersaram, e só restaram no campo ela e uma Kidari soluçante, Garo-lin também desabou no chão querendo simplesmente cavar um buraco e não sair nunca mais de dentro dele.
Então, como uma luz no meio da escuridão que estavam seus pensamentos, uma pequena chama quente surgiu, acompanhada de uma voz:
—Obrigada salvar Shion, Garo. – murmurou Kidari.
Diante das palavras sinceras que a garota lhe dava, teve a certeza de pela primeira vez em anos tinha conseguido ser ela mesma de volta, e se sentiu um tanto satisfeita – mesmo que ainda apavorada. Se fizesse parte do seu destino ser expulsa pelos Dragões depois do que acontecera, não se esconderia.
Não importava o que teria que enfrentar e como o resto do Instituto iria reagir ao que acontecera. Ela seria Garo-lin Colinpis, uma entre milhares e orgulhosa de ser a simples vilashi que atravessou os Portões Negros do Instituto com seu próprio poder almaki. Apesar do risco que correra, pôde perceber o quanto se sentia viva com aquela ousadia.


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